Caçador Herdeiro (5) - Fogo Traiçoeiro | COMPLETO

52. Coração Honorário

Natsuno era os meus olhos e disse que pelo menos uma ambulância e quatro viaturas da polícia, sendo uma delas com o letreiro PERÍCIA bem na lateral, jorravam luzes vermelhas piscantes de suas sirenes na vizinhança e na multidão que se formava em torno da casa. Cones laranjas, fitas amarelas e policiais fardados serviam para evitar que os curiosos se aproximassem muito. Zoe, Natsuno, Joe, Kelan e eu empurramos alguns deles para que pudéssemos chegar perto o suficiente a ponto de ver duas macas com dois corpos cobertos sendo inseridas na ambulância — pelo menos foi isso que narrou Natsuno.

— Nossa, que horrível! — Uma mulher cochichou um pouco alto demais.

— Eles eram da hora — lamentou a voz de um adolescente logo atrás.

— Parece que estavam mortos há dois dias, e ninguém percebeu nada — disse um senhor de idade.

— Onde será que está o filho do casal?

— Não sei, mas pelo que ouvi alguns policiais dizendo, é um dos principais suspeitos. O moleque simplesmente sumiu!

— O Guga nunca faria isso! — Joe acabou se intrometendo na conversa. — Ele é nosso amigo e tem um coração grande!

Natsuno tentou acalmar Joe enquanto o senhor e outro rapaz diziam que era apenas o que alguns policiais diziam entre eles.

— Zoe, você tentou rastrear o Guga? — perguntei receoso. Foi ela quem chamou a polícia após encontrar o casal morto e a casa toda suja de sangue. Não esperou a polícia chegar porque entrou em desespero e a primeira coisa que pensou foi em ir me avisar sobre o ocorrido.

— Eu não consegui usar meus poderes — disse ela ainda em choque. Natsuno comentava que a casa estava bastante movimentada de policiais. — Meu Deus, por que isso está acontecendo?

Kelan a abraçou. Lembrei que mais cedo Natsuno reclamara que não estava conseguindo utilizar seus Socos relâmpagos. Foi Kakeru quem nos explicou que demoraria algumas semanas para a Energia Interna dos dois voltarem por completo, depois que retornamos à Lanchonete Lendária para dar notícias ao Seu Juca.

— E onde será que o Guga está? — questionou Kelan. — Será que ele ao menos sabe que os pais estão... mortos?

Se até aquele dia não sabia, provavelmente não demorou a descobrir, pois o caso se tornou a manchete mais comentada da cidade nos dias seguintes em todos os meios de comunicação. No colégio Martins não se falava em outra coisa. Os alunos criavam teorias e mais teorias sobre o que poderia ter acontecido. Inúmeras vezes Joe e Natsuno quase arrumaram briga ao ouvirem algumas pessoas dizendo ter certeza que o responsável fora mesmo o Guga. Tive que me esforçar muito para acalmá-los. A repercussão foi tão grande que nem mesmo nos preocupamos se alguém estranharia o fato de ter algumas memórias removidas pelo Miguel.

— Sério mesmo que ela disse que gostava tanto de mim? — ironizou Natsuno após sermos confrontados injustamente pela senhorita Abigail enquanto retornávamos do intervalo.

— E ainda te chamou de menino abençoado — acrescentei.

— Foi mesmo — confirmou Joe.

Natsuno mostrou-se incrédulo.

A única coisa complicada mesmo foi esconder que eu estava cego. Evitei o máximo de interação possível com a galera da minha sala e tive a atenção chamada pela professora de Biologia por não estar copiando o texto escrito na lousa.

— Desculpa, professora, é que estou com muita dor de cabeça.

— Vá ao médico!

— Sim, sim... Pode deixar.