Guardiões - Descendentes. Vol 2.

XVII - Conflito interno.

Após um banho depois de uma longa sessão de treino no qual acho que desloquei o braço de meu marido encarava meu reflexo no espelho do quaro. Eu havia completado 34 anos, mas a garota que me encarava no espelho não condizia com essa idade. Qualquer um que esbarrasse em mim na rua diria que eu não poderia ter mais que vinte anos, as vezes achava isso assustador.

Quando derrotamos Acrab e voltamos para casa e logo me vi grávida tive que tomar decisões. Nas quais foram difíceis na época. Não poderia voltar para minha antiga escola, Sky providenciou para que tivesse aulas em casa para que eu concluísse o ensino médio. Depois que os bebês nascessem poderia ir para a faculdade. No entanto, as coisas costumam não sair exatamente como planejamos. Conforme os meses de gestação foram passando e a nova ameaça apareceu me fez compreender que não poderia deixar meus filhos desprotegidos, precisava me dedicar integralmente a eles. E isso me fez cortar contato com o mundo exterior, não poderia colocar mais ninguém em perigo.

Parei de atender os telefonemas de Helena que depois de inúmeras tentativas acabou desistindo, minha antiga chefe ficou sabendo por um Edward disfarçado que eu e minha mãe havíamos nos mudado para a Carolina do norte. Aos poucos todos que um dia me conheceram acabaram deixando para lá e eu fora esquecida. Mas o que mais me abalou e me fez entender que nada jamais voltaria a ser como era antes foi quando completei vinte e um anos e meu dei conta de que o ritmo de meu envelhecimento estava reduzindo. Meus filhos cresciam e eu havia estagnado no tempo, foi naquele momento que a ficha caiu e eu compreendi a complexidade de ser uma guardiã. O mundo a minha volta mudaria, as pessoas envelheceriam e eu permaneceria a mesma fisicamente como as grandes sequoias que permaneciam inabaláveis diante do tempo.

Entendia vagamente o que meu Sky teve que passar. Deve ter sido assustador ver a sim mesmo quase imutável em meio à um mundo em constante mudança. Às vezes me pergunto se todo o sacrifício valeu a pena e sem medo de responder digo que sim. Tenho um marido que nem em meus sonhos poderia imaginar alguém como ele, nossos filhos são os nossos tesouros e essa ameaça que paira sobre eles está me deixando com os nervos à flor da pele. Minhas mãos estão irremediavelmente sujas com o sangue daquele homem que tentou tirar Charlotte de nós e estava decidida a quebrar mais uma vez as regras quando colocasse minhas mãos em Acrab.

Suspirei ao sentir a aura de meu guardião se aproximando, não demorou para que o reflexo dele se juntasse ao meu e seus braços me envolvessem em um abraço caloroso e protetor. Seus lábios tocaram com delicadeza a pele exposta da curvatura de meu pescoço causando-me arrepios. Ele havia mudado tanto e ao mesmo tempo continuava o mesmo. Sky estava deixando a barba crescer, segundo ele o deixava com um ar mais maduro, como se isso fosse possível, não conhecia ninguém mais maduro e centrado igual a meu marido.

- Como está seu ombro? – Virei para olhar sua face perfeita.

- Não foi nada demais. – O sorriso que eu amava iluminou o rosto dele e mesmo assim não pude deixar de ficar preocupada. – Estou bem sininho, não se preocupe. – Ele afagou minha bochecha. Deixei que o olhar sereno dele acalmasse meu estado de espirito perturbado. – O que estava pensando que te deixou com essa ruguinha de preocupação? – O guardião tocou entre minhas sobrancelhas. Essa mania de não deixar nada passar não muda. Não sabia se seria bom contar a ele que estava pensando maneiras lentas e dolorosas de acabar com a existência de Acrab. No entanto desde que estamos juntos nunca escondemos nada um do outro, mesmo que sejam pensamentos psicopatas.

- Quero muito colocar um fim nessa ameaça que paira sobre nossos filhos, cada dia que os vejo sair para a escola e penso em como estarão desprotegidos longe de nós é uma tortura. Sinto sede em acabar com aquele maldito... Quando a hora chegar temo que vá mais uma vez quebrar as regras.