25. Os amigos da Miss Spider

165 23 10
                                    

- Cadê todo mundo? – perguntei, já cansado de andar. Havíamos andado por horas em linha reta e não havia nenhum sinal do esquadrão. Era como se tivessem sido abduzidos.

- Deve ter acontecido alguma coisa – disse Raylla, com olhar preocupado. – Essa floresta... Sinto que aqueles lobos não eram os únicos problemas.

Eu suspirei. Os lobos, pelo menos, haviam nos deixado em paz, o que não impedia a floresta de continuar soando sombria e perigosa. Andávamos atentos a qualquer movimento sutil. Natsuno comentava a todo momento que não confiava em Avareza. Priscila era a única que carregava uma mochila. Decidi que pararíamos para descansar um pouco.

- Eu já estava com fome mesmo – disse Natsuno.

Enquanto Priscila distribuía os poucos pães que trouxera entre os três, eu fiquei vigiando o nosso torno. As árvores de troncos secos e de galhos sem folhas pareciam nos encarar como se quisessem nos devorar. Acabei me perguntando se aquela floresta já havia sido verde e florida algum dia. Se sim, provavelmente já fazia milênios de anos.

Faltava pouco para eu recuperar minhas energias completamente. As dores colaterais do Modo Elementar já haviam ido embora, e meu plano era de me transformar novamente para tentar rastrear meus companheiros através de suas Energias Internas. Isso se eles não estivessem muito longe.

- Pronto, maninho – Natsuno ficou de pé. – Pode comer também.

Meu estômago emitiu um ruído forte, um ronco quase tão alto quanto o do Joe.

Sentei ao lado das meninas, enquanto Natsuno fazia a guarda.

- Esses pães são deliciosos – Raylla comentou enquanto mastigava.

- Minha mãe é padeira – Priscila sorriu. – Temos uma padaria na zona oeste.

Peguei um dos pães, que estavam num saco de papel. Pão mineiro – aqueles que são cobertos por queijo derretido. Após a primeira mordida, o sabor que senti fez eu desejar comer mais. Extremamente delicioso!

- Muito gostoso – tive que dizer, mesmo de boca cheia.

- Que bom que gostou – Priscila abriu mais uma vez seu sorriso cativante. Continuei comendo.

Pela primeira vez, notei que a floresta não era fria como as outras. Fazia falta o chacoalhar das copas e o som dos pequenos animais. Eu não gostava muito daquele tipo de silêncio. Soava como se qualquer criatura pudesse nos ouvir de qualquer lugar. Então, pela primeira vez desde aquele dia, talvez por finalmente estar com a mente mais tranquila, pensei na voz que soou ao meu ouvido no momento em que a Zoe tentava rastrear a Sophia, no parque.

De onde viera? Parecia uma espécie de inseto penetrado no fundo da minha mente, tentando me manipular e me influenciar a magoar a minha melhor amiga. E, parando para pensar, conseguiu. Eu caí perfeitamente em sua armadilha.

O fato é: qual a sua origem?

- Ei, Dio, acho que encontrei alguma coisa – Natsuno me despertou daquele devaneio.

Eu me levantei e olhei para onde ele apontava. Adiante de alguns troncos, mesmo perante à escuridão, era possível ver o que parecia ser... uma cachoeira?

- Ué – falei. – Como não ouvimos o som da queda d'água?

Natsuno franziu o cenho, aparentemente apurando os ouvidos.

- Cara, eu não consigo ouvir nada.

Raylla e Priscila se aproximaram, Priscila com uma expressão de surpresa.

- Uma cachoeira silenciosa? Eu já ouvi sobre essa cachoeira uma vez – disse, nos encarando com olhos ansiosos. – É a Cachoeira dos Mortos-vivos.

Caçador Herdeiro (5) - Fogo Traiçoeiro | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora