Cinzas.
Os risos da Alma da Vida martelam em minha cabeça, mas as lágrimas não caem. Eu seguro a flecha manchada com força, minhas mãos tremem. Meus joelhos estão caídos em cima das folhas mortas e molhadas.
Dor. Cicatrizes na alma. Aperto no peito.
Levanto-me e largo a flecha. Luar põe a mão em meu ombro, mas a tiro. É possível ouvir as lágrimas de Aurora descendo pelo seu rosto pálido e o barulho das folhas sendo esmagadas até o fim da floresta.
Os hematomas em meu ser caminham junto aos passos doloridos. Meu escudo foi estilhaçado e a escuridão agora escorre.
— Sorria! A foto vai ficar horrível assim.— exclama Selene com a câmera na mão.
— Podemos comer? Sabe que não gosto de tirar foto.
— Qual é, Nix! Esses seus cabelos escuros vão ficar lindos nesse fundo azul. Diga à ela, Mãe Terra!
Silêncio.
— Não peça opinião para Ela. — digo— A Mãe Terra não vai te responder. Ela nos abandonou há tempos.
Selene ri.
— Esquece a foto e venha. Vamos almoçar.— a Alma da Vida faz uma pausa— Por que essa cara?
— Não é nada.— balanço os ombros— Levantei de mau humor.
Ela segura minhas mãos e faz uma careta, arrancando-me uma risada sincera.
Me dê cinco minutos de paz nesse lago.
Me dê cinco minutos sem guerra.
— Me dê cinco minutos a mais com você.
Selene, Selene, Selene.
Jogo a espada no chão e me lanço junto.
Grito, grito até não sair mais som nenhum.
— Por que eu continuo com isso?
— Por que você precisa.— diz Lissa, estendendo a mão— Você precisa continuar.
— Não, eu não preciso. Eu não posso.
A Alma dos Animais me dá um tapa no rosto. Nunca pensei que fosse capaz disso. Parece que a guerra mexeu com todas.
— Você pode e você consegue. Estamos todas contando com você e não vamos deixar você cair. Skadi me disse isso quando Twila foi morta e vou te dizer agora: a Selene morreu e ela morreu lutando pelo que escolheu e você não pode fazer merda nenhuma a respeito. Dói? Dói. Mas vai doer mais ainda se todas nós fomos extintas.— Lissa segura meu rosto com força. Seus olhos heterocromáticos são hipnotizantes— Agora pegue sua espada e se recomponha, você não tem opção.
Faço o que ela manda e me afasto do lago.
Corro e armo uma flecha. O mar está próximo a mim e até ele parece perturbado. Uma chuva de balas vem em nossa direção; eu e Eura nos escondemos atrás de uma enorme pedra. Encosto e recarrego a arma.
— Escuta.— começa— Independentemente do que acontecer, eu quero que você continue lutando e se os Solines vencerem eu quero que você fuja.
Concordo, nervosa.
— Ainda não acabei. Não fique aqui para ser morta, não se entregue. Não faça que nem a Áurea, por favor. Não posso perder outra irmã. Me prometa.
Olho para ela; seus cabelos brancos estão cobertos de fuligem.
— Prometo.
Pedregulhos caem acima de nós.
— Mas... Por tudo isso agora? Por que não me falou isso tudo antes de começar a guerra?
Eura olha para o chão e arma uma flecha. Então a solta.
— Ouço o choro de vento.
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A Última Alma
General FictionA Mãe Terra as criou. As Almas. Seres criados à sua ideia de divinos, seres criados para proteger os humanos. Seres místicos, poderosos e... Perfeitos. Nix é a exceção. Mesmo criadas para proteger os humanos, muitos não as enxergavam como prote...