18. Sentimentos obscuros

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- Mãe, o papai vai demorar? – a garotinha perguntou, sentada junto à mesa, com a prato à altura dos olhos, devido à sua pequena estatura.

- Ele já está chegando, amor – sua mãe respondeu com um sorriso, terminando de servir os três pratos. – Logo, logo ele estará aqui com a gente.

A garotinha sorriu, balançando as pernas. Seu rosto tinha uma expressão de ansiedade, alegria. Seus olhos insistiam em olhar para a porta da sala, que era possível ser vista daquela parte da cozinha. Por esse motivo aquele lugar – aquela mesa – havia sido escolhido.

Então a campainha soou.

Ding dong!

- É ele! – Ela saltou da cadeira e correu até a porta.

- Não corra, Luísa – sua mãe advertiu, a acompanhando, embora também estivesse ansiosa.

As duas chegaram à porta e a mulher a abriu, revelando um homem de camisa social com as mãos atrás do corpo.

- Boa noite, é aqui que mora as duas mulheres mais lindas da minha vida? – ele abriu um sorriso discreto, e imediatamente foi abraçado pelas duas.

- Papai! – Luísa disse, e foi pega no colo.

- Como a minha princesa está grande – seu pai disse, a segurando com apenas um dos braços, enquanto o outro mantinha-se atrás do corpo.

- Eu cresci – a garotinha sorriu envergonhada, com o rosto rosado. – Quero ficar grande igual a você.

O homem sorriu. Voltou os olhos para a esposa e seus olhos brilharam.

- Eu trouxe um presente – disse, e mostrou um buquê de rosas vermelhas, puxando das costas e entregando com um sorriso sincero.

A mulher sorriu, encantada, emocionada, e tascou um beijo no marido.

- Eca! – a garotinha disse.

Um sorriso de ambos se formou durante o beijo, e finalmente se desvencilharam.

- Eu estava cheio de saudades – o homem falou.

E então ficou paralisado.

A princípio, nenhuma das duas entenderam o que aconteceu. Ele ficou onde estava feito uma estátua, ainda segurando a filha, ainda na porta.

Até que sua esposa percebeu, ao baixar os olhos alguns centímetros.

A ponta dourada de uma espada perfurava o seu peito, provocando um sangramento que só aumentava.

A mulher gritou.

A espada foi puxada e o homem caiu, com a filha, revelando o assassino, que também estava na porta, com um rosto sombrio que transbordava em maldade.

O assassino era eu.

Então eu acordei, com um grito que abalou o prédio inteiro.

- AAAAAHHHH!!

Mais um pesadelo para a coleção; mais uma família que eu destruía em meus sonhos.

Reflexo dos meus dias como um assassino.

- Meu Deus... – falei sozinho em meio ao escuro gelado.

A imagem da mulher e da garotinha feliz não saíam da minha cabeça. Pensei em quantas famílias eu destruí ao matar todos aqueles caçadores durante minhas missões sombrias, na qual eu estava sendo utilizado feito um fantoche pela, provavelmente, Eclipse do Caos.

Cerrei forte os punhos, envolvido em uma imensa camada de culpa. Eu era não só o assassino dos pesadelos, como também da vida real.

Acabei com quantas famílias de forma direta e indireta?

Caçador Herdeiro (5) - Fogo Traiçoeiro | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora