10. De volta ao lar

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O céu tinha o tom azul royal do amanhecer, e o silêncio era rasgado pelo ruído do motor da moto que tinha a grande cidade como destino, seguindo pela estrada em alta velocidade e com fúria.

A brisa estava fria, mas era uma sensação que Riku considerava confortável, e por esse motivo ele não usava capacete; sentia-se bem com o vento agredindo o seu rosto e fazendo seus longos cabelos esvoaçarem. E tinha olhos cinzentos feitos uma tempestade fixados no fim do horizonte, na direção do nascer do sol, onde a "pequena" Honorário se aproximava aos poucos, com seus prédios gigantescos chamando a atenção mesmo de longe.

- Chega de palhaçada – disse a si mesmo, sério, focado. – Está na hora de colocar as coisas no lugar.

***

Natsuno não foi à escola no dia seguinte à batalha com Diogo.

A luta travada trouxe-lhe consequências físicas horríveis e ele não poderia ser visto por alguém dessa forma, por isso foi difícil chegar em casa na noite em que apanhara feio, tendo que se esconder de qualquer tipo de olhar que encontrou durante sua trajetória da casa de Diogo até seu bairro. Evidentemente, uma vez que precisou atravessar algumas ruas movimentadas, acabou sendo visto, o que não soou muito legal. As pessoas o olhavam com cara de pavor, e Natsuno deduziu que elas deduziam que ele apanhara após ser assaltado por caras violentos.

Natsuno estava péssimo. E como não tinha mais nenhum tipo de bebida especial armazenada em sua casa, foi obrigado a ligar para o seu pai no dia seguinte e pedir que ele trouxesse pelo menos uma garrafa. Por telefone, Hebert fez perguntas, mas Natsuno não queria dizer que levara uma surra do melhor amigo. Inventou que Kelan havia sido arranhada por vampiros em uma caçada e não queria que seus amigos vissem as feridas.

- Natinho! – sua avó bateu na porta de seu quarto durante a manhã. – Você está atrasado!

- Hoje eu não vou, vó – Natsuno disse como se estivesse com a boca cheia de comida, afinal sua bochecha estava inchada devido aos ataques recebidos no rosto. – Eu... eu acho que estou com caxumba.

Sua avó mostrou-se preocupada, e até solicitou que Natsuno fosse ao médico, mas Natsuno queria apenas ficar sozinho. Sentia-se cada vez mais humilhado. Não conseguira dormir durante a noite, apenas pensando na forma que Diogo falou – e agiu. A meia hora debaixo do chuveiro serviram mais para distrair a mente do que propriamente para limpar o suor e o sangue do corpo. A água quente tinha o poder de aliviar um pouco a dor e relaxar os músculos e membros, mas também lembrava a Natsuno as chamas produzidas pelo amigo. Lembrava a Natsuno os golpes desferidos por Diogo; a agressividade estabelecida por ele; a crueldade na sua voz e no seu olhar.

Uma noite inesquecível – uma péssima lembrança que não sumiria em décadas. Talvez séculos. Era difícil processar os acontecimentos daquela noite, especialmente por envolver uma pessoa que sempre foi um cara companheiro e disposto a animar e a ajudar seus amigos.

Diogo havia mudado. E muito rapidamente. Na verdade, nem parecia ele.

Mas era.

E a tarde inteira passou feito uma eternidade, Natsuno percebendo o quão tedioso era ficar em casa sem fazer nada. Acabou lembrando de sua vida antes de Diogo chegar à cidade e depois da morte dos seus amigos, os gêmeos do clã Matsu.

João e Jussara.

Os gêmeos que Natsuno liderou em caçadas pela cidade durante algumas noites, ótimos caçadores que sempre trabalhavam bem em conjunto e eram pessoas boas – por mais que Natsuno não se desse muito bem com João.

Seu pai enviou a bebida especial via Sedex – uma forma não muito normal de envio –, e Natsuno viu todas as suas feridas e inchaços desaparecerem, muito embora as dores continuassem. Por esse motivo, ainda não estava totalmente recuperado para voltar à escola, precisava esperar mais um dia.

Caçador Herdeiro (5) - Fogo Traiçoeiro | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora