Capítulo quarenta e seis

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Fico na janela observando o azul lá fora. Acabamos de decolar e o avião ainda está tomando altitude. Henri hoje está pilotando. Nós chegaremos à tarde em casa. Fico apertando a aliança dourada na minha mão. É estranho ter algo no dedo, é pesado. Fecho os olhos e volto a me lembrar do momento em que ele me pediu em casamento. Casamento! Quem poderia imaginar que eu seria pedido em casamento! É uma coisa surreal, acho que a minha ficha ainda não caiu. Henri quer se casar comigo! Ele me disse que quer passar o resto da vida ao meu lado. Isso tudo depois de eu ter pensado que ele enjoaria de mim só por dividirmos o mesmo apartamento... e a mesma cama... a mesma mesa de café da manhã... a mesma rotina. Já se passou um bom tempo desde que fui morar com ele e não me sinto nem um pouco enjoado da sua companhia.

Cada dia com Henri é uma supresa. Se eu chego em casa estressado, ele está lá para me dizer palavras acolhedoras, se ele chega estressado, sou eu quem o faz relaxar com um papo e uma companhia leves, assistindo futebol americano, ou um filme, fazendo carinho no cabelo dele até ele cair no sono. Quando um de nós está triste, o outro está lá para oferecer um ombro amigo, um conselho, uma palavra confortadora. Se ele fica doente eu cuido. E ele me mima por qualquer motivo, se oferecendo para me preparar um banho ou o jantar. E tudo o que fazemos um para o outro é tão natural. Eu nunca planejo o que fazer. Simplesmente o encontro em um estado de espírito e eu me ajusto para equilibrar, e ele faz o mesmo. Mas será que conseguiremos fazer isso um para o outro para o resto da vida?

– Senhoras e senhores, – a voz de Henri sai pelas caixas de som do avião – aqui quem fala é o comandante Henri, este é o vôo um sete um zero da Azul com destino à cidade do Rio de Janeiro. O tempo de vôo é de aproximadamente uma hora e o clima na cidade maravilhosa é de muito sol. Desejo à todos uma ótima viagem, especialmente ao meu noivo Pedro, que está conosco hoje. Pedro, tenha uma ótima viagem, eu te amo.

O meu coração para no peito. Meu Deus! Henri acabou de falar para todo mundo do avião ouvir que eu estou viajando com ele aqui. Minhas bochechas queimam de vergonha. As pessoas, assim como, eu ficam perplexas e não se escuta nem um pio durante um tempo, apenas o barulho das turbinas do avião. Seguro a respiração esperando que as pessoas voltem às suas conversas, o que acontece muito rápido. Uma parte de mim se preocupa com o fato de que talvez Henri tenha cometido uma besteira, e que pode ser demitido por causa disso. A outra se sente extremamente orgulhosa de ter uma declaração de amor pública assim no meio de um vôo.

Tento limpar a minha mente com respeito à problemas e me foco nos pensamentos da minha vida de casado com Henri. A verdade é que o meu maior medo desde que fui morar com ele nunca chegou perto de acontecer. Henri não se cansou de mim e eu não me cansei dele nem por um segundo. Será que nós nos precipitamos em começar com essa coisa de casamento agora? A gente já é praticamente casados, Henri.– Lembro de quando falei essas palavras. – A gente mora juntos, dorme juntos, acorda juntos... quer mais casado do que isso? E lembro também do que ele respondeu: Só falta uma coisa... Henri já estava planejando fazer esse pedido há algum tempo, por isso ele estava querendo tanto que nós viajássemos juntos.

Então é isso. – Suspiro, voltando a alisar minha aliança. – Estamos noivos. Carla e a minha mãe vão surtar quando ficarem sabendo. Agora temos que nos preocupar com as preparações do casamento. Com será que vai ser a cerimônia? Não faço a mínima ideia! – Balanço a cabeça. – Não vou me preocupar com essa cerimônia agora, afinal de contas nem marcamos a data. O que eu quero me preocupar agora é na grande apresentação que tenho na parada gay do Rio de Janeiro, que vai acontecer em alguns dias. Nunca pensei que um dia eu participaria de uma parada gay, especialmente que seria uma das pessoas apoiando a causa desse jeito. E nada me dá mais forças para perseverar nessa dança e clipe dificílimos de acertar do que saber que estaremos acima de tudo reivindicando nosso direito de existir. Que venha a parada!

Última Chamada (Amor sem limites #3)Onde histórias criam vida. Descubra agora