Capítulo III

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        Eu não queria falar sobre a minha história. Não era esse o ponto, não queria mexer nisso.

 — Há milhares de anos, quando a vida começava a se tornar mais complexa, a Mãe Terra nos criou para fazer um mundo melhor. Seres poderosos e formados à sua ideia de perfeitos. Em seu ponto de vista, a perfeição não se adequa a um ser preso a uma única forma. Então nos fez metamorfas. Alguma ideia do que isso poderia ser?

        Um garoto de óculos levantou a mão.
 — Sim?
 — Quer dizer que vocês podem mudar a sua forma quando bem entenderem?
 — Bom palpite. Qual seu nome?
 — Jack White.
 — Muito bem. Jack, não se trata de mudar de forma de uma hora para outra. Mais alguém?

        A menina de cabelo curto azul levantou a mão.
 — Sim?
 — A srta. falou que quando a vida começou a se tornar mais complexa a Mãe Terra criou vocês. Mas, nessa época, o ancestral do homem ainda não existia, então vocês tomaram a forma de algum outro ser presente nesse período. É isso? Quando renascem vocês assumem a forma mais fácil de sobrevivência, não podendo mudar depois?

        Sorri.
 — Qual seu nome?
 — Evie Barrow.

        Evie Barrow. Não esquecer.
 — É exatamente o que você falou. Mas não se trata da forma mais vantajosa. Somos espíritos livres. Renascemos na forma que desejamos ser.
 — Qualquer coisa viva?
 — Qualquer coisa viva. Eu cheguei a ser um plâncton uma vez. Foi divertido.

        A sala soltou uma risada leve.
 — Enfim. O primeiro lugar em que nascemos será o mesmo para sempre, independentemente das circunstâncias. Quando surgimos, nosso propósito era apenas proteger a vida, mas, com o surgimento da sua espécie, um ser... inadaptável, pode-se dizer, e frágil, a Grande Mãe decidiu que cabia a nós protegê-los. Agora, levantem-se.

        A turma obedeceu.
 — Nossa aula não pode ser apenas teoria. Quero deixar bem claro que só porque estão do lado que apoia as Almas, não quer dizer que não vão lutar contra elas. Vocês vão. O mundo não é justo, muito pelo contrário. As que estarão lutando contra nós são aquelas que nasceram num país que não as aprovam.
 — Ué, mas elas não poderiam apenas fugir?
 — Não é tão simples. Eles raptaram-nas da Mãe Terra com menos de um ano de idade. Injetaram uma mistura de mercúrio, elementos radioativos e chumbo, as três únicas coisas que nos ferem, e conseguem controlá-las a partir disso. Lembrem-se do que eu direi: matem-nas, mas não perfurem o coração. Acertem em qualquer parte que mate o corpo, menos no peito. Aí, ela reencarnará.

 — Mas mesmo assim, — contestou outro — ela não irá para o mesmo lugar onde tudo começou?

 — Deixe isso com a Mãe Terra.
Eu esperava que pelo menos isso Ela resolvesse.
 — Muito bem. As Almas são divididas em várias categorias: Dia, Noite, Animais, Natureza, Vida, Morte, Gelo, Cores, entre inúmeras outras que não sei citar. Todas têm poderes em comum, como fogo, raios, hidrocinese, telecinese, poder de cura, e o mais importante... — caminhei até uma bancada e peguei uma pistola. Entreguei a um dos jovens — Como é o seu nome?
 — Brian McCarter.
 — Brian, — olhei fundo em seus olhos — atire em mim.
 — O... O quê?
 — Atire em mim.

        Observei enquanto o pavor dominava seu rosto, a tentativa de um riso nervoso, o braço tremendo. Estendi a mão e peguei a arma de volta.
 — Em uma guerra você vai precisar colocar o dedo no gatilho. — apontei para a minha barriga e atirei.

A Última AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora