Capítulo XXXV

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 — Por que você sempre tem que se apoiar em alguém?— pergunta Luar enquanto atira.

        Encaro a pequena bala jogada ao chão.

 — Por que você sempre tem que se apoiar em alguém?— repete, segurando meu braço.

        Por que eu sempre tenho que me apoiar em alguém?

 — Não sou perfeita o suficiente para me apoiar em mim mesma.

        Minha irmã me puxa com um tranco e me força a olhar para ela. 

 — Já disse para parar com isso. Você ser imperfeita não é o problema. Pode ser a solução.

Encaro seus olhos.

 — As perfeitas foram mortas. Se apoie em sua imperfeição. 

        Concordo e, por incrível que pareça, lágrimas rolaram. Não eram lágrimas de tristeza. Eram lágrimas de raiva.  

 — Vamos logo. 

        Corremos. 

        Eu e Luar.

        Uma imperfeita e uma consumida pela radiação. 

        Acho que temos uma chance. 

        Enquanto vejo o campo de batalha ficando para trás, consigo observar o topo da torre iluminada; ainda está bem longe.

        Luar arma uma flecha, mas antes de soltá-la um pedaço de ferro atinge seu pescoço, um dos pontos vitais de seu corpo. A Alma da Noite ri e me olha.

 — Não me cure, Nix. Eu quero que você continue e não pare. Seja a escuridão que vai guiar a luz. Eu espero você, vamos reencarnar juntas. Mas só se você não parar

        Aí, ela cai.

        E eu continuo com o plano imperfeito.



        Subo a montanha suada, com cortes e exausta. E sozinha, completamente sozinha.

        As trincheiras preenchem o chão e o sol, nascido apenas pela metade, ilumina só uma parte do campo mostrando o que parecem ser os espíritos dos mortos. 

        Se apoie em sua imperfeição.   

        Por que eu não consigo? 

        Olho para a batalha. Magia. Onde está a magia? 

 — Ah, Mãe Terra, tudo foi em vão? 

        Então, eu a vejo.

        Ela é a esperança, a vida.

        A causa. 

        Vejo aqueles cabelos azuis desbotados ali, no meio da guerra.

        A luz em meio ao caos.

        O fogo na escuridão.

        E talvez um futuro em meio à tragédia. 

 — Evie!

        Corro até que, graças a um milagre da Grande Mãe, ela me ouve.

 — Nix? Nix! 

        Afundo em seu abraço e que se dane se ao nosso redor caem bombas. Eu estou com ela, finalmente ao lado dela, finalmente em seu abraço. 

 — E-eu não consegui, Evie.— digo chorando— Eu não consegui salvá-las.

        Evie segura meus braços e que queria que esse momento durasse para sempre. Como sempre, meu desejo não é realizado. 

        Sinto uma pancada muito forte na cabeça e tudo gira. Não consigo mais ficar de pé, borrões tomam conta de meu campo visual. 

 — Nix! 

        Evie não vai conseguir proteger nós duas. Eu sei disso. E ela também sabe disso. Só que ela se lembrou de uma coisa que eu nem sequer conseguiria pensar em meio as raios, chamas e dores. Então, a dona dos cabelos azuis começa. 

 — Hic ego sum, pro antecessores et Animae mortium orante, rogoque eis donum praesidii. 

        Estou aqui rezando para os ancestrais e Almas que já se foram e pedindo a eles o dom da proteção. 

        Sinto um vento muito forte e, quando o campo de força azul nos rodeia apago completamente.

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