Guilty

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Acordei num pulo, sentindo um formigamento nas pernas. Ter me assustado foi o pior que podia acontecer, já que no mesmo instante minha cabeça foi tomada por uma dor intensa e tive que segurar forte nas paredes.

O susto tinha vindo a água do chuveiro que estava gelada. Eu devia ter ficado com ele ligado tempo o bastante pra desarmar a resistência. Comecei a tremer com a água fria em meu corpo, mas assim que apertei a válvula do chuveiro senti toda a extensão de meus braços latejar.

Ainda sentada no chão nua, com uma lâmina ao meu lado e água com manchas vermelhas por todo o box pude me lembrar do que tinha acontecido. Mesmo com muita dor, terminei de desligar o chuveiro, a dor de cabeça tornou a tentativa de me levantar um martírio. Consegui com o rodo empurrar as manchas de sangue pelo ralo, quando o desespero tomou conta totalmente, eu estava usando a toalha pra limpar os resquícios de sangue , e lutando contra a tontura para tentar deixar tudo organizado. Enrolei a minha toalha de banho no corpo e caminhei levando pegadas molhadas atrás de mim, meu quarto era apenas há alguns metros do banheiro o que facilitou que me arrastasse até lá. Minha mãe raramente usava o banheiro do corredor porque ela sempre usava o do quarto dela. Eh agradeço por isso imensamente pois eu não tenho a mínima certeza se consegui retirar as “pistas” do que eu fazia.

Me sentei na cama, colocando de vagar as peças íntimas. Esse movimento me permitiu ver os cortes profundos em meus braços e passei os olhos pelo resto do corpo, pulsos, antebraço, alguns cortes nas pernas e na barriga, o que havia acontecido?
Apertei os olhos e pude sentir a culpa me atingindo com toda sua força. O ódio também. Tudo doía, por fora e por dentro. Ao menos eles tinham parado de sangrar, embora não minimizasse a dor.

Lágrimas grossas começaram a descer por meu rosto e eu não conseguia controlá-las, tudo isso se juntou a dor lancinante na minha cabeça que me fez rolar na cama, me encolhendo.

Por que eles faziam isso comigo? Todos eles deviam estar rindo agora, com suas vidas maravilhosas enquanto eu passava por esse inferno.
Segundo o relógio, eram seis da tarde. Passei três horas no banheiro, e literalmente estava desde o dia anterior sem comer nada, porque o nó na garganta não me deixava engolir qualquer comida sem me fazer sentir culpada por estar destruindo meu corpo.

No fim isso devia ser a causa do desmaio.

Vesti um conjunto de moletom e desci as escadas indo até a cozinha, procurei no armário qualquer coisa que estivesse suficientemente pronta pra não me dar trabalho e encontrei uma caixa de cereal. Qualquer mísero movimento fazia meus braços doerem como o inferno, larguei a colher e encarei os pulsos, que ficaram a mostra quando as mangas caíram um pouco.

Marcas ridículas como toda minha existência.

Tencionei as mãos, fazendo os cortes abrirem e fecharem e filetes de sangue apareceram. Profundos, mas não o bastante. Dá próxima vez vou tentar fazer com mais força e livrar todo mundo de mim de uma vez.
Minha mãe entrou pela porta, estava meia hora adiantada, tomei um susto, derrubando bolinhas de cereal pela mesa. Ela parou na porta, ajustando a bolsa no ombro e eu me senti um pouco aliviada por não estar mais sozinha.

Mas não por muito tempo.

— Jéssica, temos que conversar.

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Quero dedicar essa att ao meu bb Maya Mills que vai ficar sem net 😢😢😢 te amo bb

Losing My Mind • Pesy •Onde histórias criam vida. Descubra agora