19. Bem-vindos ao Sangue Divino

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- Bem-vindo ao Sangue Divino, jovem caçador do clã Kido. Somos de tribos distintas, mas o atendimento sempre será o mesmo, pois sabemos como respeitar as diferenças.

Algo no tom de voz daquele homem soava estranho. Havia uma pitada de falsidade em seu sorriso. Lembrava aquele tipo de cara sorridente que sabia como levar uma pessoa na lábia. E claro, as palavras do Seu Juca ressoavam aos meus ouvidos sem parar: Não vá ao Sangue Divino. Lá é perigoso. Aquele lugar é infestado de caçadores da Tribo Pastav, uma tribo repleta de clãs ambiciosos, assim como a Tribo Minetsu. Você não sabe com quem está se metendo.

- Hã, obrigado – eu disse, obviamente atento a qualquer tipo de movimento traiçoeiro da parte do homem que, ao que parecia, era o porteiro.

Adentrei no estabelecimento. E até curti o ambiente. Ao contrário de outros bares que já frequentei, a música do Sangue Divino era baixa e tranquila. Lembrava um country americano, do tipo que dá vontade de bater o pé para acompanhar o som do violão.

O bar era enorme. Calculei uns cinquenta metros da entrada até o balcão. No meio do caminho havia pelo menos duas mesas de bilhar, com homens bem vestidos jogando e bebendo. Não, não havia mulheres seminuas dançando em postes de ferro para homens tarados. Eu diria que o Sangue Divino possuía um clima voltado para quem gostava de jogos, pois além das duas mesas de sinuca, outras máquinas preenchiam o amplo pátio das mais variadas formas. Hóquei de mesa, pebolim, pinball, máquinas de arcade, caçaniques e outros tipos de jogos compunham o bar, iluminando-o de forma que fez eu me sentir em Las Vegas, com todas aquelas luzes brilhantes adornando estabelecimentos próprios para gente cheia da grana. Só faltava uma mesa com pessoas jogando Poker.

Por um momento, observando todas aquelas pessoas bem agasalhadas (com roupas de grifes, era notório), perguntei-me se eu estava no lugar certo, ou se o Seu Juca havia se enganado, talvez confundido o nome do bar. Mas então senti um arrepio que eu só sentia quando estava perto de outros seres anormais.

Uma sensação de estar sendo observado tomou conta do meu corpo. De fato, notei algumas pessoas voltando olhos sutis na minha direção. O que eu poderia fazer? Se eram mesmo caçadores, evidentemente saberiam que eu fazia parte do tão conhecido clã Kido. Talvez até soubessem que eu era o Diogo, filho do Tony e – eu já não duvidava – o Caçador Lendário.

- O senhor deseja alguma coisa, senhor Kido? – uma mulher perguntou, brotando do nada ao meu lado. Assim como o porteiro, tinha um sorriso de orelha a orelha estampado no rosto. Um sorriso cínico.

Decidi usar minhas habilidades oculares na bela moça. Olhei diretamente em seus olhos e desejei ver sua identidade verdadeira. Como suspeitava, ela também era uma caçadora. Suas íris ficaram amarelas por uma fração de segundo; o suficiente.

- Me responde uma coisa – eu disse. – Vocês são acostumados a receber caçadores de outras tribos todos os dias?

- Sim. – Ela mantinha o sorriso forçado.

- E não se acham ameaçados?

- Somos profundamente preparados para qualquer tipo de situação – ela respondeu na maior tranquilidade. – Não há o que temer.

- Certo...

- O senhor deseja alguma coisa? – ela repetiu. – Posso ajudá-lo em algo?

- Não, não. Estava passando, notei este bar cheio de jogos impressionantes, decidi entrar para descontrair a mente. Só preciso de algumas fichas.

- Pode comprá-las no balcão mesmo – a moça disse, gesticulando para eu passar. Agradeci e me aproximei do balcão. Presumi que todos os funcionários fossem caçadores da Tribo Pastav. E talvez alguns dos clientes. De qualquer forma, comprei as fichas (paguei dezoito reais por apenas três delas) e me direcionei às máquinas de fliperama, ainda com a sensação de ser vigiado. Meu plano? Jogar por um tempo e torcer para um dos caras aparecer. Não fazia ideia da porcentagem de o plano dar certo.

Caçador Herdeiro (5) - Fogo Traiçoeiro | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora