Capítulo XXXII

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        Quarenta quilômetros. Não paro de correr; minhas balas estão quase no final. Sou jogada ao chão, algo pesado está acima de mim e minha pele arde. Uma rede. Uma rede banhada em chumbo. Empurro para cima com as mãos em uma tentativa falha. Apenas me machuco mais. Queima, dói e rasga meu membros. Pesado demais, cansativo demais. 

        Um puxão e um suspiro.

 — De pé.— diz Luar— Convivo com isso no sangue, seus machucados vão sarar logo. 

        Agora estou de pé correndo. Uma mão aperta meu pulso com força e olho para trás. 

        É muito engraçado como tudo muda de uma hora para outra, como a vida põe o pé em sua frente só para você tropeçar. Em um instante você está contando para sua irmã sobre seu passado, sobre sua filha, e no outro te avisam que a guerra começou. Em um momento você está conversando com sua amiga sobre sua paixão perdida e no outro ela é um monte de cinzas que se espalham com o vento.

        Eu penso que tudo poderia ser diferente se há dois segundos eu tivesse puxado ela para a esquerda ou se ela tivesse se abaixado. Mas a vida, imprevista e maldosa como é, não me concedeu esse desejo.

        É assim que Lissa é morta. 

        A Alma dos Animais aperta meu pulso quando a  bala atinge seu coração, o foco de seu ser. 

 — Não pare.— diz enquanto vira cinzas.  

        Eu quero gritar, mas perco a voz. Nenhum som sai, não sou capaz de emitir nenhum barulho. Estou quebrada em cacos, cada morte é um pedaço arrancado de minha alma. 

 — Vamos, Aurora.— digo, a puxando pela mão. Minha amiga está parada olhando as cinzas que se espalham— Vamos, Aurora. Falta pouco. 

        A Alma do Dia cambaleia e me segue. 

        Já se foram três. Três pedaços de mim já foram embora com a ventania. Três dos meus pilares ruíram e eu estou completamente bamba. 

        Melody grita e cai no chão; acertaram-na no pescoço. Sabem que só é possível vencer uma Alma do Som com a mesma desacordada. Injustiça pura. Covardia. Trapaça. Assim são os humanos. 

        Aurora fica entre ela e os que a acertaram e eu aponto a arma. Sem balas, armo uma flecha. Então Luar, vendo o que vai acontecer, atira na cabeça de Melody.

        Quando a flecha do Soline atinge o coração da Alma do Som, sua aura deixou o corpo faz tempo. 

 — Antes reencarnada do que morta. 

        Talvez nós fôssemos perder, afinal. Talvez fôssemos todas extintas e todos os que nos defenderam, mortos. Talvez não haja mais esperança. 

 — Vamos logo, Nix!— grita Eura, mas não me mexo. Apenas observo a aura de Melody se espalhar e Luar correr junto de Aurora. A Alma do Vento me segura pelos ombros— Nix! Vamos logo, não vou te abandonar aqui! Corra agora, senão eu te arrasto e nós duas seremos mortas!

        Aí, eu corro. 


        Penhasco. 

        Não, não, não. Impossível. Não olhamos para onde corremos. 

        É isso mesmo? O automático nos levará à destruição? 

 — Só pode ser brincadeira. 

        Abaixo de nós, o mar gelado beija a montanha. 

        Eura tenta pegar flechas, mas acabaram. Faço o chão virar um escudo negro, mas tudo parece ser em vão. Eles continuam vindo. 

        Vento, escuridão, chamas e raios. Correntes. Não dá, não há escapatória. 

        Eura segura meus ombros e olha em meus olhos. Suas pequenas sardas estão apagadas por causa da sujeira e sua orelha sangra, mas os olhos continuam os mesmos. 

        Os olhos cor de tempestade. 

 — Salve-se. Pule. Se voarmos seremos abatidas. Vá, Nix, Vá.

 — Não! Não vou te deixar aqui para morrer!

 — Vamos morrer nós duas se ficar aqui!

 — Não me importo! Não vou te deixar se sacrificar igual a Lune fez! Eu não valho tanto para isso! 

        Eura trinca os dentes, os soldados se aproximam. Ela põe as mãos em meus rosto e acaricia.

 — Você não vê, maninha? É porque te amo que quero que vá.

        Então a Alma do Vento beija minha testa e, quando os soldados chegam, sou jogada para baixo.

        Quando a espada atinge seu peito eu caio, ainda querendo ser carregada pelos ventos de Eura.

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Heya... GENTE EU TÔ MUITO TRISTE, SÉRIO. ME DESCULPEM AAAAAAA

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