Capítulo VIII

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        "Reunião geral no salão principal". Minha voz soava sem parar nos alto falantes. Eu estava em uma sala no andar de cima do salão com as nove Almas à minha frente.

        Twila, Íris, Selene, Aurora, Eura, Melody, Skadi, Lissa e Aita.
Natureza, Cores, Vida, Dia, Vento, Sons, Gelo, Animais e Morte.
 — Muito obrigada por virem, obrigada por me ajudarem a treinar esses jovens.
        Eu conhecia as nove há muito tempo, mas não mantinha muito contato com a maioria delas.

        Tinha pavor da Aita. Suas cicatrizes me deixavam apavorada. As marcas dos que tentaram matá-la me davam calafrios. Ela emanava uma aura que só as Mortes conseguiam, e todas tínhamos medo dela passar a mão em nossas cabeças. Ela e Selene foram feitas sendo extremos opostos, mas me surpreendia como se tratavam. Acho que não chegavam a ser amigas, mas sabiam mais do que ninguém como uma não vivia sem a outra, tinham plena consciência de que se precisavam. Enquanto a Morte usava uma capa escura e seu olhar era apagado, a Vida sempre usava roupas animadas e chamativas, além de seu olhar ser sempre alegre e brilhante.

        Twila e Lissa eram muito ligadas. A natureza sempre andou de mãos dadas com os animais, é assim desde que a Mãe Terra existe. Além das duas se darem muito bem, a amizade delas atravessou milênios, eu não duvidava nada de que uma delas se sacrificaria pela outra. Enquanto Twila tinha olhos verdes e cabelo castanho claro, Lissa era ruiva e tinha um olho de cada cor, âmbar e azul.

        Skadi e Íris se davam bem, mas nunca foram amigas. A do Gelo vivia em Abumius, e a variedade de cores nunca foi muito presente lá. Quando apenas o azul, o cinza e o branco aparecem, nenhuma Alma das Cores se sente em casa.

        Aurora era o meu oposto, mas sempre fomos amigas. Apesar de não manter contato, ela é aquela amiga que está lá para o que der e vier. Enquanto meus cabelos e olhos eram tão escuros quanto a noite, e minha pele tão branca quanto o brilho das estrelas, seus olhos eram da cor do crepúsculo e o cabelo cinza claro, aquele que refletia todas cores do dia.

        Eura era uma das donas do vento. Fazia muito tempo que eu não a via, não tinha certeza se a amizade que cativamos em vidas passadas tinha resistido aos anos separadas. Eu gostava muito dela. Seus cabelos sempre esvoaçantes voltaram a me dar medo, graças ao tempo afastada. Ela tinha uma aura diferente, mais viajante. Seus olhos pareciam ter visto de tudo.

        E por fim, Melody. Ela era a ironia pura. Era uma Alma do Som, mas era muito quieta. Melody podia controlar tudo que emitia barulho, tanto aumentar quanto diminuir. Já a vi em ação, ela fez uma pessoa não ouvir nada, e depois ouvir tudo ao mesmo tempo, a um volume terrível. A vítima quase ficou louca. Deve ser por isso que a Alma do Som é tão calada. Deve ser para esconder as torturas que praticou.
 — Aqueles jovens são inexperientes, nunca pisaram em solo de guerra. Quero que os ensinem com muita paciência, eles são a chave para a nossa sobrevivência. Se não aprenderem, nós morremos. É nosso trabalho ensiná-los. Quero que usem seus poderes para dar-lhes experiência, — olhei para Melody — mas não a ponto de matá-los. — Após isso, encarei Aita — Aita, por favor não os apavore.

        A Morte torceu o nariz.
 — Eu sou a Morte. Eu sempre os apavoro, é inevitável.

        Suspirei.
 — Olha, eu sei que você sabe quem vai e quem não vai morrer, mas os trate como se não fossem.
 — Eu sempre fiz isso, Nix. Não precisa dizer à Morte o que fazer e o que não fazer.
 — Tudo bem, me desculpe. Só estou pedindo para ser gentil.
 — Eu vou ser. Deveria pedir isso para outras. — ela apontou com a cabeça para Eura.
 — Não me meta nisso. — exclamou a Alma do Vento — Sempre fui gentil.
 — Sabemos que não é verdade. — completou Íris.
 — Eu tento ser. Não agrado a todos, como você. — respondeu à Íris.
 — Eu não agrado a ninguém. — completou Aita — E mesmo assim sou gentil. É obrigação.
 — Eu sou amável, você podia tentar um dia desses.

        Senti o ar da sala gelar.
 — "Tentar ser amável"? — repetiu a Morte — Eu não tenho sentimentos para tentar ser alguma coisa. Eu não sinto dor, amor ou esperança. Eu não sinto nada. Não venha me dizer o que ser, porque o que você será amanhã depende de mim.

        Arregalei os olhos. Não se brinca com a Morte. O rosto de Eura perder a cor.
A sala ficou em silêncio, e eu disse:
 — Calma. Postura. Somos exemplos, espelhos. Boa impressão para aprenderem direito.
Dito isso, abri a porta e vi os soldados.

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