XX - Por um fio.

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Assim que Christian foi embora subi para meu quarto ver que barulho foi aquele. Fui para o segundo andar mais devagar do que gostaria. Minhas costelas latejavam quando respirava. Entrei em meu quarto aparentemente vazio e aparentemente intacto. A única coisa que estava fora do lugar era o tubo protetor do mapa que havia deixado pendurado atrás da porta e agora estava sobre a mesinha de estudos. Será que o tirei do lugar e não lembro?

- Zafir? – Não obtive nenhuma resposta. – Se você estiver aqui escondido faça o favor de aparecer. – Mais uma vez não obtive resposta. Acho que se fosse ele não teria feito barulho ao entrar. Suspirei resignada. Sem mais nada o que fazer peguei o bendito do mapa e voltei para a sala.

Coloquei o tubo com o mapa sobre a mesinha de centro e fui a cozinha. Vou fazer uma boquinha primeiro. Se eu estava prestes a começar a procrastinar? Sim estava. A última coisa que queria era passar horas e horas procurando lógica naquele pedaço de papel. Abri a geladeira atrás de algum petisco. Toquei o lábio inferior indecisa entre um pedaço de bolo de chocolate e um pedaço da lasanha do papai.

- Hum... Acho que posso almoçar e depois comer o bolo de sobremesa.

- Deveria está de repouso isso sim. – A voz de Zafir bem atrás de mim me fez saltar de susto.

- Droga Zafir! – Gemi colocando a mão na lateral do corpo sentindo as costelas latejarem. – Chamei por você, estava se escondendo por acaso?

- Ham... Do que está falando? Acabei de chegar. – Ele franziu o cenho confuso.

- Deixa para lá. – Bufei voltando minha atenção para meu almoço. – Mania de chegar de fininho. – Resmunguei pegando o que queria. Levei a travessa para a mesa, peguei dois pratos no armário.

- Quer ajuda? – Os olhos felinos seguiam cada movimento meu. Isso é tão constrangedor.

- Ajuda parando de me tratar como se eu fosse criança. – Coloquei o primeiro prato no micro-ondas.

- Affwaan. – Ele colocou as mãos nos bolsos ainda me encarando.

- Não peça desculpas. Só pega leve ok? – Agradeci pelas aulas de árabe que papai me deu ano passado e pela capacidade que nós guardiões temos em nos adaptar e aprender diversas línguas. – Então... – Procurei algum assunto. Mais constrangedor do que ser observada por um werecat lindo... Eu não pensei isso ok? A única coisa pior do quer ser encarada dessa forma é ficar em silencio sendo encarada. – Descobriu alguma coisa?

- Mais ou menos. Preciso ter certeza primeiro. Só queria ver você, ver como estava. – Não cora Mel, não cora!

- Obrigada. – Minhas mãos suando não estavam ajudando nem um pouco e a sensação incomoda de que ele estava escondendo algo não ajudava. Era aquela sensação que tio Orion nos ensinou a levar a sério por que poderia de nos tirar de situações perigosas e que nesse momento estava tentando ignorar piorava tudo.

- Posso beber um pouco d'água? – Esse seu sorriso desentendido não engana ninguém. Contive a vontade de manda-lo engolir aquele sorrisinho sacana.

- Claro. – Ao invés disso usei a educação que meus pais me deram.

- Shukrun. – Zafir sorriu mostrando os pequenos caninos. Engoli em seco sentindo um frio incomodo na barriga.

- Não há de quê. – Procurei olhar para outro lugar que não fosse ele, mas era como tentar afastar um imã de um objeto metálico e foi graças a isso que vi o que o werecat estava para fazer.

Ele levava uma das garrafas de água aos lábios. Não acredito que estou vendo isso! Minha mãe estapeou meu pai quando o pegou fazendo a mesma coisa. Observei por alguns segundos o pomo de adão dele subir e descer enquanto bebia água diretamente da boca da garrafa antes de eu recuperar a consciência.

Guardiões - Descendentes. Vol 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora