Capítulo 38

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POV Natasha

Eu não precisava conhecer Daryl muito bem para saber que ele estava desconfortável com tudo isso de uma maneira absurda, mas acontece que eu conheço e isso só torna essa percepção ainda mais profunda. Entendo que lidar com gente nova, depois que perdemos tudo, vai ser no mínimo péssimo, e que algumas barreiras estão de volta, pelo menos contra o pessoal de fora.

Não acho que Aaron seja um mentiroso, muito menos uma ameaça.  A viagem até essa tal Alexandria é curta, e apesar de termos tido que entregar nossas armas no momento em que entramos, notei que a segurança na verdade é bem falha. Planejo ter minhas saís de volta logo logo.

Ingênuos, é o que são. Não sabem nem se defender, mas ainda assim saem em busca de mais gente. Uma mulher chamada Deanna se apresenta, e não é difícil reconhece-la como líder. Ela diz que precisa fazer uma entrevista individual com cada um, e isso só me deixa ainda mais desconfortável, não só por mim, mas por Daryl também.

Inconscientemente me aproximo mais dele, e mesmo quando noto continuo assim. Ele não reclama. Ela vai chamando de um em um, e acho a espera uma coisa horrorosa.

Quando entro, sinto um choque de realidade. A casa é enorme, com moveis caros, tapetes e quadros. Tudo tão limpo e tão normal. Eles claramente não tiveram que enfrentar o mundo lá fora.

—Eu sempre gravo as entrevistas- explica Deanna apontando para uma câmera – Vamos começar pelo básico: Qual o seu nome, quantos anos tem e o que fazia antes disso tudo.

—Natasha Wayland, devo ter uns 21 agora, e era estudante de engenharia civil. Trabalhava em um café por meio período alguns dias da semana.- digo dando de ombros e evitando olhar para a câmera.

—Engenharia civil é? Meu marido é arquiteto, talvez você possa ajuda-lo com algumas melhorias por aqui. Quero dizer, assim não vamos ter que nos preocupar em matar zumbis- ela diz e eu fico meio perdida por um momento.

Pensar em engenharia civil pra valer depois de todo esse tempo é no mínimo estranho para mim. Me sinto meio tentada a dizer que nesse curso eu ainda estava aprendendo, mas que em matar zumbis eu já tinha até diploma.

—Legal- digo desconversando.

A entrevista parece durar um século, mas aguento bravamente. Algumas perguntas são idiotas demais e tenho que segurar o impulso de rolar os olhos várias vezes.

Quando finalmente saio daquela porcaria de sala, acho que estou com uma expressão entre irritada e exausta. Talvez eu tenha dito alguma coisa que ela não estava pronta para ouvir, mas não me importo muito.

Daryl entra e fico preocupada. Não sei o que esperar da entrevista dele. Ficamos todos esperando, ninguém está abandonando ninguém. Após um tempo ele finalmente sai e apesar dele ficar próximo a mim não temos nenhum contato físico. Vejo o desconforto que ele tinha no começo de volta, e imagino que seja porque estamos rodeados de pessoas novas.

Aaron nos leva até duas casas e diz que podemos nos organizar da maneira que acharmos melhor. Não nos dividimos, muito pelo contrário, ficamos todos unidos na sala.

Me sento no sofá enorme, sentindo o corpo cansado relaxar contra o estofado macio. Não quero me preocupar, mas sinto que Daryl está desconfortável. Muito. Ele anda pela sala, inquieto, e evita me olhar nos olhos.

—Vem cá gracinha- me estico para segura-lo pelo braço. Ele me olha confuso por um instante, então solta um suspiro cansado e se senta ao meu lado.

—Gracinha?- ele pergunta atordoado- Você não usa esse a um bom tempo.

—Eu usava ele pra te irritar- confesso baixinho e ele sorri de lado.

Stronger FeelingOnde histórias criam vida. Descubra agora