Capítulo 23 - parte 09

903 63 10
                                    


- Eu a odeio, não quis em nenhum momento que nascesse, a culpa foi de Alfonso que me obrigou a permitir que aquela pirralha nascesse. – falou com desdém e alguns jurados ouviam boquiabertos.

- O que te levou a viciá-la em hidrocona? – Willian incitou a próxima pergunta, não dando muito tempo a ela.

- Lucrécia me apresentou a droga há alguns anos, e quando soube o que ela causaria em um organismo infantil, tive certeza de que seria assim que eu acabaria com a vida de Júlia.

- Há quanto tempo conhece Lucrécia? – o advogado indagou curioso.

- Eu a conheci quando tinha sete anos, quando ainda vivia no orfanato. – falou lembrando do dia em que a conheceu - Ela foi lá pra ver outra criança, a filha bastarda do tio Enrique. – falou abrindo um sorriso sarcástico e olhou para Anahí.

Anahi arregalou os olhos. Porque ela estaria envolvida naquilo? Burnurinhos começaram na platéia.

- Ordem!! - o juiz pediu batedo o martelo.

- Protesto! Ela está fugindo do foco! - o advogado de Bárbara reclamou.

- Se tenho que falar a verdade, quero contar tudo desde o inicio. – Bárbara falou alto, fitou Lucrécia um pouco ao fundo e sorriu - Não vou pra cadeia sozinha, há mais pessoas envolvidas.

- Protesto negado! Continue senhorita Bárbara. – o juiz falou dando uma batida sobre a mesa com o martelo.

Bárbara sorriu triunfante.

- E como eu não tinha um bom relacionamento com a filha do tio Enrique, Lucrécia prometeu que me tiraria de lá se eu fizesse da vida daquela menina um inferno. E eu aceitei. – ela sorriu cínica, empinou o nariz e olhou para Anahí novamente - Com a ajuda de Beatriz infernizamos a vida da Anahi. – revelou - E a tia Lucrecia proibiu qie ela fosse adotada, queria que ela sofresse. Um tempo depois fomos adotadas por duas familias, eu pela irmã da tia Lucrecia, e a Beatriz por um casal de amigos da família de minha tia. – ela tomou um gole de agua, puxou o ar - E como era da familia foi assim que conheci o Alfonso. E me apaixonei por ele. – confessou, tragou saliva, fitou o moreno a sua frente - Alfonso me seduziu, me enganou. Dizia me amar, mas a unica coisa que ele queria era ter um filho - disse com magoa na voz - Eu sempre detestei crianças, e por amor a ele eu dei esse filho. Júlia nasceu prematura, tive depressão pós parto, eu não a queria. – Bárbara pausou, cerrou as mãos em punho - Eu tentei sufocar ela enquanto dormia, e Fátima impediu, depois daquilo Alfonso me expulsou de sua vida me obrigando a ficar longe dele e de Júlia. – ela respirou fundo, olhou para Enrique - Então o tio Enrique me mandou para cuidar do instituto. Em minha estadia lá, descobri que Enrique mantinha um relacionamento extra conjugal com uma das funcionárias. – contou e alguns sussurros puderam ser ouvidos - E desse relacionamento nasceu o Felipe.

- Já basta Bárbara! - Lucrécia gritou do meio da platéia - Chega de fazer mal aos outros.

- Como eu disse – Bárbara falou alto, ignorando Lucrécia - Felipe nasceu de outro relacionamento, e acho que nem o Júnior é filho tia Lúcrécia - ela riu debochada.

- Continue. – o juiz falou.

- Lucrécia descobriu, forjou uma gravidez e quando o menino nasceu ela matou a amante aos poucos, drogando-a com hidrocona.

Um "oh" saiu praticamente em coro e cochichos tomaram conta do tribunal.

- Silêncio! Ordem! – o juiz pediu batendo seu martelo.

- Lucrécia que me passou o contato para que eu usasse em Júlia. – Bárbara continuou - Ela sabia que faria Anahi sofrer, e eu tinha de me vingar de Alfonso. – Bárbara expirou vagarosamente, encarou Anahí - Cuidado com o seu bebê Anahi, Lucrécia está a solta. – ameaçou, gargalhou e Anahí abraçou a barriga instintivamente.

Alfonso virou-se para olhá-la e a viu estática.

- Ninguém fará mal ao nosso bebê. - ele sussurrou tentando acalmá-la.

- Não tenho mais perguntas senhor juiz. – Wilian sorriu vencedor, aquilo havia saído melhor do que encomenda.

Enrique estava pasmo, levou a mão ao coração. A dor era grande, mas ele teria que ser forte. Porque em sua vida havia tanta tristeza e decepção?

Algumas testemunhas foram ouvidas, inclusive Beatriz e outros funcionários do instituto. Optaram por não dar muitos detalhes de como a menor fora torturada, a fim de evitar mais dor na família. Bárbara foi condenada a 56 anos, 9 meses e 28 dias, sem direito a redução de pena, e Beatriz a 9 anos e 2 meses.

Alfonso respirou aliviado, foi até a loira e de mãos dadas caminharam em direção a saída.

- Anahí! – Enrique chamou e Anahi virou-se para encará-lo.

- Por hoje basta Enrique, Any precisa descansar. – Alfonso pediu, gesticulando com a mão.

- Filha, me perdoa, por favor. – Enrique implorou, ignorando o pedido de Alfonso.

Enrique abriu os braços aguardando um pequeno gesto dela, a loira olhou-o sem saber o que fazer. Algumas pessoas que passavam por ali, pararam para observavar, atentas.

- Me perdoa. - ele sussurrou e algumas lágrimas começaram a cair.

Anahi sentiu seu coração apertar. O pai era uma vítima das maldades de Lucrecia, e a protegeu, mesmo estando longe. Ela mesma ouvira algumas coisas mais cedo quando fora no escritório.

- Eu te odiei a minha vida toda porque me rejeitou. – a loira falou angustiada.

- Eu queria você, mas Lucrécia foi enfática quando disse que te machucaria se eu convivesse contigo.

Enrique seguia de braços abertos, Anahi comprimiu os lábios e lágrimas rolaram por sua face também. Encarou o pai ali a sua frente de braços abertos, implorando por seu perdão.

Precisou dar alguns passou e jogou-se nos braços do pai e chorou como uma criança. Enrique abraçou-a forte, beijava seus cabelos e chorava. Pedia diversas vezes perdão. Segurou-a no rosto entre as mãos, enchugou as lágrimas e lhe beijou a testa.

- Sei que não vou recuperar o tempo perdido, mas a partir de hoje quero ser o pai que nunca teve. Poderia permitir isso?

- Vamos com calma ok? – Anahí sussurrou.

Enrique assentiu satisfeito e lhe beijou a testa. Alfonso, que apenas observava atento, tocou nas costas dela, e Anahí entendeu que era a hora de irem embora. Girou o corpo e deu alguns passos, então parou.

- Sábado me espere em frente a igreja da Lapa as 20hrs. – ela falou sem olhar para trás, Enrique a olhou confuso, a loira virou-se e sorriu - Preciso de alguém pra entrar comigo na igreja. 

Um Anjo Caiu do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora