Quarenta quilômetros. Não paro de correr; minhas balas estão quase no final. Sou jogada ao chão, algo pesado está acima de mim e minha pele arde. Uma rede. Uma rede banhada em chumbo. Empurro para cima com as mãos em uma tentativa falha. Apenas me machuco mais. Queima, dói e rasga meu membros. Pesado demais, cansativo demais.
Um puxão e um suspiro.
— De pé.— diz Luar— Convivo com isso no sangue, seus machucados vão sarar logo.
Agora estou de pé correndo. Uma mão aperta meu pulso com força e olho para trás.
É muito engraçado como tudo muda de uma hora para outra, como a vida põe o pé em sua frente só para você tropeçar. Em um instante você está contando para sua irmã sobre seu passado, sobre sua filha, e no outro te avisam que a guerra começou. Em um momento você está conversando com sua amiga sobre sua paixão perdida e no outro ela é um monte de cinzas que se espalham com o vento.
Eu penso que tudo poderia ser diferente se há dois segundos eu tivesse puxado ela para a esquerda ou se ela tivesse se abaixado. Mas a vida, imprevista e maldosa como é, não me concedeu esse desejo.
É assim que Lissa é morta.
A Alma dos Animais aperta meu pulso quando a bala atinge seu coração, o foco de seu ser.
— Não pare.— diz enquanto vira cinzas.
Eu quero gritar, mas perco a voz. Nenhum som sai, não sou capaz de emitir nenhum barulho. Estou quebrada em cacos, cada morte é um pedaço arrancado de minha alma.
— Vamos, Aurora.— digo, a puxando pela mão. Minha amiga está parada olhando as cinzas que se espalham— Vamos, Aurora. Falta pouco.
A Alma do Dia cambaleia e me segue.
Já se foram três. Três pedaços de mim já foram embora com a ventania. Três dos meus pilares ruíram e eu estou completamente bamba.
Melody grita e cai no chão; acertaram-na no pescoço. Sabem que só é possível vencer uma Alma do Som com a mesma desacordada. Injustiça pura. Covardia. Trapaça. Assim são os humanos.
Aurora fica entre ela e os que a acertaram e eu aponto a arma. Sem balas, armo uma flecha. Então Luar, vendo o que vai acontecer, atira na cabeça de Melody.
Quando a flecha do Soline atinge o coração da Alma do Som, sua aura deixou o corpo faz tempo.
— Antes reencarnada do que morta.
Talvez nós fôssemos perder, afinal. Talvez fôssemos todas extintas e todos os que nos defenderam, mortos. Talvez não haja mais esperança.
— Vamos logo, Nix!— grita Eura, mas não me mexo. Apenas observo a aura de Melody se espalhar e Luar correr junto de Aurora. A Alma do Vento me segura pelos ombros— Nix! Vamos logo, não vou te abandonar aqui! Corra agora, senão eu te arrasto e nós duas seremos mortas!
Aí, eu corro.
Penhasco.
Não, não, não. Impossível. Não olhamos para onde corremos.
É isso mesmo? O automático nos levará à destruição?
— Só pode ser brincadeira.
Abaixo de nós, o mar gelado beija a montanha.
Eura tenta pegar flechas, mas acabaram. Faço o chão virar um escudo negro, mas tudo parece ser em vão. Eles continuam vindo.
Vento, escuridão, chamas e raios. Correntes. Não dá, não há escapatória.
Eura segura meus ombros e olha em meus olhos. Suas pequenas sardas estão apagadas por causa da sujeira e sua orelha sangra, mas os olhos continuam os mesmos.
Os olhos cor de tempestade.
— Salve-se. Pule. Se voarmos seremos abatidas. Vá, Nix, Vá.
— Não! Não vou te deixar aqui para morrer!
— Vamos morrer nós duas se ficar aqui!
— Não me importo! Não vou te deixar se sacrificar igual a Lune fez! Eu não valho tanto para isso!
Eura trinca os dentes, os soldados se aproximam. Ela põe as mãos em meus rosto e acaricia.
— Você não vê, maninha? É porque te amo que quero que vá.
Então a Alma do Vento beija minha testa e, quando os soldados chegam, sou jogada para baixo.
Quando a espada atinge seu peito eu caio, ainda querendo ser carregada pelos ventos de Eura.
____________________
Heya... GENTE EU TÔ MUITO TRISTE, SÉRIO. ME DESCULPEM AAAAAAA
Hum... Sabe o que pode me deixar feliz? A sua estrelinha!⭐ E deixa seu comentário! E me segue no Twitter, @Warlix1!
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA 😭😭😭😭😭
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Última Alma
Fiksi UmumA Mãe Terra as criou. As Almas. Seres criados à sua ideia de divinos, seres criados para proteger os humanos. Seres místicos, poderosos e... Perfeitos. Nix é a exceção. Mesmo criadas para proteger os humanos, muitos não as enxergavam como prote...