Capítulo XV

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       Você é uma Alma. Você não pode sentir.

        Eu andava de um lado para o outro em meu quarto revivendo as palavras que Luar disse.
Não derrame lágrimas por uma dor que não é sua.
        Trinquei os dentes e respirei fundo. A passos largos, bati a porta do quarto e caminhei até o galpão 4. Quando abri a porta, todos olharam para mim.
 — Obrigada, Selene. — fiz um sinal chamando meu grupo.
 — Disponha. — respondeu minha amiga.
        Você não pode chorar.
        Então, eu me toquei.


        O galpão esquentava à medida que a quantidade das chamas aumentava.
        Do fogo, fumaça. Da fumaça, raios. Dos raios, guerra.
        Estendi as mãos ao chão e fechei os olhos. Ele, que antes era de madeira, agora era um espelho negro capaz de confundir a mente de qualquer um. O barulho das espadas se chocando era ensurdecedor, o som dos soldados correndo e das balas caindo no chão lembraram-me dos meus terríveis anos de soldado.

        Eu corro pelo campo de batalha assustada, machucada, abandonada. A poeira e o sangue derramados no chão me provocam calafrios. Ouço os gritos, o barulho das espadas, as bombas sendo jogadas cada vez mais perto. A minha visão embaçada pela fumaça tenta encontrar um rosto conhecido, algum olhar amigável. Em vão.
        A espada de bronze pesa em minha mão, a pequena pistola ameaça cair de meu cinto. Caio, batendo com a cabeça no chão.
        Na fadada tentativa de me levantar, tudo gira. Mais uma vez, vamos lá. Agora, de pé. Minhas mãos estão apoiadas nos joelhos e a espada, no chão, reflete o sangue das dezenas que já matei.
        Um homem corre em minha direção e num movimento desesperado, pego a espada pela lâmina. Com a força, sangue escorre de minha mão. Ele se aproxima. Com a mão boa, pego a arma e puxo o gatilho. O som é tão comum, só mais uma bala caída ao chão, só mais uma morte.
        O homem cai direto no chão e arranco a espada de minha mão direita.
        Os ralados e os cortes em minhas pernas me impedem de correr mais rápido. Cambaleando, continuo em movimento. Não consigo pensar direito, as noites em claro se mostram agora.                    Esfrego os olhos com as costas da mão machucada. Não consigo compreender o porquê de tudo. Qual o motivo dessa guerra?
        Estou sozinha no meio da fumaça, uma vida em meio a cadáveres. Aí, a vejo.
 — Violeta! — grito, correndo em sua direção o mais rápido possível.
        Ela me escuta e vem ao meu encontro.
        Nesse momento, lembro-me de como nos conhecemos. Amigas a vida toda, desde as brincadeiras de criança até o campo de batalha.
       No momento em que a abraço, no momento em que seguro sua mão, ouço o barulho de um K-40, grandes aviões que se adequam à cor do céu, impossível de serem vistos.
        Quando a bomba cai, aperto sua mão o mais forte que consigo.


        Nossas espadas se chocaram e Evie apontou sua pistola para mim. Com um simples movimento de telecinese, a arma voou para longe. Ela avançou com a espada, atacando e defendendo. Lancei chamas e a garota pulou para o lado. Roubei sua espada com meus poderes e Evie ficou desamparada. Com deboche, solto uma risada.
        Enquanto outra espada perfurava minha barriga, percebi meu erro. Eu foquei nela, apenas nela, dando abertura para o resto me pegar. Encarei a parte da lâmina que me atravessou. O ferimento ardia, doía e sangrava, mas sorri. As chamas e os raios sumiram. Viro e vejo Melanie.
 — Muito bem.
        Arranquei a espada e observei a ferida se fechar.

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