69.Onze meses depois

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Lucas

"Flash Back

Corria mais do que eu podia com o carro Na estrada de terra, eu torcia para que o GPS estivesse me levando para o lugar certo. Lívia tinha escolhido um lugar bem distante, tinha arquitetado tudo com detalhes perfeitos até então.

Acho que foi Deus quem me guiou pelo caminho certo, o GPS ficou confuso algumas vezes. Sai do carro gritando desesperado por socorro e logo vieram nos socorrer. Levaram Mell e o bebê numa maca e eu agora torcia para que tudo ficasse tudo bem.

― O que aconteceu com vocês? ― A médica perguntou apressada, andávamos pelo corredor do hospital quase que correndo.

― Nós fomos sequestrados, ela entrou em trabalho de parto e teve o bebê. ― expliquei apressadamente a médica que me olhou assustada, ainda andávamos, olhou-me dos pés a cabeça com mais assombro.

Eu sabia que meu estado não estava nada bom, mas agora isso nada importava.

― Aqui você não pode entrar. ― me segurou bruscamente. ― Vejo que você também está machucado, eu vou pedir um enfermeiro para vir cuidar de você.

Entrou na sala e eu fiquei lá imóvel, senti que meu corpo todo tremia involuntariamente, eu tinha a sensação de que as coisas não estavam nada boas, mas eu ainda tinha esperanças.

Deitado inquieto na cama de hospital estava eu, com uma seringa enterrada em meu braço, meus pulsos com curativos, o corpo todo dolorido e apesar de terem me dado um calmante, eu me recusava a cair no sono.

― Você está bem melhor. ― era a mesma médica de antes. Tinha um sorriso disfarçado nos lábios e eu sabia que ela fazia aquilo para me tranquilizar.

― Ela... ― eu não queria dizer a palavra, ela me assombrava e trazia toda a dor que senti há uns tempos atrás de volta. Fechei os olhos sem vontade soltando todo o ar de dentro dos meus pulmões.

― O estado dela é muito grave, a gravidez dela era de risco e ela não poderia ter o bebê em um parto normal. Não sei como conseguiu. ― explicou-me.

Mell tinha sido forte a todo instante.

― Mas o seu filho está muito bem, você fez um ótimo trabalho. ― seu sorriso agora era mais verdadeiro.

― Ele não é meu filho. ― minha voz saiu fraca.

― Me desculpe, eu pensei que ela fosse a sua mulher.

Não, ela não era mais. Mas isso não vinha ao caso agora.

― Você me disse que foram sequestrados. ― a expressão de pavor em seu rosto voltou. ― Tem uns policias ai fora que querem falar com você, eu sei que você não esta em condições, mas são normas do hospital e eles precisam do seu depoimento. É até mesmo para ajudar a encontrar a pessoa que fez isso com vocês. Vou pedir para eles entrarem.― deu-me as costas para sair.

― Você poderia me fazer um favor? ― pedi.

Ela se virou lentamente.

― Sim.

― Você precisa ligar para o marido dela, ele deve estar muito preocupado.

Mell dizia que não, mas o filho era deles, eles moravam juntos e Daniel devia estar igual a um maluco atrás deles, eu me sentiria do mesmo jeito se soubesse que ela tinha desaparecido.

― Sim eu ligo. O nome deles e o número, por favor. ?― pegou a caneta no bolso do jaleco.

― O nome dela é Melyssa e você vai ligar para Daniel. ― falei o número e ela anotou.

― E o seu nome?

― Lucas.

Saiu e os policiais entraram. Eu expliquei tudo o que tinha acontecido da minha história com Mell, e da minha história com Lívia. Lívia tinha sumido e como eu disse a eles eu não fazia a menor idéia de para onde ela pudesse ter ido. Falei tudo o que eu sabia que pudessem a encontra-la. Dei o endereço da casa dos pais dela em MG, mas com certeza ela não estria lá. Ela não seria tão burra a esse ponto.

Meus pais já estavam aqui, os pais da Mell já estavam aqui, todos muito abalados com o sumiço, tanto dela quanto o meu. Minha mãe me disse que Daniel já tinha ido à delegacia antes prestando um queixa contra mim por achar que eu e Melyssa tínhamos fugido juntos.

― Ela vai sair dessa meu filho. ― as palavras da minha mãe eram animadoras, tentava me fazer acreditar. Chegou aqui igual a uma desesperada coitada, devia estar em frangalhos de tão preocupada. ― Mell é forte você sabe. ― me fez um carinho.

― Eu não posso perder a Mell também mãe. ― senti um nó na garganta meus olhos se encherem de lagrimas e não demorou muito para eu comesse a chorar.

Por mais que eu soubesse que ela não seria minha novamente, só em pensar em perdê-la me assombrava. Eu queria vê-la sorrindo, triste, alegre e principalmente viva.

― E o filho dela como está?

― Está muito bem. ― sorriu amistosamente. ― Ele me lembrou você quando era um recém-nascido. ― Forcei um riso, bebês sempre lembravam uma pessoa para todo mundo.

― Eu quero ir falar com os pais da Mell. ― me sentei na cama. ― Você me ajuda com o soro?

― Claro meu filho.

A mãe de Mell chorava sem parar, o marido a consolava e a irmã também ajudava o pai a consolar a mãe.

― Lucas! ― Alex riu a me ver. Saiu de onde estava e me abraçou.

― Ela vai ficar bem. ― disse profetizando porque era isso eu e todos ali mais queríamos.

A voz alterada de Daniel ecoou no corredor fazendo com que todos ali o olhassem, seus passos decididos, os punhos cerrados e alguma coisa me dizia que o soco que ele segurava era pra mim. Não tinha sido apenas eu quem tinha pressentido aquilo, Alexandra me abraçou com mais força como se quisesse me defender e meus pais o seguraram o impedido de me atingir.

― Se acontecer alguma coisa com ela Lucas eu te mato. ― esbravejou.

Eu não entendia porque ele me culpava, não tinham contado a ele o que tinha acontecido?

Flash Back Off"

[...]

Cemitérios não me traziam boas recordações eu estive aqui meses atrás e agora eu voltava. Miguel não entendia as coisas, andava pelo lugar com seus passos confusos sem saber onde estava. Tocou a foto no tumulo de mármore e riu.

― Mama. ― quase dizia a palavra mamãe corretamente.

Sentia saudades da mãe.

― Você ia gostar dela pequeno. ― peguei-o no colo. ― Pena você não ter podido a conhecer antes. Ela veria o quanto você é bagunceiro.

― Mama. ― resmungou e fez birra para que eu o colocasse de volta no chão.

― Vamos para casa, você deve estar com fome. ― fiz sua vontade e segurei em sua mãozinha para que andássemos juntos.

O coloquei na cadeirinha me certificando que estava bem preso dentro do carro e fomos para casa.

― O que você quer comer? ― olhei-o pelo retrovisor, brincava com um urso de pelúcia.

― Tatata prita.

Disse me e me fez morrer de rir.

― Batata frita. ― disse entre risos. ― Tudo bem, vou passar no Mc Donald's e compro pra você.

Eu tinha me apegado a Miguel, ele era pra mim como um filho.

Lembranças - CONCLUÍDO (SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora