Capítulo XLI

30 8 4
                                    

      Enquanto eu vejo a cabeça de Demerato Makar perder a cor, o barulho das bombas diminui junto com o dos tiros. Os Solines ao meu redor largam as armas e ouço sirenas soarem. O rei caiu. Acabou, acabou, acabou.

      Tento respirar fundo e me manter no presente, me manter calma, mas não consigo. Não há como. Caio de joelhos e olho para minhas mãos sujas de sangue. Sujas de sangue, sujas de sangue, sujas de sangue.

      A espada do líder Soline está jogada ao lado de seu corpo amarrado pelas correntes de escuridão, então a pego e passo a mão pela sua lâmina. Consigo sentir o sol esculpido na base da arma, então solto mais uma risada amarga.

— Humanos desprezíveis. Estavam cavando a própria tumba.

      Quando caio de lado e olho para o céu, há apenas uma estrela brilhando na sombra do meio sol; fecho os olhos ao barulho de tanques de resgate e helicópteros. Tento dormir, mas a perturbação do fim de uma guerra não permite a paz e a cura e a sanidade me dominarem.

      Sinto um pequeno tremor e a terra abaixo de mim se repuxa, me movimentando. Assim que abro os olhos e me sento alarmada, a vejo criar forma humana e sair do solo.

      A Mãe Terra.

      Enquanto Ela caminha até mim perco o fôlego; a Grande Mãe só tinha aparecido para mim assim uma vez. 

       No dia do meu nascimento.


      Eu não sei como tudo era antes de eu surgir.

Para mim, tudo era escuridão. O tudo era o nada. Não era nada, havia o nada.

      Vejo uma luz, várias luzes. Várias luzes na escuridão. Abaixo de mim é macio. É verde. Um barulho me conforta. Eu choro. Estou com frio, minhas pequenas mãozinhas tentam alcançar o céu, quero muito que o manto noturno me acoberte.

      Continuo chorando. Estou com fome. Estou com sede.

— Ah, olá, pequena. — alguém me pega nos braços — Uma pequena estrela tentando achar seu espacinho na escuridão. Seu nome é Nix.

      Olho para a moça ao som do que viria a ser o meu nome por toda a eternidade.

— Você é uma das minhas filhas perfeitas.

      Seus passos não pesam nada, sua pele é da cor da terra. Seus cabelos são folhas verdes e amarelas além dos pequenos rios que escorrem. Seus olhos cobrem todas as cores.

— Minha pequena Nix. — Ela estende a mão em minha direção — Ande, pegue a minha mão.

— Mãe Terra.

      A divindade acaricia meu rosto sujo e molhado de suor, então me abraça e sinto meu ombro ser molhado levemente. A Mãe Terra está chorando.

— A minha Nix. — se desvencilha e me olha por inteiro.

— Por que eu, Mãe Terra? Por que não fala com suas filhas perfeitas?

A Mãe Terra olha para o chão, mas volta a encarar meus olhos negros.

— A única imperfeita. A última Alma restante no campo de batalha.

      A última Alma restante no campo de batalha.


___________________

FIZ JUS AO NOME, NÃO É MESMO? 

Heyaaa, deixa sua estrelinha, lembrando que a história tá acabando😭

A Última AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora