Capítulo XL

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Minha mão cicatriza.

— E vocês não são, Makar?

O Soline me encara devagar.

— Vocês não são uma farsa? — faço uma pausa e caminho até ele — Você nunca percebeu, não é? Não existe um ser mais falso que o humano. Vocês tem a capacidade de serem uma farsa. Essa aptidão tão forte de ser uma mentira consegue contagiar até os seres mais perfeitos. — Demerato atira em mim, novamente sem me machucar — Sabe por que somos uma farsa, Demerato? Por causa da existência da sua espécie.

Ele me dá um soco no rosto, deslocando meu maxilar, mas a cura não para de funcionar.

— Vocês remoldaram a perfeição, mas há uma diferença entre mim e você. Somos uma farsa em situações extremas, matamos e nos rendemos à mentira em situações extremas. Os humanos nos massacram desde a Idade das Trevas. — mais um soco — Nós curamos a nossa própria farsa. Vocês se corrompem e caem com ela.

O chefe está farto de minhas palavras, então ele vem até mim e segura meu pescoço, me levantando.

— Vocês vivem por nossa causa. — continuo, perdendo o ar — Sua raça era para ter sumido há muito, ela se mata sozinha.

Demerato Makar trinca os dentes, seus olhos mostram o ódio enclausurado em uma sala sem porta.

— Olhe para o nosso símbolo, Alma. O sol e a estrela, a luz e o fogo. O poder. Agora olhe para o seu. A lua. A pedra iluminada pelo sol. Vocês não têm luz própria, são a sombra caminhando atrás da luz. Mais nada. Apenas... a... lua.

Minha pele fica completamente negra enquanto o ar sai de meus pulmões e não tenho certeza, mas acho que com o pouco de força que me resta faço correntes surgirem dos pedaços não iluminados pelo meio sol, as sombras dos espíritos. Elas agarram os pés de Demerato e os puxam, me soltando e me permitindo respirar. Faço outras correntes surgirem e elas se prendem em seus pulsos. Pego a minha espada, já mais suja e mais pesada que o normal.

Quando vejo Demerato Makar de joelhos preso por correntes de magia, ainda sinto um pouco de esperança. Me aproximo e seguro seu rosto com força.

— Cuidado. Atrás dessa lua existe uma cobra.

O momento parece durar anos e a espada, mais pesada do que todas que carreguei. O movimento aparenta ser lento e difícil, mas nada é como parece ser.

A cabeça de Demerato rola pelo chão fazendo um barulho que só eu posso ouvir. É o barulho da vitória.

Eu queria ele morto. E ele finalmente estava morto. Uma sensação de superioridade, felicidade e alívio me atinge e eu solto uma risada.

Isso faz de mim uma pessoa, uma Alma terrível?

A Última AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora