Levei o bando de Kelpie para a mesma dimensão onde havíamos escondido a fêmea desgarrada. Esse processo demorou mais do que eu gostaria, porque tive que pegar atalhos para evitar entrar em locais lotados de humanos e ruas muito movimentadas e para completar tinha que manter a concentração para poder conseguir esconder todos aqueles espíritos aquáticos na ilusão. Senti estar dando voltas por horas a fio até que finalmente encontrei a passagem na realidade correta.
O calor e a humidade da floresta atingiu-me em cheio fazendo-me suar dentro da armadura. Aquele cenário levava-me a lugares de meu passado que a muito tempo não visitava. Era impressionando que mesmo depois de quase trezentos anos ainda sentia-me culpado e não podia deixar de me perguntar onde minha amiga ruiva anda esse tempo todo. Depois que parou de visitar meus sonhos ela desapareceu como fumaça, só podia desejar que ela estivesse bem.
Continuei avançando pela floresta com os Kelpies em meus calcanhares, podia sentir facilmente a impaciência deles. Não podia culpá-los porque me sentia da mesma maneira. Queria voltar para casa, estava anormalmente ansioso querendo ver minha família apesar de ter estado com Elizabeth a não muito tempo e com Melissa pela manhã, sabia que ambas estavam bem; mas mesmo assim não conseguia aquietar meu coração. Sacudi a cabeça tentando recuperar o foco é concentrar-me naquela tarefa, amplie meus sentidos para captar qualquer sinal que me levasse ao que procurava e não deu outro. Ouvi o som familiar de um resfolegar e de água corrente. Dei uma guinada para a esquerda adentrando ainda mais na floresta.
A Kelpie estava pastando sossegada em uma clareira próxima a um lago de águas escuras e de aparência profunda. Ela ergueu a cabeça ao ouvir a aproximação do bando e o que se seguiu me fez lembrar do por que fazemos isso. A égua correu de encontro a família relinchando contente. Ela o líder se cheiraram por um longo tempo, deduzi que aquele era o parceiro dela. Ih meu chapa sua garota andou arrastando o casco para um certo alto guardião. Ri mentalmente tendo a certeza que precisava voltar para casa, aquele calor já estava mexendo com minha cabeça.
- Ok pessoal. Estão entregues e ficarão seguras aqui, não precisam se preocupar com os cavaleiros maus agora. – Arrisquei aterrissar perto da Kelpie torcendo para não ser atacado ou ganhar um coice do companheiro dela. Ela cheirou minhas asas emitindo grunhidos baixos que preferi acreditar serem agradecimentos, não avisos de que meu desodorante estava vencido. O líder do bando bufou olhando fixamente para o freio em minha mão. – Ah certo. Já ia esquecendo. – Com cuidado coloquei o apetrecho nele mostrando que era livre novamente. – Desculpe por isso, mas era preciso. – Obtive um resfolegar baixo como resposta. Acho que isso significa que estamos desculpados. – Até a vista spirit. – Decolei e comecei a fazer o caminho de volta.
Quando voltei para Los Angeles era de tarde o sol começava a sua descida pelo céu. Essas dimensões nos fazem perder totalmente a noção do tempo, me desfiz da armadura e procurei pelo celular. O relógio na tela marcava quatorze horas, havia passado e muito da hora do almoço, não era para menos que estava faminto. Antes de pensar em comer liguei para minha fada. O celular dela tocou duas vezes antes de ouvir sua voz do outro lado da linha.
- Alô anjo. – Reconheci a preocupação na voz dela. Havia acontecido algo, aquela constatação fez aquele sentimento de que alguma coisa estava para acontecer retornou.
- O que aconteceu fada?
- O cavaleiro fez alguma coisa com Mady. Agora ela está de cama com um resfriado de botar medo.
- Não, é sério? – Não sabia se ria ou se passava em uma farmácia para comprar alguns medicamentos.
- Muito sério. O cavaleiro confessou que foi dele que veio a substância que matou e desmemoriou o pessoal da seita. Aparentemente ele pode deixar quem quiser doente.
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Guardiões - Descendentes. Vol 2.
FantasyNesse novo capítulo da história de guardiões teremos nossos quatro protagonistas se aventurando no mar tortuoso que é a paternidade e ainda terão que lidar com os perigos que os cercam enquanto tentam manter a terra segura.