Se, por ventura, seu sonho é ser um caçador de vampiros ou algo do tipo, eu logo aviso: não é a melhor profissão de todas, pois você pode acabar se dando mal...
Há grandes chances de você perder pessoas importantes só por terem algum tipo de laço com você. Amigos ou ente queridos que não têm culpa do que você é, e eu descobri isso da pior forma possível. Quando se faz inimigos, eles não levam só para o lado profissional. Tentam sempre encontrar algum ponto fraco que possa te atingir. O ser humano, assim como o fogo, é traiçoeiro.
— Argh! Urh! AAARGH!
Os gritos eram meus. Um grupo de vampiros me espancava como se atendessem à minha vontade de morrer. Não tinham piedade. Os vampiros de Honorário nunca foram muito com a minha cara desde a minha chegada na cidade.
— Isso é para você aprender a deixar de ser um fiasco para a nossa raça! — disse um deles aplicando outro chute na minha cara.
— Fracassado maldito! — Seu companheiro era o responsável por chutar minhas costas.
— Ainda não é o bastante?! — Tinha ainda um terceiro, que pisava em cima do meu estômago.
Belo lugar para morrer, pensei infeliz. O massacre acontecia num dos becos imundos da periferia da cidade em plena noite de sexta-feira. A iluminação era escassa e o cheiro de podridão só não me incomodava mais porque o sangue que recheava meu nariz me impossibilitava de sentir qualquer outro aroma.
Apesar de não me importar se iria morrer ou não, os gritos de dor escapavam sem que eu controlasse.
— ARRRGHH!!
— Fique tranquilo, caçador — rosnou o vampiro que chutava minhas costas. — Iremos dar um fim ao seu sofrimento... agora!
Vislumbrei suas garras descendo sob a luz do único poste do beco na direção do meu pescoço. Fechei os olhos e senti um forte calafrio. Em seguida, ouvi uma espécie de burburinho vindo da parte dos vampiros, que pararam de me golpear.
Abri os olhos e os três olhavam estáticos para a ponta do beco. Um deles perguntou:
— Você?!
Não conseguia ver quem era, mas deveria ser algum caçador muito temido, pois os vampiros começaram a recuar. Porém, a inconfundível voz do sujeito fez com que eu percebesse que estava muito enganado quanto à sua raça:
— Isso que vocês estão fazendo é coisa de covardes — disse com extrema tranquilidade. — Quero que me enfrentem. Acredito que sou um adversário a altura.
Dias se passaram desde a morte do Natsuno. Foram momentos turbulentos que acabaram com o meu emocional. Muita coisa ruim aconteceu em sequência, a começar pela própria morte do meu melhor amigo.
Hebert e um grupo de agentes da organização estavam prestes a invadir o Reino dos Vampiros quando se surpreenderam com a nossa aparição. Havíamos desabado na margem do Rio das Águas Pesadas depois de atravessarmos desesperadamente o portal do castelo de Orgulho. Todos, exceto Natsuno, estavam bem. Saber que o garoto estava morto foi um baque muito grande para Hebert, que chorou com o filho nos braços enquanto Sandro e os demais caçadores veteranos mergulhavam no portal para procurarem por Sophia portando alhos para então não serem atacados pelas temíveis vampiras demoníacas Gula e Inveja.
Os garotos me levaram para minha casa e acionaram uma ambulância, uma vez que meu corpo estava completamente danificado por dentro, fazendo com que minha situação física fosse a pior dentre o grupo. Hebert em nenhum momento dirigiu a palavra a mim. Eu sentia que ele evitava me olhar. Fez algumas ligações enquanto eu estava na casa, depois fui deslocado para o Hospital Independência e não sei mais o que aconteceu; foi Ferdinando quem me acompanhou na ambulância.
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Caçador Herdeiro (5) - Fogo Traiçoeiro | COMPLETO
AventuraLivro 5 da saga CAÇADOR HERDEIRO. Desde a antiguidade, o fogo é considerado o símbolo da força e do poder entre todos os seres vivos, ao mesmo tempo em que é temido como um elemento perigoso, traiçoeiro, que deixa rastros de destruição por onde pass...