XIX - Um dia daqueles.

259 40 260
                                    

Era estranho está andando por aqueles corredores sem Melissa. Estava desapontado comigo mesmo, por que se não tivéssemos sido tão descuidados Mel não teria se ferido. Mas como iriamos imaginar que tal coisa aconteceria? Estávamos usando nossos colares. Como eles nos encontraram? Essa questão vinha martelando desde que recuperei a consciência e não conseguia chegar a uma resposta e detestava perguntas sem respostas.

Agora precisava me manter atento para fazer todo o treinamento que recebi valer a pena. Suspirei sabendo que não adiantaria ficar procurando por possíveis culpados por onde passava. Havia questões na qual deveria me concentrar agora. Alysson estava tensa ao passarmos por um grupo de alunos da nossa turma que nos olhavam curiosos.

- Está tudo ok. – A trouxe para mais perto de mim com o braço que estava em volta de seu ombro. – Lembra do que falei no hospital? Vamos cuidar de você. – Pelo canto dos olhos a vi morder o lábio inferior e assentir. Depois que doei sangue para ela fiquei preocupado com possíveis efeitos colaterais, mas até o momento nada havia acontecido, talvez minha parte humana tenha sido suficiente para suprimir qualquer efeito adverso que a parte imortal pudesse causar.

Estávamos quase chegando a sala de inglês quando a secretária do diretor nos alcançou. O diretor queria conversar com Aly, a garota me lançou um olhar desesperado enquanto a mulher baixinha esperava que fosse acompanhada.

- Estarei com você. – Sussurrei em seu ouvido para que somente ela ouvisse.

Fomos em direção a diretoria sempre sob olhares curiosos, estava ciente que a grande maioria não sabia o que realmente havia acontecido. Bati na porta do escritório recebendo um olhar incrédulo da secretaria, ela acha mesmo que vou deixar Alysson passar por isso sozinha? Ao ouvir que podíamos entrar abri a porta e dei passagem para a garota que começava a ficar meio verde. Assim que ela entrou no escritório entrei logo atrás fechando a porta ao passar.

- Bom dia senhorita Rivera. Fico feliz que tenha vindo, sente-se por favor. – O homem mostrou a cadeira vazia em frente a sua mesa. Aly sentou-se parecendo que estava prestes a fazer um estrago sobre a mesa do diretor. – Senhor Clark... – O diretor Marrone olhou-me em um pedido silencioso para que eu os deixasse a sós, sinto muito, mas não vai rolar.

- Espero que o senhor não se importe com minha presença. – Postei-me atrás da cadeira e repousei as mãos sobre ombros de Alysson. Uma das mãos dela ficou sobre a minha surpreendendo-me como estava fria e suada. A garota estava apavorada, a respiração e os batimentos cardíacos irregulares acentuavam minha certeza.

- Ah... – O diretor nos observou incrédulo. – Claro que não senhor Clark. Creio que assim seja melhor. – Ele ajeitou-se mais confortavelmente em sua poltrona. – Soube que recebeu alta, mas achei melhor esperar que retornasse a escola para termos essa conversa. Estou surpreso com o seu retorno tão rapidamente e feliz também está mostrando o quanto é forte. – Estava ficando impaciente com essa enrolação. Será que ele não vê que Alysson não está bem? – Não quero tomar muito tempo de vocês então vou logo ao assunto. Preciso que me conte exatamente o que aconteceu naquele dia e antes disso também. – Ouvi Aly engolir em seco. Ela olhou para mim pedindo socorro, tudo o que podia fazer era encorajá-la.

- Não tem o que temer. – Garanti.

Alysson contou tudo o que vinha sofrendo desde que começou a estudar nesse colégio e a cada revelação a voz dela ficava mais trêmula e o diretor mais surpreso. Ele realmente não fazia ideia do que acontecia bem em baixo do nariz dele. Não sabia se sentia pena ou raiva, como nunca percebeu nada? Ou se fingiu de cego e esperou que as coisas saíssem totalmente de seu controle? Essas suposições deixavam-me frustrado e com raiva uma combinação volátil e perigosa. A voz de Aly ao terminar o relato não passava de um sussurro.

Guardiões - Descendentes. Vol 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora