A Última Alma

Epílogo

        Eu fui feita para ser perfeita, mas nunca cheguei a ser.

        Durante toda a minha eternidade, eu busquei esconder a minha imperfeição, me espelhar e copiar as deusas. 

 — Eu estava perturbada demais para entender, ou até mesmo para sentir...

        Eu fui chamada para guiar um exército, treinar jovens e proteger a quase extinta magia. Eu nunca imaginei que isso me mudaria tanto. Pouco passava pela minha cabeça a chegada de uma irmã que quebraria sem dó toda a minha máscara de perfeita. 

 — Eu estava ocupada demais com uma declaração de guerra. 

        Eu temia a Mãe Terra com medo dela me condenar por ser imperfeita. Eu me escondia vivendo entre os humanos e evitando a presença tanto da Grande Mãe como das iguais a mim. Mascarava meu sentir, eu não podia ser igual à raça que nos tratava como divinos. Criei a frieza, imitei os seres ditos como perfeitos e certos. 

 — Eu não tinha espaço para amar e nem tinha como saber se era amor ou se ficar com você era só um ponto seguro. 

        Eu fui a Última Alma restante no campo de batalha, acreditei que o que eu lutara para proteger tinha sido completamente extinto. A minha ressaca da guerra era maior do que qualquer sentimento que pudesse existir. Eu enlouqueci, tropecei e quase padeci sob o peso da eternidade. 

        Estava com medo da guerra me matar, mas o que ela fez foi me arrastar para mais perto da ilha da loucura. Estou eternamente voltando, eternamente me curando. Eternamente me aproximando mais. 

 — Mas agora, uma ano depois de tudo, minha visão está mais clara e a ressaca, menor. Então, lhe digo, Evie: eu amo você. 

        A dona dos cabelos azuis, a Evie, o meu amor, abre um sorriso tão largo que acho que seu rosto vai explodir. Ela me beija e, dentre todos que já recebi, por que esse parece o mais completo? 

 — Eu também amo você!

        Talvez seja isso. Talvez a eternidade esteja fadada a andar de mãos dadas com a loucura. 

        Eu não sei, sei que a ainda não caí.

        Mas, até esse dia chegar, eu vivo.