50. Símbolos estranhos e luzes azuis

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— Beleza, Jake, me explica essa história estranha, cara, e por favor diz que não é brincadeira.

O silêncio do saguão escuro era tenso e, ao mesmo tempo, aconchegante. O único foco de luz vinha de uma das lâmpadas que já estava com defeito. Jake e eu estávamos sentados no tapete que Kai colocara entre o balcão e algumas cadeiras da antiga base da tribo Fubukio.

— A história é simples — disse ele com a calma que sempre fora sua característica. — Mas tive que percorrer uma longa jornada até encontrar o que tanto procurava. — Sua aparência havia mudado muito, mas não sua personalidade. Jake mantinha seus olhos grudados em mim, sério e focado.

— E isso que você procurava seria?...

— A Biblioteca Primal do Clã Melesque.

Clã Melesque. Kai mencionara sobre esse clã uma vez, algo relacionado aos magos que manipulavam os líderes dos Detentores. Ao que parecia, um certo caçador desse clã fora o responsável por adotar dois dos cinco magos. Jake continuou:

— Passei por muita dificuldade no Mundo Paralelo na tentativa de tentar me encaixar em algum tipo de sociedade, o que indica que viajei por várias cidades e vilarejos. Certo dia, ouvi uma história sobre a tal biblioteca e vi ali a chance de ser útil para alguma coisa. O problema era que ninguém sabia sobre sua localização e muito menos como encontrá-la, até que encontrei a minha primeira pista.

Jake deu uma pausa e eu soei o nariz com o papel higiênico que felizmente deixara no prédio. Era apenas catarro mesmo; não havia mais sangue, embora ainda doesse bastante.

— E que pista era essa?

— Já ouviu falar dos Mestiços Sanguinários?

E hoje somos os vampiros mais temidos de quase todos os países, dissera Glen com orgulho durante nossa batalha, e isso em apenas alguns meses! Foi uma pena não termos encontrado aqueles malditos Mestiços Sanguinários...

— Já ouvi sim — assumi. — Glen mencionou sobre eles. Quem são?

— Vampiros mestiços que andam em bando discretamente pelas aldeias e cidades do Mundo Paralelo. E a informação que consegui dizia que o líder deles sabia como chegar à biblioteca, então comecei a investigá-los.

— Mas Jay, poderia ser perigoso!

Os olhos do garoto recaíram sobre o tapete e ele suspirou.

— Foi complicado. Eles agiam somente no sigilo e conseguiam escapar bem de qualquer tipo de olhar, sem falar que eram extremamente perigosos. São umas pessoas bem difíceis de lidar.

— Então você conseguiu se aproximar deles? Jake, esses Mestiços Sanguinários são assassinos?

Jake fez que sim, tornando a me olhar sério. As sombras produzidas pela luz fraca da lâmpada o deixava com um ar de mistério. O som de carros buzinando soava bem ao longe, indicando que ainda havia movimentação nas vias das redondezas.

— Eles matam, sim, mas têm sua própria concepção. Não são como os vampiros que você se acostumou a encontrar. Nós, vampiros mestiços, gostamos de sangue, sim, mas não é necessariamente uma necessidade ou obsessão. Há metade de um humano dentro de nós. Isso faz muita diferença.

A forma como Jake falava parecia trazer algo parecido com orgulho. Acabei me lembrando das vezes em que o vi completamente fora de si. No beco, entretanto, Jake havia assumido uma parte de sua forma vampiresca e sequer havia perdido o controle.

— Você está diferente — falei admirado.

— Foi porque eu me encontrei, e isso com a ajuda deles, dos Mestiços Sanguinários.

Caçador Herdeiro (5) - Fogo Traiçoeiro | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora