48. O tesouro do clã Macedo

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 Zoe e Natsuno estavam bem diante dos meus olhos e sorriam com suas características: Zoe dava um sorriso meigo e Natsuno ria sarcasticamente.

Então fixaram seus olhos em mim e ficaram sérios.

— Foi tudo culpa sua — disseram em uníssono.

Eles começaram a se afastar como se estivessem sendo puxados por uma espécie de brisa e tornaram a gritar, dessa vez com a voz ecoando:

— Foi tudo culpa suaaaaaa.

Era apenas mais um de meus pesadelos. Quando não era isso, eu sonhava com um Diogo cruel que matava caçadores por pura diversão. Já estava acostumado com aquela rotina.

— Dormiu bem, Diozinho? — perguntou minha avó assim que surgi na cozinha.

— Sim.

A verdade era que eu estava morrendo de sono. A frequência com que eu acordava durante as madrugadas por conta dos inúmeros pesadelos superava a frequência que minha mãe precisava levantar para acalmar o chorão do meu irmãozinho. E era por esse motivo que Sara não acordava mais tão cedo, o que deixava o café da manhã na responsabilidade da minha avó.

— Eu estou pensando em ir na organização hoje cedo — avisei.

— Nada disso. Não pode faltar a aula.

— É que o pai da Sophia quer conversar comigo, vó, e como ele ainda não veio, achei que seria melhor eu ir até lá.

Recebi um olhar de extrema repreensão.

— Vocês terão a tarde inteira para conversar. A prioridade são os estudos.

Suspirei descontente, mas não tinha argumentos convincentes. Acabei indo para a escola.

E foi mais um dia desanimador. Eu só tinha o Joe para conversar, mas o grandalhão estava num estado de abatimento muito maior que o meu. Joe nem mesmo conseguia comer tanto quanto normalmente comeria, embora ainda não fosse pouco.

O restante da sala estava de luto. Natsuno tinha amizade com quase todo mundo. Tio Michael me avisara que todos pensavam que a causa da morte foi uma parada cardíaca. Os únicos que sabiam da verdade era a galera que estava comigo na missão de resgate e o Kai. A propósito, foi Kai o responsável por ter alertado o Hebert que estávamos no Reino dos Vampiros.

Foi tenso. Eu era incapaz de me concentrar nas aulas. Olhava para a praça lá fora buscando por algum tipo de conforto. Muita gente tentou puxar assunto comigo, pois sabiam que eu era o que estava se sentindo pior por ser melhor amigo do Natsuno, mas a minha vontade era de ir embora logo para que aquele dia acabasse. Nem mesmo Abigail teve coragem de me infernizar. Ela parecia... triste?

— Eu gostava tanto daquele menino abençoado — disse quando esbarramos nela na hora de ir embora. A inspetora chorava feito uma criança, como se tivesse segurado o choro a manhã inteira. — Ele fará falta.

Joe e eu nos entreolhamos e demos de ombro juntos.

— Vai fazer alguma coisa hoje? — perguntou ele quando chegamos na praça do colégio.

— Pretendo ir à organização ver o que Sandro quer conversar comigo.

— Eu... posso ir? — perguntou tímido. — É que... hoje não tô muito a fim de treinar. O Guga não está indo, nem você... Fica chato treinar sozinho. É quando me dou mais conta que estou mesmo sozinho.

Joe falava de modo tão triste que meu coração afundou. Eu me sentia da mesma forma, por isso queria dizer algo, mas não sabia ao certo o quê.

Caçador Herdeiro (5) - Fogo Traiçoeiro | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora