21. A incrível Zoe

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Até que ponto você iria apenas para encontrar uma pessoa?

Para você, qual seria o seu limite?

Se importaria em arriscar sua vida? Ou sentiria que nada o mataria até encontrá-la? Colocaria a vida de seus amigos em perigo? Ou a vida dela seria mais importante? Você chegaria ao ponto de magoar quem sempre te ajudou?

Questões são absolutamente irrespondíveis quando não se está vivenciando verdadeiramente o que está sendo colocado em suposição. É impossível saber nossos atos mediante coisas que não estamos passando ainda. Por mais que planejemos certas situações uma vida inteira, apenas no momento exato saberemos quais seriam nossas atitudes. Somos seres humanos, movidos a emoções. Emoções que, muitas vezes, tiram nossa ciência e nos fazem optar por caminhos tortuosos e fora de racionalidade. Emoções que podem nos fazer perder completamente a confiança das pessoas.

Era assim que eu me sentia. Há tempos estava trilhando escolhas que colocavam meu equilíbrio em questão. Além de arriscar minha vida, coloquei meus amigos em risco milhares de vezes ao invadirmos enxames entupidos de vampiros poderosos. Kelan e Natsuno quase perderam suas vidas. Ao surpreender Shin e seus capangas naquela invasão, quase matei o Ferdinando e a Thalia também, naquela fábrica velha. Sem falar que entreguei, de mão beijada, o Troféu da Colina Rosan ao Padre dos vampiros da Base. Por pouco também não perdi minha Takohyusei, para Diógenes e os outros dois otários do Hunters Silvers.

E, por último, falei palavras duras que magoaram profundamente a minha melhor amiga.

Tudo por causa do desaparecimento da Sophia.

Eu estava indo longe demais?

Provavelmente sim. Mas o que você faria no meu lugar? O oposto, evidentemente, visto que, mesmo com tudo isso, a única pista que encontrei foi: nenhuma.

De qualquer forma, eu começava a acreditar que ela não estava mesmo mais entre nós. Talvez até um pouco tarde. Até mesmo a organização Ko-Ketsu já havia dado Sophia como morta. Foi necessário a Zoe não conseguir rastreá-la para eu finalmente abrir os meus olhos...

Já ouvi falar sobre um Caçador Lendário cego antes, mas você não enxerga o que está na sua frente, o Hebert dissera. Eu nem mesmo sabia que houve um Caçador Lendário cego.

Acabei chegando à conclusão de que a esperança pode ser uma virtude perigosa. Afinal de contas, há esperança para esse mundo tão injusto?

Diogo, posso te pedir uma coisa?, sua voz ecoou na minha cabeça. Eu lembrava perfeitamente daquele dia. Nosso primeiro beijo, no topo daquela montanha, no Canadá. Sophia estava linda, muito bem agasalhada, com as bochechas rosadas e os cabelos castanhos enfiados num gorro de esquiador.

Claro. O quê?

Você promete... que nunca vai me abandonar?

Cerrei os punhos, com aquela lembrança.

Sophia, eu te amo, e quero me casar com você algum dia, respondi.

Então você promete o que eu te pedi?

Claro!

Eu havia falhado. Nem mesmo havia percebido que estava parado diante da vitrine de uma loja, no meio da calçada, olhando para o meu reflexo. Olhando para o fracassado que eu havia me tornado.

Dezenas de pessoas passavam por mim, para lá e para cá, na movimentação casual do dia-a-dia. Mas eu não me sentia naquele ambiente. Estava preso a lembranças.

Caçador Herdeiro (5) - Fogo Traiçoeiro | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora