O jantar estava uma delícia e me sinto muito leve por causa do vinho. Parece que a missão foi cumprida com sucesso. Henri ficou super feliz com o jantar, os presentes e o clima romântico do restaurante. Eu é que tive que ter paciência para as milhares de ligações que ele recebeu dos seus amigos do trabalho e da empresa do tio. Aliás, este ligou, mas não ficou muito tempo no telefone e para completar ainda deixou Henri meio tenso quando voltou para a mesa. Mas no final das contas deu tudo certo e já me sinto um pouco sonolento. É hora de ir para casa.
– Então... posso pedir a conta? – Pergunto.
Antes que ele consiga responder, o celular toca de novo. Tento não revirar os olhos enquanto ele atende.
– Oi? – Alguém fala alguma coisa no telefone. – Sim. Quer entrar? Tudo bem.
Ele desliga o telefone e olha para mim com um olhar diferente, eu diria meio ansioso.
– O que foi? – Pergunto.
– Meu tio resolveu passar aqui para me dar um abraço. – Ele dá um sorriso sem graça. – Tem problema pra você?
– Não. – Dou de ombros. – Por mim tá tudo bem, sempre. E é o seu aniversário.
– Sem polêmicas? – Ele pergunta.
– Sem polêmicas. – Tento sorrir.
Confesso que a visita do tio de Henri me deixou surpreso, principalmente porque tenho certeza de que ele sabe que estou aqui. Então das duas uma, ou ele vai fingir que eu não existo e só vai falar com Henri – o que pra mim não faz nenhuma diferença – ou não vai ignorar a minha presença e "dar" isso de presente para seu único parente vivo. Vamos aguardar qual vai ser.
Henri tamborila com os dedos na mesa, me deixando um pouco ansioso também. Olho para ele e ele está olhando pensativo para mim.
– Ele está por aqui? – Tento quebrar o silêncio.
– Sim. – Ele se sobressalta. – Ele só está estacionando o carro.
– Legal. – Digo e olho para os lados para disfarçar minha insegurança.
O restaurante ainda tem bastante gente, o que me deixa um pouco menos inseguro. O tio de Henri não vai fazer uma cena em um lugar tão chique e com tanta gente olhando. Fico torcendo para que seja a segunda hipótese que imaginei, ele dar um dia de trégua de presente para Henri, ou até mesmo – viajando muito – ele poderia ter aceitado de vez o nosso relacionamento. – Suspiro. – Só me resta esperar.
E não demora até que ele chega. Endireito o corpo quando o vejo e espero que ele se aproxime. Henri se levanta e seu tio o abraça. Eles ficam ali abraçados enquanto seu tio deseja um mundo de felicidades para a vida dele – que com certeza não me inclui. Mas enfim, fico na minha e tento não ficar olhando muito. Quando eles terminam de se abraçar eu me levanto e o cumprimento com um aperto de mão. Digo um "tudo bem?" e ele apenas concorda com a cabeça.
– Senta com a gente. – Henri diz empolgado. – Posso pedir alguma coisa pro senhor?
– Uma água está ótimo. – Ele diz com formalidade.
Henri chama o garçom e pede a água para seu tio. Aproveito a brecha para deixá-los um pouco mais à vontade.
– Com licença. Vou ao banheiro. – Henri e eu trocamos um olhar rápido enquanto levanto da cadeira. Ele sabe que quero sair para que fiquem à vontade.
Seu tio mais uma vez não dirige a palavra à mim, apenas faz um sinal positivo com a cabeça. Que homem mais mal encarado, eu hein? Vou até onde fica o banheiro o mais devagar que posso. Quanto menos tempo passar perto daquele homem, melhor para minha saúde mental. O banheiro super cheiroso não tem ninguém. Entro em uma cabine vazia, baixo a tampa do vaso sanitário e me sento. Não quero fazer nenhuma necessidade, já havia vindo ao banheiro momentos antes do tio de Henri chegar. Só vou dar um tempo mesmo e volto em seguida.
– Aposto que eu sou a pauta da conversa. – Digo mentalmente.
– Você não é o centro do universo. – Respondo a mim mesmo.
– Quantas vezes o tio de Henri já apareceu na minha vida e ficou tudo na boa?
– Talvez hoje seja o dia que ele diga que vai ficar tudo bem. Afinal, minha mãe disse. O universo pode estar ao nosso favor.
– É... talvez.
Balanço a cabeça e resolvo sair. Não posso demorar muit senão vai ficar muito na cara que eu saí de propósito. Saio da cabine, passo no espelho, dou uma conferida no cabelo e volto andando bem devagar para nossa mesa. Assim que entro no salão principal, vejo a nossa mesa e pra minha surpresa, Henri não está lá, apenas seu tio. Chego e me sento no meu lugar.
– Onde está Henri? – Me obrigo a perguntar, tentando ser simpático.
– Foi resolver um problema de carro estacionado no lugar errado. – Ele diz me olhando.
– Ah sim...
– Eu queria aproveitar para dizer uma coisa. – Ele diz em tom firme.
– Pois não? – Rezo mentalmente para que seja coisa boa.
– Como sempre vou direto ao ponto. – Ele me olha intensamente. – Como você pode ver, eu já estou ficando velho e esta semana estava revendo o testamento com meu advogado. – Ele bebe um gole de água. – A questão é, Henri é minha única família e por isso, meu testamento deixa tudo o que tenho para ele. – Um sentimento ruim começa a crescer no meu peito. Aí vem merda. – E minha opinião com relação à essa aventura que vocês tem não mudou.
– Senhor... – começo a falar. Já vem esse velho com essa lorota de novo, é melhor cortar aqui e agora!
– Eu não terminei! – Ele diz levantando um dedo. Fico ainda mais nervoso, mas me calo. – Eu só queria dizer que se vocês continuarem com isso, vou retirar Henri do meu testamento e deixá-lo sem nada.
As palavras de Giuseppe me atingem no peito com um peso de uma tonelada. Tento respirar fundo e começo a ficar zonzo. As palavras somem do meu cérebro e não consigo formar nada para responder. Ele aproveita a deixa e continua.
– Então, vou te fazer uma última proposta. – Sua expressão é impassível. – Você inventa qualquer coisa para meu sobrinho e acaba com isso que vocês tem de uma vez por todas e eu te ofereço um emprego fixo em uma empresa de engenharia de um conhecido em São Paulo e de dou um apartamento bem localizado e mobiliado.
Continuo em silêncio. Não consigo responder nada. Meu coração está disparado e me sinto à beira de um colapso nervoso.
– Você tem duas semanas para decidir. – Ele diz se levantando. – Se você gosta mesmo do meu sobrinho, vai fazer a escolha certa. Tenho certeza de que essa aventura passageira vai terminar algum dia. Agora cabe a você deixá-lo sem nada para o resto da vida. Não sei se você sabe, mas Henri não ganha muito como piloto de avião, sou eu que pago muito mais do que ele realmente lucra com a parte pequena que ele tem da empresa. – Ele se debruça em cima da mesa olhando para mim e eu me encolho com o coração à mil e a garganta seca. – Duas semanas, nem um dia a mais. E ele não deve saber dessa proposta, senão está tudo desfeito.
Nenhuma palavra sai da minha boca. Sinto um frio na barriga e me controlo para não chorar.
– Foi um prazer te ver de novo. – Ele diz, se despedindo. – Volto a falar com você em duas semanas.
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Última Chamada (Amor sem limites #3)
RomanceQuando Pedro conheceu o piloto Henri, teve início um caso de amor que mudou a vida dos dois para sempre. Tudo era novidade para ambos, já que nunca haviam se envolvido com pessoas do mesmo sexo. A curiosidade, o desejo e por fim o amor aproximaram o...