Capítulo XXIII

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        Fogo e gelo se chocam, fúria entre eles. Raios cobrem o céu, entre a luz e a escuridão. A vida e a morte caminham lado a lado agora.

        Barulho de metralhadoras, as bombas que caem dos aviões silenciosos, as espadas manchadas de sangue. Meus olhos procuram um rosto conhecido entre os cadáveres jogados pelo chão.

        Uma bomba surge, parece que o próprio céu a jogou. Mas não é o céu, é um K-60. Estico os braços e faço um escudo, escuro e brilhante como a noite, ao meu redor. Enquanto a bomba cai há poucos metros de mim, sou arrastada e ralo meu dorso. Ouço um grito desesperado, um choro de cortar a alma, de estilhaçar corações. Corro naquela direção e vejo sangue. Jack está jogado ao chão, ele não respira. Ao seu lado, Brian chora. 

 — Não, não...

        Ajoelho e faço um escudo surgir ao nosso redor.

 — Brian! 

        O garoto está em choque, não me responde nem se mexe. Ponho as mãos em seu rosto cuidadosamente. Ele treme. 

 —  Brian. — o soldado olha para mim — Você já aprendeu tudo o que precisa saber. Agora precisa aprender a dizer adeus. 

Brian olha para o amigo morto, mas não diz nada.

 — Existe algo que você gostaria muito de fazer depois disso tudo?

A voz finalmente sai de sua boca, um sorriso melancólico tomando conta do rosto machucado. 

 — Eu gostaria de... Rever a minha filha. 

 — Ótimo. Então levante-se e erga a arma, ou vai morrer ao lado dele. 

        Ele me observa chocado, mas se levanta. 

 — Pronto?

        Depois que ele concorda, desfaço meu escudo. Raios crescem entre meus dedos e se espalham pelo meu corpo, alcançando o chão e os Solines ao redor. 

 — Não derrame lágrimas no campo de batalha.— digo e armo uma flecha.


        Doze dias. 

        Onde está meu grupo? Onde está Melanie? Onde estão Eura e Selene? E Íris? Onde estão Luar e Evie?  E-eu não sei, não consigo ter certeza de mais nada. Consigo sentir o sangue correndo em minhas artérias a uma velocidade inimaginável, escuto e estou atenta a cada detalhe. Queria não estar. 

        Agora eu olho o campo de batalha, parada, a pistola sem balas, minhas flechas acabando. Preciso voltar para a base, mas minhas pernas não me obedecem. Mesmo com a visão de minha raça sendo massacrada eu não me mexo. O que está acontecendo comigo? 

        Uma voz chama minha atenção, tirando-me do transe. 

 — Nix!— grita, batendo a espada em outra que mirava em meu peito. 

        Luar aperta o gatilho três vezes e o homem cai. 

 — Está louca?— grita— Mexa-se! 

        Um sorriso cresce lentamente em meu rosto, solto um suspiro de alívio que está preso há doze dias. Não derrame lágrimas no campo de batalha. Que se dane. Pulo em seu abraço.

 — Você está viva! E você está bem! 

Minha irmã se desvencilha do abraço, me segura pelos ombros e me sacode. 

 — Acorde! Você podia ter morrido! 

 — Você também!  Abaixe!

        Ela me obedece e atiro uma flecha. 

 — Eu estava preocupada! Não posso perder outra irmã!

 — Então se esforce para ficar viva, para eu não te perder. Sua esquerda!— Luar levanta a espada e arranca a cabeça de um Soline. 

        Quando percebo, uma espada perfurou minha barriga.

A Última AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora