XXV - Band aid para um coração partido.

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Burra é isso que sou! De onde tirei a ideia de que algumas roupas novas e um peteado diferente poderiam fazer com que ele me notasse? Claro que ele preferiria uma líder de torcida, perto de Safira eu era o que? Era somente a garota esquisita com uma casca nova. Fechei os punhos sobre meu colo queria desesperadamente fazer essa vontade de chorar parar.

Se eu me desmanchasse agora Charlie não sossegaria até que eu contasse o que estava acontecendo e não queria me prestar a esse papel. Não queria mais ser a garota chorona esperando que eles me consolassem.

- Aly. O que está havendo? – A loira estacionou o carro de luxo em frente à minha casa e encarou-me sondando minha face. Tinha certeza que ela via o quanto eu estava para baixo só esperava que não soubesse o motivo.

- Só... Estou cansada e com um pouco de dor de cabeça. – Engoli em seco empurrando o choro preso na garganta para baixo. A última parte era verdade, minha cabeça doía um pouco.

- Tem algo que eu possa fazer? – Os olhos azuis dela me fitaram intensamente como se soubesse que estava tentando escondendo algo.

- Só preciso descansar um pouco. – Não estava só tentando convencer Charlotte, mas a mim também.

- Tudo bem, mas se precisar de qualquer coisa não pense duas vezes em ligar para mim. – Minha amiga enfatizou a última parte.

- Tudo bem. Obrigada Chal's, até amanhã. – Saltei para fora do veículo e caminhei rapidamente para casa. Entrei e subi direto para meu quarto, minha mãe não estava em casa, caso o contrário teria me recebido na porta, coisa que agradeci porque ela veria meus olhos vermelhos de tanto reprimir as lágrimas e me faria confessar minha fraqueza.

Deixei a mochila largada em algum lugar do quarto e joguei-me em minha cama enterrando o rosto no travesseiro me permitindo finalmente chorar. Meus soluços eram abafados pela superfície macia do travesseiro e mesmo assim pareciam altos demais aos meus ouvidos. Agoniada retirei os aparelhos auditivos e os coloquei sobre o criado mudo. Fechei os olhos aproveitando o silencio que minha surdez trazia. Chorei até que o sono me arrebatou.

Não sei que horas eram quando acordei sobressaltada de um sono perturbado, meu corpo todo doía e parecia que estava mais cansada do que quando adormeci. Tudo a minha volta estava escuro mostrando que era tarde da noite a única luz no quarto eram as dos postes da rua. Com visão turva vi que o relógio digital sobre o criado mudo marcava quase meia noite, um bilhete estava bem embaixo dele chamou minha atenção. O peguei reconhecendo a letra de minha mãe, liguei o abajur, com certa dificuldade consegui ler o que estava escrito.

Hija querida, a vi dormindo tão profundamente não quis acordá-la, deixei seu jantar no micro-ondas, quando acordar coma por favor. Hoje peguei hora extra, nos vemos amanhã a tarde. Fique bem meu ángel.

Beijos mamãe.

Cocei os olhos e inspirei só para constatar que estava congestionado. É uma porcaria mesmo. Levantei sentindo a cabeça latejar, muito bem Aly, Christian tá lá na casa dele de boa e você aqui com a cabeça rachando, sem olfato e com os olhos inchados. Não dava para ser menos patética? Cambaleei até o banheiro no corredor ligando a luz ao entrar. Encarei meu reflexo deplorável, era um desastre completo; se Anne Nakamura me visse agora sairia gritando de pavor. Esse pensamento era quase reconfortante.

Abri a torneira e aparei água com a mão em concha. Lavei o rosto sentindo um pouco de alivio, no entanto esse alivio não durou. O som de uma buzina estridente vinda de não sei de onde me fez tremer e agarrar a pia. Arfei suando frio, a cada segundo sons de carros passando na rua, das gotas caindo da torneira, de minha respiração da estática da eletricidade da lâmpada ficaram cada vez mais altos misturando-se fazendo a dor de cabeça que estava sentindo triplicar. Até mesmo o som de minha respiração era insuportável.

Guardiões - Descendentes. Vol 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora