Eu estava morta ao fim do dia. Dispensei os alunos, mas continuei no galpão. Apoie-me em minha mesa, virada para as armas.
— Como me chamam para treinar um batalhão, — disse, sozinha — se nunca venci uma guerra?
— Você nunca venceu nenhuma? — perguntou uma garota e levei um leve susto.Virei e vi Evie.
— Oi, Evie.
— Você nunca venceu nenhuma guerra?Pensei por um instante. Deveria contar a verdade? Podia manchar a minha imagem de general, aí ninguém mais iria confiar em mim e iríamos perder de vez. Nunca gostei de mentiras, mas Evie transmitia uma sensação de segurança. Acho que podia confiar nela.
— Não. Sempre fui soldado e nunca venci.
Ela me encarou.
— E o que isso tem a ver? Você não estava no comando em nenhuma delas, certo?
— Certo.
— Com tantas guerras vividas, tantas mortes sentidas, acho que você ganhou um pouco de experiência para lutar, não?Sorri.
— Acha?
— Acho. Você tem determinação no olhar, força na voz. É muito capaz de guiar um exército.
— Obrigada, Evie.
— Não precisa agradecer, só falei verdades. Vejo você amanhã?
— Vejo você amanhã.Ela se virou para ir embora, mas perguntei:
— Evie, por que voltou aqui?
— Ah, esqueci meu casaco.Franzi a sobrancelha enquanto Evie saía e lembrei que a garota não usava nenhum casaco.
À meia noite, todos dormiam. A paz que rondava a noite era completamente diferente do que qualquer calmaria durante o dia. Corujas, riachos, estrelas, a lua.
Quando se é uma Alma da Noite, a escuridão iluminada pelas estrelas e pela lua torna-se uma benção. A noite renova minhas energias, meus porquês, meu ser.
Naquele silêncio escutei uma melodia, cantada muito baixinho. Avancei mais um pouco e reconheci o rosto. As flores ao seu redor brilhavam.
— Twila.A dona dos grandes olhos verdes olhou para mim.
— Nix. — ela se levantou e me abraçou — Como você está? As árvores me disseram que estava por aqui.
— Sim. Estou bem e você?
— É, tudo bem. Essa roupa, é do exército?
— Exatamente. Sou general do exército sudeste de Braza.
— Quanta responsabilidade.Aquele diálogo estava forçado e muito clichê, eu não queria conversar com Twila. Queria ir embora.
— Twila, eu... Tenho que ir.
— Por quê?
— Tenho um compromisso agora.
— Agora?Bufei.
— Olha, eu não queria ser rude, mas...
— Mas eu te lembro a Lune. — ela riu — Eu ia dizer a mesma coisa de você. Enfim. — a mulher pôs as mãos em meus ombros — Te vejo daqui a duas semanas. Eu e a Aita.
— Aita? — engoli em seco.
Twila piscou pra mim.
— Lembre-se dos bons momentos com sua irmã.Após isso, a Alma da Natureza encostou em uma árvore e desapareceu.
Ao meu lado, havia um lago que espelhava a linda noite. Peguei uma pedra oval e joguei. Ela quicou duas vezes e afundou.
Depois de duas horas caminhando, meus pés começaram a doer.
Deitei em minha cama com um blusão que não conseguia lembrar de onde viera e fiz pequenas chamas dançarem entre meus dedos.A sua chama interna é mais brilhante e mais poderosa que a minha. Não a deixe morrer. Nunca.
E adormeci sorrindo com a doce lembrança de Lune em meus sonhos.
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A Última Alma
Ficción GeneralA Mãe Terra as criou. As Almas. Seres criados à sua ideia de divinos, seres criados para proteger os humanos. Seres místicos, poderosos e... Perfeitos. Nix é a exceção. Mesmo criadas para proteger os humanos, muitos não as enxergavam como prote...