— Por que você sempre tem que se apoiar em alguém?— pergunta Luar enquanto atira.
Encaro a pequena bala jogada ao chão.
— Por que você sempre tem que se apoiar em alguém?— repete, segurando meu braço.
Por que eu sempre tenho que me apoiar em alguém?
— Não sou perfeita o suficiente para me apoiar em mim mesma.
Minha irmã me puxa com um tranco e me força a olhar para ela.
— Já disse para parar com isso. Você ser imperfeita não é o problema. Pode ser a solução.
Encaro seus olhos.
— As perfeitas foram mortas. Se apoie em sua imperfeição.
Concordo e, por incrível que pareça, lágrimas rolaram. Não eram lágrimas de tristeza. Eram lágrimas de raiva.
— Vamos logo.
Corremos.
Eu e Luar.
Uma imperfeita e uma consumida pela radiação.
Acho que temos uma chance.
Enquanto vejo o campo de batalha ficando para trás, consigo observar o topo da torre iluminada; ainda está bem longe.
Luar arma uma flecha, mas antes de soltá-la um pedaço de ferro atinge seu pescoço, um dos pontos vitais de seu corpo. A Alma da Noite ri e me olha.
— Não me cure, Nix. Eu quero que você continue e não pare. Seja a escuridão que vai guiar a luz. Eu espero você, vamos reencarnar juntas. Mas só se você não parar.
Aí, ela cai.
E eu continuo com o plano imperfeito.
Subo a montanha suada, com cortes e exausta. E sozinha, completamente sozinha.
As trincheiras preenchem o chão e o sol, nascido apenas pela metade, ilumina só uma parte do campo mostrando o que parecem ser os espíritos dos mortos.
Se apoie em sua imperfeição.
Por que eu não consigo?
Olho para a batalha. Magia. Onde está a magia?
— Ah, Mãe Terra, tudo foi em vão?
Então, eu a vejo.
Ela é a esperança, a vida.
A causa.
Vejo aqueles cabelos azuis desbotados ali, no meio da guerra.
A luz em meio ao caos.
O fogo na escuridão.
E talvez um futuro em meio à tragédia.
— Evie!
Corro até que, graças a um milagre da Grande Mãe, ela me ouve.
— Nix? Nix!
Afundo em seu abraço e que se dane se ao nosso redor caem bombas. Eu estou com ela, finalmente ao lado dela, finalmente em seu abraço.
— E-eu não consegui, Evie.— digo chorando— Eu não consegui salvá-las.
Evie segura meus braços e que queria que esse momento durasse para sempre. Como sempre, meu desejo não é realizado.
Sinto uma pancada muito forte na cabeça e tudo gira. Não consigo mais ficar de pé, borrões tomam conta de meu campo visual.
— Nix!
Evie não vai conseguir proteger nós duas. Eu sei disso. E ela também sabe disso. Só que ela se lembrou de uma coisa que eu nem sequer conseguiria pensar em meio as raios, chamas e dores. Então, a dona dos cabelos azuis começa.
— Hic ego sum, pro antecessores et Animae mortium orante, rogoque eis donum praesidii.
Estou aqui rezando para os ancestrais e Almas que já se foram e pedindo a eles o dom da proteção.
Sinto um vento muito forte e, quando o campo de força azul nos rodeia apago completamente.
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A Última Alma
Ficción GeneralA Mãe Terra as criou. As Almas. Seres criados à sua ideia de divinos, seres criados para proteger os humanos. Seres místicos, poderosos e... Perfeitos. Nix é a exceção. Mesmo criadas para proteger os humanos, muitos não as enxergavam como prote...