Quando fui à enfermaria naquela noite, a janela estava escancarada e o quarto, vazio. Saí correndo pelo campo. Aonde ela foi? Será que os Solines entraram aqui? Quando ia entrar na floresta, vi Luar sentada no telhado do meu galpão. Soltei um suspiro de alívio e voei até lá.
— O que faz aqui? — perguntei.
Ela olhou para mim com apenas uma sobrancelha levantada.
— O que faço aqui? Observo a lua, sinto o aconchegante frio da noite. E pensar que fiquei tanto tempo sem isso tudo.
O chão parecia tão perto, mas tão difícil de ser alcançado.
— Eu não compreendo. — comecei — Como fomos feitas para defender uma raça tão... desprezível?
Ela olhou para mim com um meio sorriso.
— É estranhamente desprezível, não é? É desprezível e ao mesmo tempo tão incrível e amável.
Respirei fundo, olhando as estrelas.
— Por que veio me procurar, Nix?
— Ah, eu... Por que você disse aquilo? — vi sua reação e indaguei — Por que está rindo?
— É uma coisa simples, Nix. Minha empatia é muito grande, percebo facilmente certas coisas.
Senti a cor sumir do meu rosto.
— P-percebeu o quê?
— Eu compreendo as pessoas pelo olhar. Vi pelos seus olhos apavorados. Vi que você não é perfeita.
Encarei a lua, já que eu não podia olhar para ela.
— Pelo menos você acha que não é.
— Como assim?
— Você já parou para pensar — uma tentativa falha da parte dela de acender chamas — que ao meio de tantos seres perfeitos não existe nenhum? Que quando todos são perfeitos, o único imperfeito pode ser o único que vá fazer a diferença. O único diferente.
Minha irmã abriu um sorriso largo e me abraçou de lado.
— Você pode ser a escuridão que vai guiar a luz.
— Obrigada. — disse após soltar uma risada.
— De nada.
Levantei-me e comecei a caminhar pelo telhado.
— Acho que eu passei tanto tempo escondendo que era errada que nem percebi que meu errado pode ser o meu certo.
Luar se levantou.
— Exatamente. O perfeito da Mãe Terra é perfeito demais. Chega a ser chato, frio e imperfeito.
— Shh. A Mãe Terra vai ouvir.
Ela deu de ombros.
— E daí? Ela me fez perfeita.
Deixei Luar em seu quarto na enfermaria, já era tarde da noite. Eu não estava com o mínimo de sono.
Apesar de estar caindo de cabeça em uma guerra, eu estava leve. Feliz. Olhei para um dos prédios dos soldados; a luz estava acesa, então voei até a janela e bati no vidro, de leve.
— Evie? — sussurrei.
A dona dos cabelos azuis abriu a janela.
— Nix? O que faz aqui? — perguntou, sorrindo.
— Ainda pergunta? Vim ver você, bobona. — Evie se sentou na janela e pulou do terceiro andar. Quando atingiu o chão, rolou para amortecer a queda.— Ficou louca? Podia ter se machucado!
— Eu estou indo para uma guerra. Três andares não são nada. — se limpou e completou: — Então... O que quer fazer?
— Que tal apenas... Sermos humanas? — soltei, depois de olhar para a lua.
Ela abriu ainda mais o sorriso e me deu a mão._______________________________
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A Última Alma
General FictionA Mãe Terra as criou. As Almas. Seres criados à sua ideia de divinos, seres criados para proteger os humanos. Seres místicos, poderosos e... Perfeitos. Nix é a exceção. Mesmo criadas para proteger os humanos, muitos não as enxergavam como prote...