Capítulo 21 - parte 02

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Enquanto Anahí aguardava a chuva passar, Bárbara ria descontroladamente olhando para uma fotografia. Sentia-se vitoriosa por finalmente as coisas estarem saindo como planejara durante anos.

- Mal chegou e já está sendo uma arruaceira? – indagou e soltou um riso debochado - Aqui quem dita as regras sou eu. – sorriu falsamente e encarou a menina que mantinha o nariz empinado - Ficará sem jantar.

- Não estou com fome mesmo. – a pequena disse dando de ombros.

- Hum, então ficará a semana inteira sem jantar. – falou rindo maquiavélica.

A menina novamente deu de ombros e sentou-se sobre sua cama, sem dar muita importância ao que a megera acabara de dizer. Percebendo que estava sendo ignorada, Bárbara a fitou minunciosamente e recordou-se de sua infância em um orfanato.

- Você me lembra alguém quando eu tinha a sua idade. – comentou levando a mão ao queixo - Chegou querendo ser a salvadora da pátria mas se deu mal. – riu escandalosamente - Ainda posso ver nitidamente ela aos prantos pegando a boneca com a boca em uma bacia cheia de minhocas nojentas.

E foi então que a pequena a olhou com raiva trincando os dentes e cerrando os punhos.

- Como esse mundo é pequeno. – basicamente declamou, segurou uma caneta e cravou sobre a foto, pressionando-a sobre o papel - Que prazer me dá trazer tanto sofrimento a duas pessoas que eu abomino. – grunhiu, apertou tão forte a caneta que a fez quebrar a ponta - Como eu daria tudo pra ver a sua cara nesse momento. – disse cerrando os dentes, segurou firme a caneta e a bateu sobre a mesa - É tão bom colocar em prática as maldades que me foram vetadas quando criança!

Torturar Júlia era seu novo hobby. Seu único problema era Beatriz e sua alma boazinha, que a todo custo queria a fazer mudar de ideia.

Fazer Júlia pagar pelo sofrimento que o pai lhe causou era prazeroso, gratificante. Não apenas por Alfonso, mas vingar-se de Júlia também. Ela a detestava mais do que aquele moreno de olhos verdes que destruiu seu coração.

De sua janela, Bárbara viu uma aglomeração suspeita de meninas no jardim. Estranhou, pois deveriam estar na aula de música, então sorriu maquiavélica levantando-se. Praticar maldades com aquele grupinho também poderia ser agradável.

- Temos que fazer algo! Aquela bruxa vai matar a Júlia. – uma das meninas lamentou – Ela está a obrigando a fazer trabalhos forçados: limpar, passar, cozinhar.

- E Júlia tem que assistir as aulas. Os pais dela pagam pra isso, não pra que ela trabalhe. – explicou outra das meninas que estavam no grupinho.

- Vejo que mais algumas alunas querem fazer companhia a Júlia. – comentou olhando para o alto, com os braços cruzados - Quem dita as regras aqui sou eu. E se eu não quero que aquela pirralha assista as aulas, assim será. E não ousem me contrariar, vocês podem se arrepender, ou amanhecer com a boca cheia de formigas.

- Mas ela está doente, precisa de um médico. – Martina falou chorosa.

- Júlia está perfeitamente bem cumprindo seu castigo no calabouço. – a megera rosnou e a menina escondeu-se atrás de uma das coleguinhas - Alguma de vocês quer ir lhe fazer companhia?

O balançar de cabeças em negação foi geral. E um estalar de dedos foi o suficiente para que as meninas saíssem correndo dali.

Bárbara cruzou os braços sobre o peito e fitou algumas árvores ao longe.

- Vai desejar nunca ter nascido Júlia Herrera, você pagará por tudo!

- Babi, Júlia não responde aos meus chamados, e nem chama mais pela Anahí. – Beatriz chegou falando rapidamente e apavorada.

- Está fazendo malcriação, ignore. – Bárbara respondeu sem se importar - Cansei de brincar de ser malvada, agora serei completamente cruel.

- O que vai fazer? – perguntou temerosa.

- Preciso de mais daquele medicamento, darei a última dose no almoço. Terei que apressar as coisas, aumentar a dose.

- Você deveria parar com isso, já a torturou demais não acha?

- Eu pedi a sua opinião? – esbravejou virando para a amiga que negou rapidamente - Então mantenha-se calada e vá logo atrás do que preciso.

Beatriz engoliu em seco, andando de costas encarando a amiga. Ela estava a ponto de cometer uma loucura. E precisava fazer algo para impedir e salvar a vida da pequena Júlia.


Um Anjo Caiu do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora