Capítulo XXXIX

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            Apoio as mãos no chão e tento me levantar; acho que quebrei a perna. A cura.

Respire. Respire. Respire.

Você sempre encontra forças para se curar, você precisa.

Curada e de pé, observo Demerato Makar. Ele está cheio de cortes e machas pelo corpo, assim como eu. Fico surpresa ao ver que ainda de mexe.

— Levante-se. — digo — Sobreviveu a uma queda dessa altura e já terminou? Podia jurar que era mais forte.

O Soline se levanta e me amaldiçoa com os olhos cor de âmbar. O ódio está desenhado em seu rosto e o cansaço se esconde atrás dele. Com um único movimento, Makar pega a espada caída ao chão e me ataca. Ele cai em cima de mim, a arma a pouco metros de meu peito, sendo apenas bloqueada pela minha. Seguro com uma mão o cabo, mas a lâmina está apoiada na outra. O sangue endurecido não vai me proteger por muito tempo.

— Quer saber o porquê de todo esse ódio? Hein? Quer saber de onde surgiu? — sua saliva respinga em minha testa suja e suada.

— Por quê? — a lâmina começa a furar a minha pele e talvez o grito seja de dor.

— Eu morava junto com a minha prima em uma cidade pacata à noroeste de Prátia, onde a presença de vermes como você não é comum. Até que ela apareceu.— ele para por um momento, acho que tentando se concentrar em não chorar — Eu não entendia direito como vocês funcionavam, até aquele dia. Estava brincando com a minha prima perto do bosque até que viu algo. Minha prima achou que era sua mãe, então correu até ela. Eu sabia que algo estava errado, eu sabia. Aí as visões dela começaram. Você sabe o que é para uma criança enfrentar todo o peso do passado e da culpa? As pessoas do vilarejo tentaram pará-la.— arregalo os olhos; a lâmina já rasga a minha mão — Mas poucas sabiam como detê-la. — Demerato para por um momento e respira — Sabe qual foi o resultado? Uma criança louca na vila, esse foi o resultado. Uma criança que tinha de tudo para ter uma vida feliz. Ela enlouqueceu, Alma. Ela enlouqueceu. Então, ainda acha que vocês exitem para proteger os humanos?!

— Essa era uma Alma defeituosa, Makar. Uma Alma que caiu sob o peso da eternidade. Nosso propósito, desde que os humanos surgiram, é proteger vocês. Proteger essa breve coisa que vocês chamam de vida!

No mesmo instante em que minha mão perde a força, fogo queima o rosto do Soline e ele rola para o lado.

— Feitas para nos proteger? Olha à sua volta, Alma. Veja o que fizeram. Quantos homens matou para chegar até aqui? Dezenas, talvez centenas? Feitas para cuidar de nós? Olhe os machucados e as queimaduras que deixou em mim. Vocês são uma farsa.

Eu ouço os pingos de sangue caindo no chão no momento em que ele pronuncia essas quatro palavras. Tudo está em silêncio.

Farsa. Uma farsa.

Fecho os olhos com força na tentativa de entender.

Vocês são uma farsa.

Nunca nenhum humano foi capaz de me fazer questionar a minha própria existência. A construção de uma identidade que se encaixasse com o segredo de uma imperfeição foi um trabalho de centenas, milhares de anos.

Demerato Makar tinha mesmo tanta verdade a ponto de me fazer questionar a mim mesma como Alma?

Mãe Terra, fomos mesmo feitas para cuidar de uma raça que nos despreza? 


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TANTANTANTAAAAAAAAAAAAAN!!!!!!

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AMANHÃ SAI OUTRO!

BJUXXX


A Última AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora