17. A confiança daqueles que têm esperança

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- THALIA!! – gritei desesperado, mas não pude ajudar. O tremor aumentava feito um grande terremoto, não só nos desequilibrando, como também nos obrigando a desviar das inúmeras crateras que se formavam com o impacto do teto caindo sobre o chão.

Não havia escapatória.

De repente, Ferdinando me agarrou, gritando para eu me abaixar, e assim o fiz, sem entender. Quando menos percebi, tudo estava escuro, o som das quedas de concreto ecoando enquanto emitia um som menos forte, como se estivéssemos dentro de algo. Não ousei me mover, um pavor invadindo o meu peito. E assim sucedeu por mais alguns minutos, um suor encharcando o meu corpo devido ao calor do ambiente.

Até que a barulheira lá fora parou.

- Estamos a salvo – ouvi a voz do Ferdinando em meio ao escuro. Parecia cansada, como se ele estivesse se esforçando. Como se estivesse segurando toneladas sobre os ombros.

Eu não controlava o fogo com perfeição ainda, mas concentrei uma pequena quantidade de energia na mão direita e criei uma pequena chama na ponta do dedo indicador, iluminando vagamente o interior do abrigo onde estávamos.

Ferdinando estava ao meu lado, com cara de dor, e estávamos envoltos em madeira. Não, estávamos dentro de um casulo de galhos grossos.

Milhares de coisas passaram pela minha cabeça. Desaparecimento da Sophia, fuga do Shin, minha quase morte com o desmoronamento da fábrica. Mas o que me causou um desespero iminente foi a lembrança da Thalia se perdendo em meio à bagunça.

- A Thalia! – falei preocupado, com o coração acelerando. – Temos que salvá-la!

Ferdinando tinha uma expressão de puro cansaço. Seus olhos demonstravam o quão exaustivo estava sendo manter aquele pequeno casulo, e senti que ele desmaiaria a qualquer momento.

- Primeiro, precisamos dar um jeito de sair daqui – ele disse ofegante, sua voz muito fraca. – Sinto uma... gigantesca c-camada de concreto... acima de nós.

Ferdinando, de fato, estava no seu limite. Uma culpa gigantesca tomou conta de mim, mas coloquei a cabeça para pensar.

Como sair de uma enrascada como aquela?

- Aguenta mais um pouco – tentei motivá-lo.

- Pedido difícil.

- Você consegue.

Meus neurônios pareciam prestes a explodir. Eu sentia uma adrenalina como nunca havia sentido antes. Como escaparia naquelas circunstâncias?

- Fiquei realmente... honrado por saber que v-você é o... Caçador Lendário – a voz de Ferdinando estava cada vez mais arrastada. – Você é... a esperança... que muitos estão e-esperando. – Ele, de repente, ficou sério. – Não, eu não posso deixar você morrer. Precisamos sair dessa.

Talvez ele quisesse me deixar lisonjeado, mas eu me senti ainda mais culpado. Ferdinando estava prestes a morrer por minha causa, sem mencionar a Thalia...

Eu me senti péssimo. Não deveria envolver os dois naquela minha busca implacável. Sabia desde o começo que algo acabaria dando errado.

- Vou tirar a gente dessa – falei, sem tanta convicção, mas com os pensamentos ao extremo.

Qual seria a saída?

Se eu ao menos pudesse invocar a Yasmim... Mas de que forma ela nos ajudaria?

De que forma sairíamos vivos?

Uma onda gigantesca de culpa invadiu o meu corpo, inúmeras coisas passando pela minha cabeça. Ferdinando estava naquela situação por minha culpa, e a Thalia poderia estar morta. Era eu quem tinha coisas a tratar com a Eclipse, e não eles. Tanto um quanto o outro estavam apenas sendo vítimas das consequências que o meu fardo estava causando. Assim como o meu pai ou a minha mãe. Assim como o Léo...

Caçador Herdeiro (5) - Fogo Traiçoeiro | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora