3. Isso não é um Spa

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        Todas nós descemos em fila indiana do ônibus que tinha nos trago para Guaratinguetá. Eu imaginei um lugar onde só tivesse terra e lama, mas era totalmente ao contrario. Com certeza tinha lama em algum lugar por aqui, mas por agora eu via apenas a entrada da parte de fora. Totalmente gramado em forma de circulo e havia um avião enorme no meio, que representava que ali ficava à força aérea brasileira.

        Um oficial nos esperava um pouco mais a frente e logo assim que todas nós pegamos nossas bagagens nos orientou para onde deveríamos ir. A partir de agora, minha vida seria cheia de regras. Eu quase pensei em desistir, mas era tarde de mais para isso. 

― Eu sou o Tenente Ethan. ― disse áspero e polido. Nada de sorrisos e muito menos cumprimentos que envolvesse apertos de mão formais. ― É um é uma honra para nós termos vocês aqui para fazerem parte da força aérea brasileira.

        As palavras saiam de sua boca, quase que maquinalmente. Seu rosto era ríspido, ele parecia um robô programado ao invés de homem. Mais um pouco e acho que não demoraria muito para ele se tornar de fato uma máquina programada. Por um momento eu fiquei com medo de ficar igual a ele daqui a alguns tempos.

        Ele começou a caminhar e todas nós o seguimos adentrando no prédio branco da força aérea. Fomos para uma espécie de galpão onde ele mandou que ficássemos uma ao lado da outra. Eu olhei a extensão da fila horizontal de meninas, e deveria ter ali mais ou menos umas cem. Não esperava tantas, achei que seria a única maluca a vim parar aqui. 

― Digam seus nomes, idade e de onde vieram. ― ele parou a nossa frente, com as pernas entreabertas segurando os punhos atrás das costas, na típica posição de segurança de shopping. 

        E assim fizemos cada uma disse seu nome, idade e de onde tinham vindo. Muitas eram do Rio de Janeiro assim como eu e outras de São Paulo Minas Gerais e tinha uma d Santa Catarina. Assim que todas nos apresentamos ele ordenou que pegássemos as malas e o seguíssemos. Não disse para onde, só mandou o seguir e nós o seguimos.

― Esse será o alojamento de vocês. - Abriu a porta de metal e podemos ver a extensa fileira de camas beliches enfileiras uma ao lado da outra e dos lados da parede fazendo um corredor no meio. 

― Sejam rápidas isso aqui não é um Spa, muito menos colônia de férias. Aqui vocês terão hora até para ir ao banheiro. Deixem suas coisas e venham. ― Tudo que saia da sua boca era como se ordenasse. - Rápido... rápido. ― gritou e nos entramos correndo jogando nossas bolsas em qualquer lugar. 

        Ele ficou nos esperando em frente à porta da qual entramos. Algumas meninas reclamaram por estar cansada, mas aos sussurros, talvez com medo do tenente intimidador que nos esperava ao lado de fora ouvir e mandar pagar 20 flexões. 

― Vocês vão assistir a uma palestra para entenderem de fato do que se trata a nossa organização. ― Ele foi à frente e nós o seguimos novamente. Parecia uma excursão turística. 

― Ele deve ta com falta de sexo, não digo outra coisa. ― uma menina morena disse num sussurro perto de mim, fazendo eu e outras que estavam próximas. Não contemos o riso que abafamos com a mão. Para que o "Tenente Ethan" não escutasse. Não queria ser punida no meu primeiro dia aqui. 

        Não demorou muito e estávamos no auditório. Assim como ele disse. Havia outros oficiais lá e três deles eram mulheres. Sentamos e depois de todos dizerem que estavam honrados por nossa presença ali a palestra começou. Eles colocaram uma das mulheres para ser a palestrante do dia. Tomei aquilo como um meio de nos encorajar a continuar aqui. 

― Ola, meninas - ela sorriu para todas nós. ― Meu nome é Érica e sou capitã aqui. Eu cheguei aqui com a idade de algumas de vocês. No início, a adaptação é difícil, os treinos são pesados e cansativos, mas o aprendizado será grande para cada uma. Vou explicar para vocês sobre o que representa a força aérea brasileira. 

        E agora deu-se início a palestra que não foi nada breve. 

        Ela contou a história sobre como surgiu à organização da força aérea e depois foram passadas para nós NORMAS, ou melhor, dizendo regras. Foi-nos passado o que poderíamos ou não fazer dentro da organização. 

        O uso de adornos como: o uso de  maquiagem, roupas intimas e até mesmo o corte das unhas. Pareceu besteira para algumas de nós, mas tínhamos que segui-las para não sofrermos punições. Ela deixou isso bem claro.

        As normas eram: Uso, apenas de um colar, ou corrente de uma volta apenas, com espessura máxima de 5 mm.  Uma pulseira apenas com as mesmas características do colar a ser usado no mesmo braço do relógio. Relógio totalmente preto ou prateado, em tamanho discreto, um par de brincos pequenos e discretos, sem argola ou pingentes. Uma aliança prateada ou dourada, maquiagem em tons claros e utilizada com moderação, roupas intimas utilizadas com o fardamento branca ou da cor da pele a fim de evitar transparência e unhas com comprimento máximo limitado as pontas dos dedos, se pintadas o esmalte deveria ser de cor clara ou transparente.

        A intenção aqui não era seduzir os soldados. Isso foi dito por ela o que fez alguns até mesmos alguns deles rirem.

        Eu me surpreendi. Ainda poderíamos parecer mulheres um pouco elegantes no fim das contas. A meu ver pensei que estariam restritas todas as coisas que poderia ser fúteis para alguns, mas que para alguns também era essencial. Nós sabíamos que não tínhamos vindo aqui para ficarmos desfilando iguais a dondocas mimadas, mas eles entendiam que mulher é vaidosa e não precisava restringir tudo.

        Não era proibido relacionamento efetivo no interior da organização militar. Era de estrema obrigatoriedade comunicar verbalmente ao comando do seu esquadrão. Era proibido manifestar comportamento como: andar de mãos dadas, beijos, abraços, apertos de mãos prolongados, permanecer mais próximo que a distância de um braço estendido durante conversas, troca de olhares prolongados no interior da organização. Eram proibidas relações de acesso a alojamentos ou apartamentos de cadetes do sexo oposto. Tal acesso só era permitido em caso de revistas autorizadas pelo comando do esquadrão a ser revistado, ou em caso de emergência.

        Isso não teve importância para mim, eu não estava aqui para me relacionar afetivamente com ninguém. Eu ainda tinha esperanças de que no fim de semana quando eu fosse para casa eu conversaria com o Lucas, e resolveríamos a nossa situação. Ele estava com raiva aquele dia, eu entendia isso, mas com certeza tínhamos muito para conversar.

        Era proibido o uso de chinelos, shorts, bermudas, saias acima dos joelhos, camisetas sem mangas, miniblusas ou "tops", e deveria ser evitado o uso de calças excessivamente justas no interior da organização. 

― Não vão sair por ai deixando nossos oficias com vontade de agarrar você meninas. ― Uma das meninas imitou a voz de Érica quando estávamos no alojamento. ― Ela está é com recalque isso sim. ― disse com desdém e eu não entendi o porquê do recalque que ela tinha dito, a Érica era uma mulher linda. 

        As oito como tinham mandado estávamos prontas, com o uniforme que tinham nos dado. Uma blusa branca, saia azul abaixo dos joelhos, sapatos pretos e o cabelo preso em um coque. Um quepe azul em forma de barquinho de papel na cabeça era o único enfeite que podíamos usar no cabelo. 

Lembranças - CONCLUÍDO (SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora