Capítulo XX

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          Quando o sol desponta no horizonte, o chão treme com os passos do batalhão. Os tanques fazem barulho ao se movimentar e os helicópteros jogam vento aos que estão ao chão. Exército sudeste, 220 soldados. Cada grupo se dirige a um avião, grandes automóveis redondos capazes de resistir a ataques de bombas. Os assentos estão posicionados em círculo, e me sento de frente para a porta. Ponho a bolsa com as flechas sobre meu colo. Luar senta-se ao meu lado com uma armadura. 

          Assim que todos entram, a única coisa que é possível ouvir é o som do motor. 

          Decolamos.

   — No campo de batalha, — começa Luar  — eu não quero usar meus poderes, Nix. Se não conseguem me ver, não conseguem me controlar. Tenho medo.

   — Ninguém vai te controlar, Luar. Vão ter que passar por cima de mim primeiro. 

          Silêncio. 

  — Sabemos que estão amedrontados, — fala minha irmã — nós também estamos, e muito. Ter os pensamentos a mil, não pensar direito é comum. E... não se culpem se fizerem algo... algo dito como errado, 

   —  Escutem. — começo — Eu queria agradecer. Vocês treinaram e estão indo para uma guerra por nós, pelo nosso direito de existir, pela nossa liberdade. Vocês podiam simplesmente ter virado as costas e não se importado, mas não o fizeram. Doaram corpo e alma para nos ajudar, para nos salvar. Muito, muito obrigada.

          Eles sorriem. Evie, que está ao meu lado, segura minha mão com força.

          O avião balança com o vento.

— Chegando ao campo. — diz o piloto.

          Com a chegada ao chão, o avião solavanca. A porta se abre, revelando os outros transportes dos Lunines. 

          Unidos de Saarius, Argentus, Frantus, Niratus, Englos, Abumius e nós, Braza. Os Lunines, a lua que ilumina a noite, o sobrenatural. A magia.

          Ali eu vejo o exército completo de Braza. Um batalhão capaz de fazer qualquer um tremer até os ossos, jovens lutando por uma causa maior do que eles. Um grupo lutando para a história permanecer viva, para a lenda continuar respirando. Observo-os. Cada uniforme, cada armadura ou colete com a nossa bandeira, a bandeira das Almas, a cobra enrolada na lua.

          Alguém aperta meu braço esquerdo. Melanie. 

   — Srta. Campbell, eu... Eu estou com medo. — suas mãos estão suadas e o rosto sem cor.

   — Melanie, eu também estou com medo. Mas vou lhe contar uma coisa: é o medo que vai fazer você sair viva de lá. A ausência de medo não te faz corajosa. Corajoso é aquele que não deixa o medo dominá-lo, pois sabe que é mais forte que esse sentimento. E eu sei que você é corajosa, porque vi você treinando. Você tem força no braço, não hesita na hora de soltar uma flecha. Não tenha piedade dos que estão lá, porque eles não terão de você. 

          A garota me encara e, sem pensar, me abraça.

   — Muito obrigada, Melanie. 

          Quando ela se distancia, olho para meu exército. Melanie, Sabrina, Brian, Matheus, Evie, Karen, Maria, e mais duas centenas que nunca decorei os nomes, mas que sempre lembrarei dos rostos. 

—  Acho melhor você dizer alguma coisa. — fala Luar, vendo generais de outros exércitos fazerem o mesmo. 

— Melody? — seu olhar me encontra em meio à multidão — Pode fazer com que eles ouçam?

          Levanto voo e fico a quatro metros do chão, a uma altura em que é possível ver todos. 

— Eu gostaria de dizer... — levo um susto com o volume de minha voz, o que faz a Alma do Som soltar uma risada baixa — Eu gostaria de dizer que esses meses foram um presente, conhecer vocês foi um presente. Sei que já disse isso, mas sou extremamente grata por tudo que fazem por nós. Vocês são a nossa luz. Tenham coragem, lembrem de tudo que lhes ensinamos. Não tenham vergonha de pedir ajuda a um colega em campo de batalha, sabemos que vão precisar. Nós todos somos magia, nós todos somos a esperança. — pego minha espada de ferro, cuidadosamente talhada com escritura e levanto em direção ao sol — Nós somos os Lunines!

          Quando percebo, todos os soldados gritam, cada um em sua língua. No meio da gritaria pouso e Evie me abraça. 

   — Escuta. Nós somos Lunines, nós vamos vencer. — a dona dos cabelos azuis põe as mãos em meu rosto — Nós vamos continuar a vida depois disso, porque vai ter o depois. Vamos olhar para trás e ver como foi a nossa vitória, vamos olhar e ver como nos conhecemos, olhar e ver como lutamos por algo maravilhoso. — ela aproxima nossos rostos — Ok? 

   — Ok.  — respondo, com medo de nada daquilo acontecer.

          Então, ouvimos uma corneta soar. O barulho penetra em meus ouvidos como duas facas congeladas querendo alcançar as partes mais profundas das minhas cicatrizes.

          Ali, na nossa frente, estão os Solines. 

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HEYYY!!! 

Nesse capítulo quero agradecer à Ingrid <3 que desenhou essa flâmula maravilhosa, que fez minhas palavras se tornarem um desenho. Mt obrigada Gri! LOVEEE UU

A Última AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora