Capítulo XLIV

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 — Cigana? 

        Quando abro a porta a mulher está embaralhando as cartas, mas para e vem me abraçar assim que percebe minha presença. 

 — Olá, Nix. Estou tão feliz que tenha voltado! Você demorou para me procurar.

 — Sim, Cigana. Eu precisava de um tempo.

 — Um ano foi o suficiente?

 — Não, mas eu preciso seguir em frente. Não posso ficar de luto para sempre, porque afinal, sou eterna. 

        A Alma do Futuro sorri.

 — Como está a garota?

 — Como sabe dela? — exibo um meio sorriso. 

 — Eu sei muitas coisas.— ela vira rapidamente a cabeça ao som de um barulho alto— Káira! Sossegue! Eu fiquei de tomar conta dela, acredita? A Mãe Terra quer o Futuro ensine ao Tempo como viver. Que piada.— a mesma esfrega o cenho sorrindo quando escuta a pequena gargalhar.

 — O que é isto? — a menina segura uma adaga— Quero dizer, claro que eu sei o que é, mas me ensina a usar? 

 — Ela é cega...— começa o Futuro, correndo e tirando a arma da outra— mas apronta mais do que uma criança que enxerga. Vá brincar, Tempo! Tenho que falar com a Última Alma.

 — Evie está bem, Cigana. Está se recuperando. Estamos juntas. Estamos felizes. 

 — Que bom, minha querida. Agora sente-se, vou ler suas cartas. 

        A obedeço e ela pega o baralho. 

        Dessa vez eu não gelo, eu não suo frio. Dessa vez eu estou calma, tranquila com o resultado; eu sei que não vai ser perfeito. Eu também não sou. 

 — O anel e a chave.— um sorriso— Vejo uma relação, um amor. Vejo mãos dadas. — o sorriso se desfaz— A raposa e o sol. Cuidado, Nix. Abra os olhos para as coisas que parecem óbvias, fique muito atenta. A estrela e o lírio. Vejo um sucesso vindo do passado, uma coisa antiga. Consigo ver a Mãe Terra. Ouço sua risada. 

        Dou um riso.

 — A lua e o trevo. Escute sua intuição, ela fala com você, consegue te mostrar os problemas, aponta o que está errado. Os pássaros e a criança; olhe só! Eu escuto uma risada de uma criança, ouço ela rodar e rodar. Um menina risonha. 

 — Uma criança?

 — Uma criança. A Cigana e o caminho.— uma pausa— Não acho que essa seja você. Vejo uma mulher indecisa, instável. Ela tem medo do futuro, medo do presente. O coração e a carta. Sentimentos declarados, amor assumido. A cruz— mais um silêncio— e o buquê. Não cai ser fácil, Nix, as outras cartas mostram isso. Mas de qualquer jeito— minha amiga põe a mão em cima da minha— o seu futuro é feliz. Ele brilha. 

        Quando Cigana pega a bola de cristal, a interrompo, mais leve do que estava antes:

 — Não precisa, Cigana. Acho que agora tenho que escrever meu próprio futuro, tenho que viver sem saber o que vai acontecer. 

 — Tem certeza?— concordo— Bom, independentemente disso, vamos nos ver mais cedo ou mais tarde.— ela se levanta e me abraça.

 — Tenho que ir, Evie está me esperando. 

 — Eu sei. Aproveite a paz, Nix. Seja feliz.

 — Tchau, Káira!— a criança não me responde, então dou mais um abraço no Futuro— Nos vemos mais tarde.  

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