04. Eu faço um tour pelo Palácio do Fogo!

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Nós saímos cedo da Vila do Dragão. Úrsula e Raposa, a mando de Fang Zhou, nos guiaram sentido leste da vila através de uma estrada levemente inclinada para cima, subindo uma espécie de colina que dava para uma floresta. A janela traseira nos permitia ver a cidade ficando para trás, um amontoado de casas orientais com um templo ao norte, as ruas sendo habitadas por inúmeras pessoas, sem nenhum outro veículo ou algo do tipo. A Vila do Dragão não era tão grande, assim como eu imaginei.

Houve pouca conversa durante a nossa viagem. Alfred apenas explicou que Lien Sho e Lien Shu eram os guardiões do portal da vila, e que Fang Zhou, o cocheiro, era o responsável por transportar viajantes entre uma vila/cidade e outra, sendo aquele que cobrava mais barato.

Sem nada para fazer, resolvi ler um livro que havia pegado na biblioteca do colégio Martins para passar o tempo. Tio Alfred também lia ao meu lado. A carruagem pouco balançava, passando por caminhos tortuosos e, algumas vezes, irregulares. Quando olhava pela janela, eu só via florestas. A viagem durou cerca de duas horas até finalmente pararmos.

Nós descemos e vimos Fang Zhou conversando com dois homens corpulentos no que parecia ser o maior portão que eu já havia visto em toda a minha vida. Muros gigantescos erguiam-se em uma altura de cerca de vinte metros e estendiam-se até onde não era possível ver.

- Aqui é a entrada da Cidade Kido – informou tio Alfred, e depois de uma breve conversa, os dois homens – que então eu notei pertencerem ao clã Kido, pois eles tinham mechas castanhas nos cabelos escuros – assentiram para Fang Zhou e o portão se abriu, liberando uma iminente massa de ar quente. E a imagem que revelou fez os meus olhos se arregalarem.

- Essa é a cidade do Palácio do Fogo? – eu disse boquiaberto, com Alfred colocando a mão sobre o meu ombro.

- Bem-vindo à sua terra natal.

Da entrada da cidade era possível ter uma visão privilegiada do que parecia ser a cidade mais impressionante que eu já tinha visto, isso porque exatamente no centro havia uma extensa e deslumbrante tradicional construção vermelha.

- Caminho livre – disse Fang Zhou, e adentrou na cidade puxando as tigresas e avisando que as levaria para descansar, e que nos esperaria no portão da cidade, portanto, sobrou apenas o meu tio e eu no meio de todas aquelas pessoas desconhecidas, que vestiam todo o tipo de roupas, desde as mais simples até as mais tradicionais, em uma mescla até que surpreendente.

- Agora eu vou te levar ao Palácio do Fogo – Alfred apontou para a construção vermelha, que poderia ser vista de qualquer lugar. Eu apenas assenti, me sentindo uma formiga no meio de todo aquele povo, dominado por um imenso calor.

As casas em torno eram do mesmo estilo que as casas de Firen e da Vila do Dragão, estruturas tradicionais de cores claras com telhados negros piramidais que eram a característica da época do feudalismo japonês – ou asiático. As ruas, no entanto, eram asfaltadas e largas, embora não houvesse o tráfego de automóveis. E não demorou para as pessoas começarem a nos reverenciar assim como os habitantes da Vila do Dragão e da cidade de Firen. Mas reverenciavam, eu notei, de uma forma diferente. Eram nítidos os olhares de temor, quando nos olhavam. E ocorreu-me que era o mesmo olhar dos moradores da Vila do Dragão. Eu poderia estar errado, mas parecia que tinham mais medo do meu tio e eu do que propriamente respeito.

- Por que eles ficam nos olhando dessa forma? – eu perguntei baixo ao meu tio, um desconforto me dominando com tantos olhares amargurados. Poderia ser por causa do calor, visto que o suor predominava por toda a população, mas eu senti que não.

- Porque fazemos parte do clã Kido – ele respondeu naturalmente –, e o nosso clã não é exatamente como você pensa.

Eu o encarei de imediato. O que ele queria dizer?

Caçador Herdeiro (5) - Fogo Traiçoeiro | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora