Capítulo XXIV

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            Sangue jorra de minha barriga e caio de joelhos no chão. Minha visão está turva, meu corpo fraco demais para me curar. Minha irmã atira na cabeça do homem e puxo a espada do ferimento. Deito-me, a dor agonizante consumindo o resto de força que ainda me resta.

Aita se aproxima, se agacha perto de mim e me observa por inteiro, olhando bem em meus olhos. Aí, ela nega com a cabeça e vai embora.

Luar está com as mãos em minha barriga, tentando curar o machucado. Olho para ela.

— Me cure.

— N-não consigo.

Seguro a gola de sua camisa; ela está tremendo.

Consegue sim. Eu não vou morrer aqui porque você acha que não consegue me curar. Eu não acabei de lutar nessa guerra. Então me cure, Luar. Me cure.

Tusso, lutando para respirar.

— Eu não vou reencarnar e perder minha chance de ajudar a todos.

Meus olhos começam a se fechar.

— Eu... não quero... reencarnar...


Tudo fica preto.

— Eu não quero reencarnar!— grito com um pulo.

Aonde está a dor que há pouco me consumia? Ponho a mão no local do ferimento; está tudo normal. Ao meu lado, Luar sorri, suada.

— Consegui.

A abraço.

— Conseguiu. Obrigada.

— Obrigada por acreditar em mim.

Sinto um vento forte, frio e aterrorizante. Meus olhos se arregalam e à minha frente está uma Alma do Vento. Uma Soline.

Sua cara de dor é impossível de não ser vista em meio à fumaça, seus olhos de culpa se destacam em meio a tudo. Luar recarrega a pistola e pego minha última flecha. A Alma do Vento levanta as mãos e minha irmã é jogada ao ares. Faço correntes saírem das sombras e elas tentam agarrar as pernas da Soline, sem sucesso. Seus ventos me jogam ao chão e Luar cai em seus ombros, enfiando a espada em sua cabeça.

Observo a aura azul saindo pelo ferimento dançando, emanando alegria.

— Livre. — diz minha irmã quando atinge o chão.

Enquanto vejo uma Alma do Dia fazer o sol se pôr, o sono me atinge.

— Está bem?

— Estou. Vá para a base, precisa descansar.

Concordo e saio pela escuridão.


Com o estômago cheio, mal consigo me manter de pé. Quando deito, nem o contexto de guerra me impede de dormir.

Eu corro pelo campo amedrontada, sozinha e toda machucada. Dos corpos das vítimas ao chão crescem girassóis e logo estou rodeada deles. Estão por toda parte. Olho em volta; estou em um grande vale. Das montanhas ao meu redor descem cachoeiras de escuridão — o que de certa forma me alivia.

Meus pés estão molhados? Estão. Estão molhados de sangue. Tento voar, mas estou presa ao chão. Sinto tudo tremer.

De cima das montanhas, Seu grande rosto aparece. As folhas de Seus cabelos estão amarelas e marrons e de Seus olhos descem rios. Seu rosto, antes vivo e verde, agora é cinza. Está cheia de cortes e sangra. Sangra o sangue de Seus humanos.

A Última AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora