28.Meninas boas vão para o céu, as más vão para onde quiserem

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Mell 

        Lucas me olhava com um olhar cansado e surpreso. Havia mais cansaço que surpresa em seus olhos.

― Como você entrou sem autorização? ― foi a primeira pergunta que fez.

― A Lili me deu um passe. ― mostrei. ― Marcamos de ir fazer as unhas bem cedo. ― balancei meus dedinhos na frente do rosto dele e passei trombando em seu ombro entrando e procurando por Lívia.

        Eu sei que tinha sido petulante em ir entrando daquele jeito, mas desde o dia da boite ele me tratava de jeito hostil, não tina porque eu esperar ele ser gentil e me convidar para entrar.

― Lívia não está em casa. ― disse áspero. ― Me devolve o passe. ― completou.

― Que isso Luquinha. ― falei com certo deboche. ― Vejo que ainda está zangadinho. O que você tem? ― cruzei os braços e esperei ele responder. Ainda estava parado na porta com a mesma aberta.

― Garota me devolve logo esse passe e vai embora. ― soltou o ar pesadamente e revirou os olhos.

― Então vejo que o problema é comigo. ― Arquei uma sobrancelha ao citar. ― Temos que conversar sobre isso. Não gosto que guardem rancor de mim. ― dei as costas pra ele e me sentei no sofá esticando as penas, as colocando em cima da mesa de centro. ― Senta aqui do meu ladinho Luquinha. ― bati no estofado branco de coro e abri um sorriso para ele que me olhava severamente com os braços cruzados agora.

― Não tenho nada pra falar com você garota. ―bufou virando o rosto.

― Claro que tem. É a segunda vez que você me chama de garota. ― arfei. ― Não que eu não tenha gostado, mas prefiro que as pessoas se refiram a mim pelo meu nome. Caso você tenha esquecido vou soletrar pra você: M. E. L. Y. S. S. A ou Mell, mas esse é para os mais íntimos.

        Ele passou a mão na nuca. Estava irritado. Aquele gesto para demonstrar isso ainda existia nele.

― Melyssa, não estou com clima pra seus joguinhos hoje. Será que da para você me devolver o passe e ir embora? ― disse vagarosamente como se soletrasse pra eu entender.

― Não. Não da não. ― gritei. ― É o que Lucas, nossa rapidinha não foi tão boa assim? ― soltei logo o que ele tanto queria evitar em falar. ― Só para te lembrar, acho que foi você quem me agarrou lá. 

― Cala a boca. ― gritou tampando os ouvidos. ― Aquilo não era para ter acontecido, foi um erro. Eu tenho uma noiva, você um namorado que é meu amigo e eu sou o culpado por tudo. Você acabou de me lembrar que quem te agarrou fui eu, e eu lembro disso.

        Eu fiquei com pena de vê-lo daquele jeito. Ele estava frustrado. Andou vagarosamente e se sentou na poltrona a minha frente passando a mão no rosto. Eu também tinha culpa. Acho que até mais.

― Ei. ― me ajoelhei perto dele segurando em seus antebraços. ― Desculpa, eu também sou culpada. ― ele levantou o rosto para me olhar. Guardei as minhas garras não tinha porque atingi-lo vendo que ele estava realmente mal com tudo aquilo.

― Mell, porque você não aceitou meu pedido de casamento?

― Lucas agora é tarde para conversarmos sobre isso. ― desviei meus olhos dos seus.

― Eu estou confuso, não sei mais o que fazer. Quando te vejo eu quero poder te odiar, mas quando você está perto de mim eu perco o controle. ― sua voz saiu fraca e eu me levantei me afastando dele. ― Eu ainda te amo Melyssa.

        Engoli a seco e continuei parada onde estava sem olha-lo e sem dizer nada. Aquilo era tudo o que eu mais queria ouvir sair de sua boca, mas agora assim como ele eu também estava confusa.

― Eu gosto da Lívia, mas não é a mesma coisa que sinto por você. ― continuou falando. ― Sabe o que estamos fazendo? Estamos nos iludindo, procurando algo em alguém que não nos completa completamente. ― Senti que ele estava de pé atrás de mim. ― Admite que você só está ficando com o Daniel para me fazer ciúmes?

― Lucas você seguiu sua vida com ela e eu estou tentando seguir a minha. ― me afastei, sua presença me incomodava quando ele ficava tão perto. ― Eu sei que errei em ficar com o Dani, mas foi como te expliquei, eu nem me lembrava dele, e eu estou gostando dele agora. ― me virei para olha-lo.

        Eu não acreditava que estava falando aquilo de verdade, o plano sempre foi atingi-lo, mas meus sentimentos pareciam estar confusos agora.

― Mell, eu sei que lá no fundo você sabe que sou eu. ― Ele deu passos firmes se aproximando de mim, segurando no meu rosto e me olhando no fundo nos meus olhos. ― Não adianta mentir, por que no final sempre será EU. ― enfatizou. ― Como sei isso? Por que no fim de tudo, por mais que eu esteja magoado com você pelo que fez, essa raiva já passou, eu entendi.

― Lucas, por favor....

― É você Melyssa, sempre vai ser você. Vamos para de mentir um paro o outro e ficar juntos?

― Eu não sei, eu preciso pensar. ― Me afastei indo para outro canto da sala. ― Tem toda essa mentira que envolve a gente, e eu de certa forma virei amiga. ― aspei com os dedos. ― da sua noiva. ― completei. ― Nem ela e nem o Daniel irão reagir bem com isso. 

― Eles vão entender....

― Não vão. Você sabe. Eu vou embora. Joguei o passe em cima da mesa de centro e sai pela porta ainda aberta.

        Agora eu estava confusa, sem saber o que fazer. Porque eu fui inventar essa loucura de seduzir Lucas. Droga! Droga! Mil vezes droga!

        Eu não sabia o que pensar e tudo o que ele disse fazia sentido. Era ele, sempre seria ele. Meu coração era dele, mas as coisas tomavam rumos diferentes e talvez eu não quisesse mais ferir as outras pessoas que estavam envolvidas nessa estória. Agora eu percebia o quão mesquinha e egoísta eu estava sendo em priorizar as minhas vontades e esquecer os demais envolvidos nisso.

Lembranças - CONCLUÍDO (SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora