LXXIV - Erros.

110 29 87
                                    

Postei e corri.

***

Apesar de ainda estar com raiva não conseguia esquecer o olhar incrédulo de meus pais, a decepção de meu irmão, os rostos perdidos de Mel e Aly ao me verem partir com Pollux e os outros dois cavaleiros. Sem sombra de dúvida aquela cena permaneceria gravada em minha memória por um longo tempo, duvidava que conseguiria esquecer algum dia. Eles não entendiam minha decisão e se questionariam o porquê de eu estar fazendo aquilo, a resposta era simples. Não dava mais, não conseguia ficar de braços cruzados enquanto via tudo a minha volta em colapso.

Estava de cabeça quente quando decidi telefonar para meu ex-namorado logo depois de ter o esfaqueado, mas precisava buscar uma saída e talvez extravasar todo meu rancor nele; a final de contas ele merecia depois de ter me engando e usado. A verdade era que queria acreditar, precisava acreditar que a decisão que estava tomando era realmente acertada porquê sabia que era um caminho sem volta, eu iria até o fim.

Voei até o farol cega e trêmula de raiva. Dessa vez cheguei primeiro o que de certa forma foi bom. Me deu tempo para me acalmar e ter forças para não pular na garganta dele e cumprir minha promessa. Pollux chegou poucos minutos depois, sem a armadura negra cobrindo cada parte de seu corpo, ou ele era muito confiante em suas habilidades ou estava pronto para suportar minha ira, preferi acreditar que era a primeira opção, não estava a fim de me iludir. O olhar arrependido era convincente, mas estava ressentida demais para me deixar levar. Os eventos de hoje mais cedo eram recentes e dolorosos.

- Fiquei surpreso com seu telefonema... Posso explicar...

- É nisso que estou confiando e é só por isso que ainda não arranquei sua cabeça fora. – O interrompi. Cruzei os braços e mantive distância deixando claro que não queria que chegasse mais perto. - Conte tudo, sem mentiras e rodeios. E talvez quando terminar te deixe inteiro.

- O que quer saber Charlie? – Ele suspirou cansado. Tinha que admitir, meu ex era mesmo um bom ator.

- Primeiro. Não me chame de Charlie, você perdeu esse direito. - Ele suspirou e assentiu. - Porque escolheu a mim? Tenho um gêmeo, poderia ser ele.

- Não, não podia. – Pollux maneou a cabeça negativamente. – Meu pai te escolheu no dia que você usou seu dom pela primeira vez. Vocês estavam em uma sorveteria não é? Você se desgostou com alguma coisa e causou um tumultuo. Os clientes começaram a brigar entre si enquanto você ria, tinha seis anos se não me engano, certou certo? - Estava muda, só maneei cabeça afirmando. – Deve ter sido uma cena adorável. - Ele ameaçou sorrir. Estreitei os olhos o advertindo. - Meu pai estava os observando e teve a ideia, eu havia despertado meu dom a pouco tempo também, então ele decidiu unir o útil ao agradável. A partir de então ele começou a procurar os outros dois cavaleiros.

- Seu pai é louco. Sem ofensa. – O encarei incrédula. Aquela sem dúvida era a ideia mais estupida de todos os tempos.

- Ele errou. Não se pode negar, mas ficar sem os poderes o ensinou algumas lições. Ele quer acabar com a crise que os mundos estão vivendo, acabar com as leis ineficazes que nos regem. Impedir que outras garotas como minha mãe sofram. - Ele fechou as mãos em punhos.

- O que aconteceu com sua mãe? – Precisava saber, para entender e me convencer que aquilo não era uma completa insanidade.

Enquanto ele contava a história de sua mãe senti a dor e o rancor em cada palavra sua, um pouco do ódio que estava sentindo por ele diminuir. Até cogitei abraçá-lo ao vê-lo derramar algumas lágrimas enquanto contava aquela narrativa trágica, mas eu era orgulhosa demais para fazer isso. Pollux precisaria fazer muito mais para recuperar minha confiança; se é que isso irá acontecer algum dia.

Guardiões - Descendentes. Vol 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora