07. O pior pesadelo

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O pior pesadelo.

Embora tivesse medo de inúmeras coisas que poderiam acontecer a qualquer momento, eu nunca havia pensado seriamente sobre o assunto, não até este dia. O dia em que, de uma forma trágica e um tanto inesperada, a minha vida mudou. Completamente.


Uma coisa que eu odiava era de ser o centro das atenções. Não que os agentes da organização respeitassem isso; eram muitos os olhares que me assistiam caminhar pelo amplo pátio repleto de agentes de todas as cores de pele e de cabelo. Eu só consegui deixar o peso de olhos para trás quando finalmente cheguei à ala hospitalar do edifício. O único ponto vazio da organização Ko-Ketsu.

Acenei para duas mulheres de jalecos brancos que caminhavam através do pequeno refeitório e me sentei numa das mesas, como estava habituado nos últimos meses. Pelo menos uma vez por semana eu fazia a mesma rotina, sempre no mesmo horário, às duas da tarde de sábado, o único dia que eu tinha livre para fazer o que quisesse – pois treinava com o Hara de segunda à sexta e passava o domingo com a Sophia, ou na mansão dela, ou no shopping.

E não demorou para a minha visitada chegar. Caminhava a passos alegres segurando o seu urso de pelúcia e cantarolando uma música da Anitta. Lia havia crescido alguns centímetros nos últimos meses, mas continuava uma criança fofa de pequena estatura. Pele branca e olhos verdes, tinha verdadeiros cabelos negros que desciam por suas costas. Ela vestia uma camiseta rosa da Hello Kit e saia preta, e estava descalça.

- Dio!

Ela veio ao meu encontro e me envolveu num abraço apertado. Eu disse:

- Se ficar descalça, vai acabar ficando doente.

- Vou não. A Rute disse que eu tenho uma ótima imunidade contra resfriados.

Nos sentamos à mesa e ela começou a falar, como eu também já estava habituado. Veja bem: como Lia morava na organização desde a morte dos pais e não tinha amigos por perto, eu me sentia na obrigação de visitá-la toda semana. Nossas conversas eram sempre coisas sem importância. Ela era criança, e gostava de conversar sobre suas pequenas aventuras travessas. Rute, sua médica, dissera que Lia gostava de pregar peças em alguns dos agentes da organização, que sempre caíam inocentemente. Uma boa notícia, na minha opinião. Ela, pelo menos, não era uma garotinha depressiva – porque motivos ela tinha.

Conversamos por cerca de uma hora, e acabei prometendo que traria o Tomás para ela conhecer. Lia disse que começaria a estudar na Escola de Teoria e Práticas Sobrehumanas, e estava demasiadamente feliz por ter uma oportunidade de interagir com outras crianças, e chegou a hora de eu ir. Nos abraçamos novamente e, como de praxe, ela disse que me amava muito e que eu sempre seria o irmão mais velho dela, independentemente de qualquer coisa; eu sempre sentia que ela sabia de algo importante que aconteceria no meu futuro. Dessa vez eu decidi perguntar:

- Lia, você teve alguma visão nos últimos, sei lá, meses? – Eu sabia sobre a visão que ela teve de mim prostrado diante da lápide do Léo e dizendo: Eu vou acabar com a Eclipse do Caos. E isso realmente se cumpriu, no dia em que Hara me levou ao cemitério Mesquita para me dar a lendária Ko-Kyuketsuki. E ano passado a garotinha sonhou com a morte do meu pai.

- Sim... – ela disse desconfortável, desviando o olhar.

- E como foi? – Um pavor tomou conta de mim, porque eu sentia que não era coisa boa.

- Eu não posso falar.

- Por quê?

- Porque não!

Caçador Herdeiro (5) - Fogo Traiçoeiro | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora