Acordo ao lado de uma cachoeira, em uma floresta próxima à cidade grande. Bocejo.
— Bom dia, Mãe Terra!
Lavo meu rosto e encaro meu reflexo. Ah, meus cinco anos. Olho em volta à procura de Lune. Aí, me lembro.
Quando vai falar com ela, Nix?
— Não vou! — teimo — Foi ela que brigou comigo!
Tento recordar a briga. Na verdade, não me lembro nem o porquê da mesma, mas o meu orgulho não mudou mesmo depois de se passar uma vida. Literalmente.
Ouço um barulho; é uma macieira estendendo seus braços para me entregar uma fruta.
— Obrigada, Mãe Terra! — dou uma mordida.
Encaro a cidade, dou uma risada e corro até o parque mais próximo.
Me aproximo devagar das dezenas de crianças com seus pais no parquinho. Nesse momento, sinto-me sozinha. Como será que é ter uma mãe em carne e osso? Uma mãe com cheiro, que é possível dar um abraço? Uma mãe que te dê a mão e te acompanhe até qualquer lugar?
Um vento sopra em meu rosto e sorrio. Correndo até um grupo de crianças, percebo alguns adultos me encarando. Uma mulher se aproxima.
— Está perdida, meu bem?
— Hum... Não. Estou bem, obrigada.
— Onde está sua mãe?
— Minha mãe? Ela está em todos os lugares.
A moça comprime os lábios e se afasta. Deixo para lá e começo a tentar falar com as crianças; tentativa falha. Elas me tratam diferente.
Todas menos uma.
— Oi. — diz uma menina, com cabelo cacheado e pele cor de chocolate.
— Oi. — respondo sorrindo.
— Qual seu nome?
— Nix, e o seu?
— Violeta.
O tempo começa a passar. As folhas, antes verdes e brilhantes, tornam-se uma pele marrom e quebradiça, e o que antes era o presente se torna um tesouro esquecido.
2254. Agora, vejo ela sentada no balanço, o parquinho vazio. Chego e sento ao seu lado.
— Eu odeio o Nicolau González. — digo.
Ela concorda. Logo, percebo que Violeta chora.
— Eu estou com medo, Nix. Minha mensagem chegou ontem. Faço parte da lista dos convocados. Eu não quero ir.
— Eu também não, Violeta. A minha mensagem do exército chegou semana passada.
— Mas... — ela olha bem em meus olhos — Mas você é uma Alma.
— Mas eles não sabem disso. Se souberem, vão me matar. Prefiro morrer defendendo meu país do que ser guilhotinada por uma coisa que sou.
Silêncio.
— Você percebeu que nossa vida acaba aqui, certo? Terceira Guerra Mundial... Que roubada.
— Nossa vida não acaba aqui. Vai existir o depois.
— Vai existir o depois para você.
— Tanto para mim quanto para você.
Minha amiga olha para a frente, para as árvores.
— Eu não quero morrer, Nix.
A abraço e sentamos no chão.
— Eu também não quero, Violeta.
— Me promete uma coisa? – pergunta.
— O quê?
— Se eu morrer, — segura minhas mãos, uma lágrima escorrendo — você vai seguir sua vida, ok? Você tem a eternidade pela frente.
Sorrio.
— Só se você me prometer a mesma coisa.
Violeta sorri.
— Só... Só não me esqueça.
— Nunca, Violeta. Nunca.
Só lembranças.
Acordo batendo com o corpo no chão. Ponho as mãos na cabeça, mal humorada.
Se eu pudesse me mostrar a todos como Alma, talvez eu conseguisse salvá-la._______________________________
Hey humaninho! Se vc gostou do cap deixa a estrelinha que me anima muito! 💜💜😜😍
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A Última Alma
Aktuelle LiteraturA Mãe Terra as criou. As Almas. Seres criados à sua ideia de divinos, seres criados para proteger os humanos. Seres místicos, poderosos e... Perfeitos. Nix é a exceção. Mesmo criadas para proteger os humanos, muitos não as enxergavam como prote...