Capítulo XVI

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        Acordo ao lado de uma cachoeira, em uma floresta próxima à cidade grande. Bocejo.

 — Bom dia, Mãe Terra!
        Lavo meu rosto e encaro meu reflexo. Ah, meus cinco anos. Olho em volta à procura de Lune. Aí, me lembro.
        Quando vai falar com ela, Nix?
 — Não vou! teimo — Foi ela que brigou comigo!
        Tento recordar a briga. Na verdade, não me lembro nem o porquê da mesma, mas o meu orgulho não mudou mesmo depois de se passar uma vida. Literalmente.
        Ouço um barulho; é uma macieira estendendo seus braços para me entregar uma fruta.
 — Obrigada, Mãe Terra! dou uma mordida.
        Encaro a cidade, dou uma risada e corro até o parque mais próximo.
        Me aproximo devagar das dezenas de crianças com seus pais no parquinho. Nesse momento, sinto-me sozinha. Como será que é ter uma mãe em carne e osso? Uma mãe com cheiro, que é possível dar um abraço? Uma mãe que te dê a mão e te acompanhe até qualquer lugar?
        Um vento sopra em meu rosto e sorrio. Correndo até um grupo de crianças, percebo alguns adultos me encarando. Uma mulher se aproxima.
 — Está perdida, meu bem?
 — Hum... Não. Estou bem, obrigada.
 — Onde está sua mãe?
 — Minha mãe? Ela está em todos os lugares.
        A moça comprime os lábios e se afasta. Deixo para lá e começo a tentar falar com as crianças; tentativa falha. Elas me tratam diferente.
        Todas menos uma.
 — Oi. diz uma menina, com cabelo cacheado e pele cor de chocolate.
 — Oi. respondo sorrindo.
 — Qual seu nome?
 — Nix, e o seu?
 — Violeta.
        O tempo começa a passar. As folhas, antes verdes e brilhantes, tornam-se uma pele marrom e quebradiça, e o que antes era o presente se torna um tesouro esquecido.
2254. Agora, vejo ela sentada no balanço, o parquinho vazio. Chego e sento ao seu lado.
 — Eu odeio o Nicolau González. digo.
Ela concorda. Logo, percebo que Violeta chora.
 — Eu estou com medo, Nix. Minha mensagem chegou ontem. Faço parte da lista dos convocados. Eu não quero ir.
 — Eu também não, Violeta. A minha mensagem do exército chegou semana passada.
 — Mas... ela olha bem em meus olhos Mas você é uma Alma.
 — Mas eles não sabem disso. Se souberem, vão me matar. Prefiro morrer defendendo meu país do que ser guilhotinada por uma coisa que sou.
        Silêncio.
 — Você percebeu que nossa vida acaba aqui, certo? Terceira Guerra Mundial... Que roubada.
 — Nossa vida não acaba aqui. Vai existir o depois.
 — Vai existir o depois para você.
 — Tanto para mim quanto para você.
        Minha amiga olha para a frente, para as árvores.
 — Eu não quero morrer, Nix.
A abraço e sentamos no chão.
 — Eu também não quero, Violeta.
 — Me promete uma coisa? – pergunta.
 — O quê?
 — Se eu morrer, segura minhas mãos, uma lágrima escorrendo você vai seguir sua vida, ok? Você tem a eternidade pela frente.
        Sorrio.
 — Só se você me prometer a mesma coisa.
        Violeta sorri.
 — Só... Só não me esqueça.
 — Nunca, Violeta. Nunca.
        Só lembranças.


        Acordo batendo com o corpo no chão. Ponho as mãos na cabeça, mal humorada.
Se eu pudesse me mostrar a todos como Alma, talvez eu conseguisse salvá-la. 

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