27. A acusação daqueles que se foram

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Já estamos andando por quanto tempo? — A voz de Ryan ecoou pela escuridão.

— Por horas — respondeu Ferdinando, exausto como seus amigos, sentindo-se cada vez mais sem esperanças. Os quatro andavam em fila, com Ryan à frente iluminando o caminho, mas também apontando a lanterna para ambos os lados feito o refletor de um farol portuário, para se certificarem de que não apareceria inimigos.

A única coisa que avistavam, no entanto, era ossos velhos amontoados por toda parte, e nem todos eram ossos humanos, o que era um péssimo presságio.

— Vocês ainda não me disseram quem são — Joe murmurou. Kelan, que estava atrás, cutucou Ferdinando.

— Ele ainda continua assim. Será que perdeu totalmente a memória?

— Hã, vamos torcer para ser uma amnésia passageira — Ferdinando disse, também preocupado. — Por enquanto, vamos nos preocupar em sair deste lugar. Ou nunca mais veremos Diogo e os outros.


***

Guga sentia cada membro de seu corpo trêmulo enquanto encarava o místico que havia acabado de derrubar a mulher aranha com uma rajada de chamas poderosas. Teve certeza que aquele seria o seu fim; que o místico os derrubaria e os deixaria morrer.

Mas foi surpreendido. O sujeito começou a puxar a corda, deixando Guga extremamente confuso. Quando todos já estavam na beira da montanha, a salvos, Guga quis perguntar por que aquele cara os salvou, mas Yago foi mais rápido:

— Obrigado por ter ajudado a gente. Mas... como soube que estávamos aqui?

— Acho que a pergunta certa — Bruno interveio — é: quem é você?

Guga notou um olhar suspeito da parte do garoto-coelho. Os demais apenas pareciam gratos, assim como Guga, embora não tivesse entendido por que um inimigo os salvara.

— O meu nome é Marcos — respondeu o sujeito, com expressão carrancuda. — Eu sou um místico dominador de chamas.

E membro da Eclipse do Caos, Guga pensou em denunciar, mas o olhar que recebeu de Marcos parecia de súplica. Era nítido que Marcos reconhecia Guga. Guga também tinha lembranças muito boas, especialmente se tratando de pessoas que o encurralaram.

Marcos quase acabou com o seu nariz, há alguns meses. No dia em que Guga recebeu aquela oferta indesejada; a oferta de tornar-se um capanga da Eclipse.

— Por que nos salvou? — Guga decidiu perguntar, atraindo o olhar de seus amigos.

Marcos nada respondeu. Yago tomou a frente e disse:

— Creio que devemos apenas agradecer, certo, galera?

Todos concordaram.

— Um místico que controla o fogo. — Eslei mostrou-se admirado. — Nós temos um amigo que também é bom com chamas, só que ele é um caçador. O Diogo.

Ao ouvir o nome Diogo, Marcos ligeiramente demonstrou certa apreensão. Somente Guga percebeu, por ainda estar analisando-o devido ao fato de desconfiar de seu aparecimento.

— De qualquer forma — disse Salatiel, olhando para baixo —, nos safamos de uma morte horrível. Valeu, meu chapa! O meu nome é Salatiel Gonçalves, caçador do Clã da Poeira.

Marcos apertou sua mão, depois apertou a mão dos demais, que lhe estenderam. Guga continuou o observando. Perguntava-se o que aquele cara fazia num lugar como aquele, embora a grande questão fosse: por que não os deixou morrer, visto que eram supostamente inimigos?

Caçador Herdeiro (5) - Fogo Traiçoeiro | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora