Capítulo XXXI

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        Cinzas.

        Os risos da Alma da Vida martelam em minha cabeça, mas as lágrimas não caem. Eu seguro a flecha manchada com força, minhas mãos tremem. Meus joelhos estão caídos em cima das folhas mortas e molhadas.

        Dor. Cicatrizes na alma. Aperto no peito.

        Levanto-me e largo a flecha. Luar põe a mão em meu ombro, mas a tiro. É possível ouvir as lágrimas de Aurora descendo pelo seu rosto pálido e o barulho das folhas sendo esmagadas até o fim da floresta.

        Os hematomas em meu ser caminham junto aos passos doloridos. Meu escudo foi estilhaçado e a escuridão agora escorre.

 — Sorria! A foto vai ficar horrível assim.— exclama Selene com a câmera na mão.

 — Podemos comer? Sabe que não gosto de tirar foto.

 — Qual é, Nix! Esses seus cabelos escuros vão ficar lindos nesse fundo azul. Diga à ela, Mãe Terra!

        Silêncio.

 — Não peça opinião para Ela. — digo— A Mãe Terra não vai te responder. Ela nos abandonou há tempos.  

Selene ri.

 — Esquece a foto e venha. Vamos almoçar.— a Alma da Vida faz uma pausa— Por que essa cara?

 — Não é nada.— balanço os ombros— Levantei de mau humor.

        Ela segura minhas mãos e faz uma careta, arrancando-me uma risada sincera.   

        Me dê cinco minutos de paz nesse lago.

        Me dê cinco minutos sem guerra.

 — Me dê cinco minutos a mais com você.

        Selene, Selene, Selene.

Jogo a espada no chão e me lanço junto.

        Grito, grito até não sair mais som nenhum.

 — Por que eu continuo com isso?

 — Por que você precisa.— diz Lissa, estendendo a mão— Você precisa continuar. 

 — Não, eu não preciso. Eu não posso.

        A Alma dos Animais me dá um tapa no rosto. Nunca pensei que fosse capaz disso. Parece que a guerra mexeu com todas. 

 — Você pode e você consegue. Estamos todas contando com você e não vamos deixar você cair. Skadi me disse isso quando Twila foi morta e vou te dizer agora: a Selene morreu e ela morreu lutando pelo que escolheu e você não pode fazer merda nenhuma a respeito. Dói? Dói. Mas vai doer mais ainda se todas nós fomos extintas.— Lissa segura meu rosto com força. Seus olhos heterocromáticos são hipnotizantes— Agora pegue sua espada e se recomponha, você não tem opção.

        Faço o que ela manda e me afasto do lago. 

        Corro e armo uma flecha. O mar está próximo a mim e até ele parece perturbado. Uma chuva de balas vem em nossa direção; eu e Eura nos escondemos atrás de uma enorme pedra. Encosto e recarrego a arma. 

 — Escuta.— começa— Independentemente do que acontecer, eu quero que você continue lutando e se os Solines vencerem eu quero que você fuja

Concordo, nervosa. 

 — Ainda não acabei. Não fique aqui para ser morta, não se entregue. Não faça que nem a Áurea, por favor. Não posso perder outra irmã. Me prometa.

        Olho para ela; seus cabelos brancos estão cobertos de fuligem.

 — Prometo.

Pedregulhos caem acima de nós.

 — Mas... Por tudo isso agora? Por que não me falou isso tudo antes de começar a guerra? 

        Eura olha para o chão e arma uma flecha. Então a solta.

 — Ouço o choro de vento.  

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