Passamos o domingo todo arrumando as minhas coisas. Henri me ajudou o tempo todo. Às vezes ele vinha com uma cerveja e me dava, outras vezes ele trazia tira-gosto, frutas, amendoim e petiscos. Me parava aqui e ali para me beijar e me agarrava contra a parede – o que me tirava completamente o foco e ao mesmo tempo me deixava mais relaxado. Estava muito ansioso com essa mudança e Henri fez de tudo para me agradar. Mas mesmo ele me dizendo que aquele lugar agora era a minha casa e que era pra eu me sentir à vontade, ainda me sentia como convidado. Era muito surreal.
Depois de arrumarmos tudo, saímos para almoçar e depois fomos ao cinema. Fazia bastante tempo que não ia ao cinema, e foi muito bom para variar. Fomos a uma daquelas salas VIP de cadeiras reclináveis e serviço de entrega de comida no trailer. Nunca havia ido numa sala dessas e achei o conforto maravilhoso. Além do mais, a sala estava vazia e o filme era chato, então a gente ficava namorando mais do que assistindo ao filme. Foi a primeira vez que eu fiquei com ele num lugar público e me senti tranquilo. Não sei se foi pelo escuro do cinema ou porque tinha pouca gente. No fundo eu sabia que também estava cansado de ficar me escondendo o tempo todo. Henri parecia nunca ligar para o fato de que alguém poderia nos ver, então resolvi fazer o mesmo. No final, ninguém nos incomodou e saí de lá me sentindo bem animado.
Hoje Henri acordou muito cedo e foi trabalhar. Me permiti acordar um pouco mais tarde do que normalmente acordaria se estivesse trabalhando. Não deixei o desespero tomar conta de mim, afinal de contas só havia se passado alguns dias e eu tinha tempo e o apoio de Henri para conseguir me arranjar sozinho. Mas as coisas não saíram como eu imaginava. Ficar em casa o dia todo é muito tedioso. Naveguei por um tempo em sites de empregos, mas encontrei apenas duas vagas. Enviei o meu currículo assim mesmo e me desejei boa sorte.
O restante do dia foi muito monótono. Acabei pedindo comida por um aplicativo de entrega, mesmo com uma cozinha gigante e nova como a do apartamento de Henri – digo, nossa casa. Estava tudo tão impecável e eu não fazia ideia do que fazer, então fiquei horas enrolando. No final, quando já não estava me aguentando de fome, resolvi usar o aplicativo e pedir comida, que chegou muito mais rápido do que eu esperava. Depois de almoçar, tomei um banho e fiquei na frente da TV até à noite, quando jantei o resto do almoço.
Eu estava exausto de não fazer nada. Não queria falar com a minha mãe que estava desempregado, porque sei que ela ia ficar desesperada. Carla estava dando aula o dia todo e demorou horrores para responder minha mensagem. David então nem se fala. A falta do que fazer e o tédio começou a me deixar pra baixo e comecei a me sentir triste. Henri me ligou duas vezes durante o dia. Na segunda vez foi para avisar que chegaria tarde em casa.
Agora, depois de tomar o milésimo banho frio, estou deitado na cama, me sentindo o pior profissional do mundo porque estou desempregado. E também não tenho perspectiva de conseguir um novo emprego. Ainda tenho amigos da faculdade que engataram na pós graduação e no mestrado logo depois da faculdade porque não conseguiram emprego. Talvez essa seja minha única alternativa, seguir a área acadêmica...
Acordo com um movimento na cama. Henri está só de cueca branca, de bruços olhando na minha direção com um sorriso no rosto. Pisco duas vezes para meus olhos funcionarem e faço uma careta.
– O que foi, Piloto? – Minha voz sai rouca.
– Estava te observando. – Ele diz, ainda sorrindo.
– E gostou do que via? – Jogo um travesseiro nele.
– Gostei. – Ele se aproxima e se joga em cima de mim. – Você é muito lindo.
Abro a boca para responder, mas ele me rouba um beijo carinhoso. Depois ele se joga ao meu lado de barriga para cima, e me puxa para o seu peito. Eu sei que essa é a posição preferida dele para dormir, ele sempre faz isso. Ele também gosta que eu mexa no seu cabelo e orelhas, mas é comigo no seu peito que ele gosta de pegar no sono. É bem romântico e eu gosto muito do seu calor em meio ao ar condicionado do quarto.
– Como foi seu dia? – Pergunto.
– Hummm... foi ótimo. – Sinto a felicidade na sua voz. – Estava ansioso para chegar em casa e beijar a sua boca.
Escuto seus batimentos cardíacos e abro um sorriso.
– Você mal me beijou e já está com o coração acelerado. – Passo a mão pelos seu braços. – Ainda não se acostumou?
– Acho que nunca vou me acostumar. – Ele faz uma pausa. – Você me deixa nervoso.
– Eu?! – Levanto a cabeça surpreso para olhá-lo. – Por quê?
– Sei lá. – Ele dá de ombros. – Seu olhar me deixa nervoso. Foi assim desde o dia que eu te olhei no espelho da academia.
Dou uma risada baixa.
– Essa é nova pra mim! – Digo sorrindo e voltando a cair no sono.
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Última Chamada (Amor sem limites #3)
Roman d'amourQuando Pedro conheceu o piloto Henri, teve início um caso de amor que mudou a vida dos dois para sempre. Tudo era novidade para ambos, já que nunca haviam se envolvido com pessoas do mesmo sexo. A curiosidade, o desejo e por fim o amor aproximaram o...