Capítulo IX

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 — Bom dia. Muito obrigada por virem. Chamei vocês aqui para explicar como serão as coisas daqui pra frente. Todos aqui sabem como segurar uma arma e atirar, assim como sabem usar uma espada. Agora, ficar cara a cara com uma Alma inimiga não é tão simples assim. Por isso, pedi ajuda a nove amigas minhas. Cada grupo ficará permanentemente com uma delas para aprenderem a enfrentar Almas.

        Fiz um sinal para as nove se aproximarem.
 — Eu ficarei com o primeiro grupo. Twila, — ela levantou a mão — com o segundo. Íris com o terceiro e Selene com o quarto. Aurora com o quinto, Eura com o sexto e Melody com o sétimo. Skadi com o oitavo, Lissa com o nono e Aita com o décimo.

        Observei os soldados do grupo dez cochichando entre si, e decidi completar:
 — Fiquem tranquilos, elas estão aqui para ajudá-los a... Sobreviver.
Mesmo Aita sabendo quem iria morrer.


        Depois de mais alguns avisos, encerrei a reunião e caminhava até o meu galpão quando ouvi alguém gritar. O grito cessou muito rápido, — mais que o normal — mas não era como se a vítima tivesse parado de ter medo. Olhei para Melody, e já sabia exatamente do que se tratava.
Corremos até a floresta.
 — Você acha que é ela? — perguntei arfando.
 — Tenho certeza.
Quando Melody falava, era melhor acreditar.
Quanto mais perto chegávamos, mais espessa era a fumaça roxa que nos rondava.

        E aí, eu a vi.
 — Harmony.
        Ao som de seu nome, ela virou o seu rosto e me encarou. Seus olhos completamente roxos emanavam pura fúria. Ao seus pés, Brian gritava agachado com as mãos tapando as orelhas.
 — Pare. — disse Melody firmemente.

        Eu estava prestes a falar alguma coisa, mas minha colega bloqueou minha voz. Entendi isso como um aviso para ficar quieta. Harmony emitiu um som que não consegui decifrar, uma língua muito antiga das Almas do Som. Melody dialogava com ela e eu só consegui entender poucas palavras.
        Venha, fadada, morrer, Mãe Terra, castigo.
        Dito isso, Harmony estreitou os olhos e soltou um grito tão alto, amplificado pelos seus poderes. Melody chegou até mim para abafar o som, mas apontei para Brian. A vi proteger o menino e flashes brancos tomaram conta de meu campo visual. Endureci o sangue em minha cabeça, em uma tentativa desesperada de proteger meus ouvidos.


        Quando finalmente acabou, eu estava com as mãos e os joelhos apoiados no chão.
 — Levante-se. — falou Melody — Ela já foi.

        Enquanto levantava, percebi meu rosto molhado pelas lágrimas e um corte devido à queda. Olhei para o lado e lembrei de Brian. Corri até ele, que tremia deitado. Pus minha mão em seu peito e uma luz dourada irradiou pelo seu corpo. O menino parou de tremer e abriu os olhos. Sentou-se devagar e me perguntou:
 — General, quem... Quem era?

        Pude perceber o desespero em sua voz, os olhos quase deixando escapar lágrimas.
 — Ninguém importante, McCarter. — respondi com a maior cautela do mundo.
 — P... Por quê?

        Suspirei.
 — Ela foi feita da maneira errada.


        Mandei Brian para a enfermaria, prometeram cuidar dele. Quando voltei para o pátio, vi Melody olhando para a floresta, o vento esvoaçava seus cabelos. Caminhei até ela e, durante alguns minutos, não dissemos nada.

 — Consegue ouvir? — perguntou.
 — Ouvir o quê?
 — A melodia do vento. É tão bonita, tão compreensível, e ao mesmo tempo tão incerta. É tão simples ouvir a beleza em tudo. Harmony não conseguia. Ela não ouvia. É difícil manter a sanidade com a eternidade pela frente. Ela não compreendia os seres humanos.
 — Como... Como a Mãe Terra não a castigou?

        Melody fechou os olhos com força e respirou bem fundo.
 — Minha irmã não era perfeita.

        Ela não era perfeita. 

A Última AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora