Depois de passar a manhã inteira no pé de Lucinha, apresentado o apartamento que até eu mal conhecia, nós almoçamos. Ajudei a lavar as louças enquanto ela cozinhava, mesmo ela insistindo que não precisava. Depois do almoço dei uma organizada no quarto meu e de Henri, antes que Lucinha passasse por lá e fui tomar um banho. Quando deu duas da tarde já estava entediado de novo e ainda por cima me sentia atrapalhando os afazeres de Lucinha, então resolvi ir para a academia mais cedo.
Academia a essa hora não dá quase ninguém, pelo menos não na musculação, as aulas da Carla devem estar bombando. Hummmm... por que não ir até lá dar uma conferida? Engato uma primeira, desvio o meu caminho do salão de musculação e vou para o lado onde fica as salas individuais. Passo por todas e vejo Carla parada em uma da vazias, fazendo alguns passos de dança. Bato na porta e sorrio pelo vidro. Ela me vê e já vem correndo.
– P.O.zinho! Que saudade! – Ela me abraça. – Você agora só quer saber daquele piloto gostosão! – Ela me empurra com o mesmo entusiasmo que me abraçou.
– Também estava com saudades, Carlitcha.
– Mas me conta. – Ela diz, empolgada, arrumando o cabelo num rabo de cavalo. – O que te traz aqui tão cedo?
– Ah, nem me fala. – Suspiro. – Estou muito entediado em casa, sem fazer nada. Preciso de um emprego urgente.
– Mas você está morando com o Henri né? – Ele dá um sorriso malicioso. – Parece que você se casou antes de mim, afinal.
– Para com isso. – Fico vermelho. – Estou apenas me hospedando lá temporariamente. Assim que eu conseguir um emprego, vou arrumar o meu cantinho.
– Vem cá, vem! – Ela me puxa e nós entramos na sala. Ela se senta numa parte alta do salão e me puxa para sentar o seu lado. – Me conta como é morar com ele.
– Ah ele é ótimo, Carlitcha. – Sorrio, sem graça. – Henri é um amor. Faz de tudo para me agradar e me trata superbem.
– Mas então por que você iria querer se mudar, criatura de Deus?! – Ela dá um soco de leve na minha testa.
– Ai! Isso dói! – Faço drama.
– Desembucha. – Ela faz cara de brava.
– Por nada, só pra ter o meu cantinho mesmo. E também... – penso antes de dizer. – Eu tenho um pouco de medo dele enjoar de mim.
Carla revira os olhos.
– Ai, para com isso né P.O?! Quando duas pessoas se amam, elas não enjoam uma da outra tão facilmente e – ela aponta pra mim – eu sei bem que vocês se amam muito.
– É... mas sei lá...
– Para de ficar pensando com esse cabeção seu! – Ela ameaça outro soco na testa. – Deixa rolar. Seja você mesmo e pronto!
– Vou tentar... – Sorrio sem graça.
– Agora eu que tenho que te contar um babado. – Sua empolgação se esvai aos poucos.
– O que foi? Tá acontecendo alguma coisa entre você e o David?
– Pior que tá, menino. Nem te conto. – Ela suspira. – Advinha quem voltou e tá querendo me ver?
– Quem?! – Arregalo os olhos.
– O Caio... – Ela abaixa a cabeça. – Ele ficou sabendo que estou morando aqui e entrou em contato comigo.
– Gente, eu tô chocado. – Fico sem palavras. O ex-namorado da Carla surgindo assim do nada querendo conversar.
Ela não diz nada.
– Mas e aí? – Penso um pouco. – Carla, você ainda sente alguma coisa pelo Caio?
– Ai, amigo, eu sinceramente não sei. – Ela fecha os olhos. – Eu achava que não, mas a volta dele me deixou sentindo coisas. Não sei o que fazer. E pra completar, eu fico muito carente. O David passa a maior parte do tempo naquele hospital, quase nunca saímos nem fazemos nada divertido. Nosso relacionamento esfriou bastante.
– É verdade. Essa residência tá acabando com ele. Mas amiga, se você realmente gosta dele, vale a pena esperar ele terminar essa fase da carreira dele.
– Eu sei, P.O.zinho, mas agora com a volta do Caio eu fiquei muito confusa.
– Mas vocês já se viram? – Pergunto, arregalando os olhos. – Ele te beijou?
– Não. Ainda não nos vimos. Mas ele está me pressionando. E pra falar a verdade isso está me deixando ansiosa e muito estressada. – Ela se levanta e caminha, ficando de costas. Eu me levanto também. – E pra ser bem sincera, eu quero vê-lo.
– Ah, Carla, não sei o que te dizer. – Me aproximo dela e ela se vira. – A sua felicidade é mais importante do que a pessoa com quem você está. Por outro lado, o David é meu amigo e eu não gostaria de ver ele sofrer.
– Eu sei. Eu gosto muito dele, mas não sei o que fazer.
– Faz o seguinte. – Eu seguro a mão dela. – Vai lá encontrar o Caio, vê o que você sente e se ver que alguma coisa pode rolar, chama o David pra conversar e se abre pra ele, ou pede um tempo... sei lá... só não fica nessa ansiedade toda.
Ela concorda com a cabeça, fica séria por um momento e depois sorri.
– Tava sentindo falta das nossas conversas. – Ela abre os braços e eu a abraço forte.
– Vai dar tudo certo. – Digo no seu ouvido. – Quem manda ser gostosa e sexy desse jeito também?!
Nós dois caímos na gargalhada.
– Espero não estar interrompendo nada. – Uma voz conhecida vem da porta.
Olho para trás e Ralph está com um sorriso largo no rosto. Ele vai entrando devagar e se prepara para me cumprimentar com um aperto de mão. Está vestido com uma camiseta cinza e um cordão por cima junto com uma calça jeans e tênis brancos. Sua barba meio ruiva está por fazer, dando um charme a mais na sua aparência. E seu perfume já conhecido chega antes dele.
– Quanto tempo, P.O. – Seu sorriso reluzente quase me deixa cego.
– Oi, Ralph. – Sorrio, apertando sua mão. – Como tem passado?
Muito bem. Ele diz, dando um abraço e um beijo na Carla. Depois se vira de novo para mim.
– Fico feliz em vê-lo aqui. – Ele faz um gesto com a cabeça. – Já arrumou alguma coisa?
– Não... – faço uma careta triste. – Estou morrendo de tédio em casa. Até vim para a academia mais cedo.
– Hummm... que bom... – ele sorri. – Digo, que pena...
Carla e eu nos olhamos sem entender nada.
– Posso te convidar para ir na minha sala? Queria conversar uma coisa com você. – Ele me olha de um jeito sério.
Acho estranho esse convite para conversar assim, tão formal. Sinto um frio na barriga de repente, mas o reprimo. É só o Ralph – digo para mim mesmo.
– Claro. – Respondo.
– Te encontro na minha sala em dez minutos então. Só vou dar uma passada no financeiro para resolver um assunto. – Ele diz, acenando com a cabeça e saindo com pressa da sala. Se eu não o conhecesse, diria que está empolgado com alguma coisa.
Carla e eu ficamos sozinho e trocamos olhares. Do mesmo jeito que eu, ela está sem saber o que está acontecendo. Ralph está muito estranho. Abro a boca para falar alguma coisa quando ela me interrompe fazendo uma pose.
– Quem manda ser gostoso e sexy desse jeito?! – Ela faz um gesto com as mãos para o meu lado.
Nós caímos em outra gargalhada.
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Última Chamada (Amor sem limites #3)
RomanceQuando Pedro conheceu o piloto Henri, teve início um caso de amor que mudou a vida dos dois para sempre. Tudo era novidade para ambos, já que nunca haviam se envolvido com pessoas do mesmo sexo. A curiosidade, o desejo e por fim o amor aproximaram o...