Capítulo XXIX

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            A neve está na altura dos meus joelhos atrapalhando meus passos. Tudo está confuso, estamos mergulhados na mais profunda perdição.

Skadi caminha por cima da neve e do gelo, praticamente sem deixar pegadas – parece flutuar. Sua perna está rasgada abaixo do joelho, mas isso não a afeta. De repente, ela para.

— Skadi? — pergunta Melody.

— Alaska.

Viro o rosto para a outra Alma do Gelo; é quase impossível vê-la no meio da neve. Sua pele é completamente branca com pequenos flocos de neve azuis desenhados. De suas mãos correm rios de gelo e neve. Skadi caminha em sua direção.

— Ei! O que está fazendo? — grita Luar.

Nossa amiga olha para trás. Seus olhos não estão mais cinzas, estão é completamente brancos.

— Não adianta mais, Luar. — digo — Não é mais a Skadi.

É o ódio caminhando pela neve.

Quando estende as mãos, a neve que estava no chão derrete e o céu clareia novamente. O mar volta a bater na areia com a mesma fúria de antes. Um furacão de neve e gelo cobre as duas, vê-las é impossível.

— Por favor Mãe Terra, tome conta de Skadi.— implora Lissa.

Armo uma flecha na direção oposta a do furacão.

— Acordem. O campo aqui fora ainda não acabou.

Lissa não se mexe.

— Twila?

Twila?

Um Soline se aproxima dela; atiro em seu peito.

— M-me desculpe, e-eu não consegui te salvar.

Não consigo entender.

— O que está acontecendo?

O barulho da lâmina da espada batendo no chão.

— Áurea.— diz Eura.

Lágrimas escoreendo.

— Harmony. — completa Melody.

A dor no peito.

A culpa.

O irreal.

— Nix?

— Evie?

Corro até ela.

— Você me abandonou, Nix.

Eu paro.

— Você me deixou morrer.

A mentira.

— Não. Não, não não!— meus olhos se enchem de lágrimas e estou prestes a cair. Evie se aproxima de mim e segura meu queixo, forçando-me a olhar seus olhos azuis safira.

— Você me deixou aqui, sozinha.

Evie está morta? Não, espere. Os olhos de Evie são castanhos, não azuis.

A ilusão.

— Você não é a Evie.

Ela para e me encara, fingindo uma cara triste. Então, gargalha uma risada que não reconheço, não é seu riso. Seu corpo se dissolve e volto ao mundo real. Olho para Eura.

— Áurea, não consegui te salvar. Me desculpe.

— Eura. — seguro seu rosto — A Áurea não tem que te perdoar por nada. Você foi a melhor irmã que ela poderia ter tido, eu sei disso. Tenho certeza de que ela sabe disso.

Suas lágrimas molham minhas mãos e ela pisca duas vezes.

— Isso não é real. É tudo uma ilusão, assim como ela. — aponto para um ser, uma Alma estranha acima de nós.

Alma da Ilusão.

Seus olhos são cinzas e os cabelos transparentes, quase invisíveis. Sua pele é da mesma cor dos cabelos, meio azulada. Abaixo dos joelhos, tudo vira fumaça.

— Twila! Por que está fazendo isso? — grita Lissa, ajoelhada com lágrimas nos olhos.

— Eu cuido da Ilusão ali, — diz a Alma do Vento — e você faz a Lissa acordar.

Corro até minha amiga.

— Lissa! Lissa, acorde!

A Alma dos Animais olha para mim, mas não me vê.

— Me desculpe por tudo, desculpe por não poder fazer mais. — começa — E-eu não fui a amiga que você esperava, não fui o que você realmente merecia. Não consegui segurar sua mão, desculpe por não conseguir te salvar. Amo você.

Preciso acordá-la, preciso fazê-la se levantar, mas por que não consigo?

— Lissa, não sou a Twila. Sou eu, Nix. Sinto muito por tudo isso. Saiba que ela te amava, vocês foram as melhores irmãs e companhias uma para a outra, eu via isso. Mas, agora, você precisa ficar de pé e honrar a Twila.

Então, Lissa me vê. Ela fecha os olhos, junta as mãos, se levanta e corre até Selene com a arma na mão.

Sinto um ar frio, o furacão finalmente se dissipou. Skadi cai ao meu lado, com uma estaca de gelo fincada um pouco abaixo de seu pescoço, tossindo. Grito seu nome, me ajoelhando.

— Vou te curar, tudo vai ficar bem.

A Alma do Gelo segura minha mão.

— Não me cure, me deixe desistir. Desculpe. Não consegui ser o soldado que você queria.

— Você é a melhor soldado que eu podia querer. Você é uma amiga, uma irmã.

Ela ri.

— Gosto de você, general. Atravesse essa carnificina. Nos vemos mais tarde.

Então sua aura dança. 

A Última AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora