Capítulo treze

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Chego na mesa ainda tremendo. Carla e Ralph olham para mim ao mesmo tempo e percebem que algo aconteceu.

– O que houve, P.O? – Ralph se adianta. – Aconteceu alguma coisa? Você está branco.

– É que... – Tento encontrar as palavras.

– Toma. – Carla me oferece um copo de água. – Está passando mal?

Tomo um gole de água gelada e respiro fundo. Encosto na cadeira, tomo mais um gole de água e tento relaxar. Eles estão me observando, esperando que eu fale.

– Encontrei o tio de Henri, a noiva, quero dizer, ex-noiva dele e o ex-sogro.

– Mentira! – Carla arregala os olhos e tapa a boca. – Renata e o pai estão aqui?! Ba-ba-do!

– Mas deu alguma treta? – Ralph dá a volta pela mesa e se senta ao meu lado.

Conto tudo para eles sobre o ocorrido. Ambos ficam perplexos com a minha atitude, mas depois que acabo de contar, eles ficam com cara de riso.

– O que foi? – Pergunto, fingindo cara de bravo.

– Você foi muito ousado. – Ralph diz, segurando o riso.

Carla dá uma gargalhada.

– Mas gente! Nunca pensei que o P.O.zinho poderia ser capaz de uma coisa dessas! – Ela dá outra risada. – Estou muito orgulhosa.

– Eu também estou, P.O. Você mostrou que tem atitude! Parabéns!

– Na hora nem pensei em nada. Quando vi já tinha falado tudo. – Dou de ombros e tomo outro gole de água. – Estava cansado dos joguinhos do tio de Henri.

– Mas e depois? – Ralph pergunta.

– Aí depois eu saí rebolativo igual a Carla e vim embora.

Eles caem na gargalhada.

– Rebolativo igual a mim? – Ela diz orgulhosa. – Arrasou viado!

Fico meio envergonhado por ser chamado de veado assim na cara. Mas relevo, é só uma expressão da Carla, ela diz isso o tempo todo.

– Agora está um a um no placar geral. – Carla comemora batendo os pés no chão e fazendo uma dancinha.

– Isso não é um jogo, amiga. – Repreendo.

– Mas ele teve o que mereceu! – Ela retruca.

– Concordo. – Ralph completa.

Um apresentador chama a atenção para o palco onde algumas pessoas se preparam para falar. Ele apresenta um a um dos que estão na fila e entrega o microfone para o primeiro. Vejo Henri no segundo lugar da fila, esperando a sua vez. O primeiro da fila pega o microfone e faz um discurso de mais ou menos uns dez minutos, depois Henri entra no palco e também fala sobre a ONG que ele indicou para que todos ajudassem. Ele conta sobre o trabalho de pessoas que cuidam de crianças carentes de comunidades afastadas do Rio de Janeiro, diz como é o dia delas frequentando o lixão, sem o ter o que comer ou vestir e sem acesso à educação básica. Ele termina o discurso e é aplaudido.

Henri ainda fica alguns minutos depois, conversando com uma pessoa aqui e outra ali. Fico observando de longe enquanto converso com Carla e Ralph. Vejo o seu tio se aproximando e eles conversando rapidamente. Parece que eles não estão tão brigados assim, talvez o tio de Henri tenha sentido falta dele e se dado conta de que estava perdendo a sua única família pela sua própria ignorância, pelo menos é isso que eu desejo.

Nosso trio também conversa muito sobre o novíssimo grupo Sol e Lua. Carla está empolgadíssima, assim como Ralph. Ele espera aumentar os lucros da empresa e conseguir abrir o capital da rede de academias, e com isso, conseguir os investimentos necessários para a filial de Curitiba. Ralph também comenta que tem pensado muito em voltar a morar em São Paulo. Ele dá um olhada meio triste para mim, mas não consigo entender direito.

Depois, uma banda de jazzcomeça a tocar uma música e Henri volta para a mesa. Assim que ele chega, Ralph diz que tem que ir embora, pois trabalha cedo amanhã. Peço que Carla fique mais e volte com a gente, mas ela diz estar cansada e resolve ir embora com Ralph. Henri e eu também não ficamos muito mais, apenas brindamos ao sucesso das doações dos ricaços e saímos.

Entro no carro, me sentindo cansado. Olho no relógio, são quase duas da manhã. Meus olhos começam a ficar pesados. Me aninho na poltrona do carro enquanto Henri bate a porta. Só que em vez de ligar o carro, ele se vira para mim.

– Adorei o evento hoje.

– Eu também, apesar dos pesares. – Me viro de lado, olhando nos olhos e dou um sorriso.

Nós evitamos falar sobre o que havia acontecido enquanto estávamos no evento. Apenas curtimos mais um pouco antes de ir embora sem pensar no que havia acontecido, mas agora era a hora para falar sobre o barraco que aconteceu.

– Desculpe pelo barraco. – Digo.

– Eu acho que todo mundo ouviu o que tinha que ouvir. – Ele passa seu braço por trás da minha cabeça e acaricia o meu cabelo.

– Fui meio impulsivo aquela hora... mas eu não aguentei, Henri... tinha que falar o que estava preso na minha garganta.

– Eu sei. – Ele sorri. – Eu me surpreendi um pouco com a sua atitude, mas confesso que gostei.

– Você gosta de um barraco, né Piloto? – Sorrio.

– A melhor parte foi você chamando o meu tio de sogro. – Ele gargalha. – Ele ficou pistola!

– Ficou mesmo! – Caio no riso também. – Pior que eu achei que ele ia dar um treco.

Nós paramos de rir e fica um silêncio no carro.

– Eu ainda espero muito, mas muito mesmo, que ele um dia possa enxergar que o mais importante é que ele tem você, independente do que você é ou com quem você esteja. – Digo.

– Eu também. – Ele responde.

– Vocês estão bem, afinal? – Pergunto.

– Conversamos pouco. – Ele suspira. – Eu não perdoei ele por ter te demitido e ele não me perdoou por... hummm...

– Por mim. – Sorrio, sem graça.

Ele ri.

– É... por você.

– Desculpa. – Digo, sinceramente.

Ele se aproxima e me beija devagar, depois sussurra no meu ouvido.

– A cada dia que eu passo ao seu lado, tenho ainda mais certeza de que valeu muito a pena ter escolhido você.

Última Chamada (Amor sem limites #3)Onde histórias criam vida. Descubra agora